sábado, 25 de maio de 2013

Contos de uma existência: Redenção



Nos vales secos da escuridão humana, jazem aqueles que se recusam a perdoar. Presos a espinhos de amargura, se debatem em amarguras viciantes, que não levam a lugar algum. Solidificados pela própria dor, são pedras lamentosas. Mas ainda assim, são humanos, embora tenham se esquecido disso. Uma alma perdida que foi deixada para trás, nos ritmos quase sem vida de um coração que está no chão em pedaços.
Num ressonar contínuo, lamurioso e auto piedoso, a alma busca por um consolo que não acredita existir. Em redor, apenas dor e sofrimento, sem a menor mudança de paisagem. São os traços de alguém, cuja face é um borrão distorcido na memória, que partiu há muito, rumo a caminhos que nunca se sabe para onde vão. Apenas se sabe que eles são sem saída.
Então, num dado momento, uma pequena pontinha de ideia começa a brotar. Com o tempo, ela vai amadurecendo, vicejando em meio a tanta escória que emana de um espírito enrijecido. Decidindo-se por se erguer, o que já não se esperava acontece: o perdão. A compreensão de que todo vilão acredita estar fazendo o que é certo, e de que todos somos passíveis de sermos vilões na vida de alguém. À medida que a certeza cresce, o ritmo se torna mais e mais vivo, enquanto os contornos da alma tomam cor, traços leves expulsando as sombras pesadas que antes eram uma capa pesada. 
Luzes que nascem, contornam, colorem o ambiente em redor. Então, o inesperado acontece. Num encontro de duas estrelas a queimar não mais de orgulho ou ódio, mas sim de compreensão, arrependimento e perdão, duas luzes que se fundem num brilho azul cintilante, de uma nova menina celeste que inicia nova vida. Nessa fusão de cores, o passado perde seu peso, embora não a sua força, dor e sofrimento. As lágrimas que brotam são da alegria sincera, aquela alegria que só se vê nos reencontros dos que se amam. Um momento esperado por séculos de existência, que se tornam apenas minutos passados, agora que tudo acabou.
Apesar de toda a dor não ser algo magicamente esquecido, e o ritmo dos tons diminuir à medida que a lembrança sombria toma conta dos pensamentos interligados, uma nova palavra toma forma e ação: a esperança de um futuro, já dantes esquecido, mas que agora passa a se tornar realidade, a cada passo na mesma direção. Não importa mais com qual velocidade se vai. Porque o que eu, o pequeno sonhador que relata uma história já não mais fictícia, sei que caminhamos juntos, no caminho que se deve caminhar, e de onde jamais se deve sair.
Não é o fim da história, apenas o começo que começa com uma única palavra onde cabem dois corações em um único destino: redenção.



Episódio 3 da Série "Contos de uma existência"
Parte 1

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