quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Arranha-céus




Vivemos sempre em busca de coisas grandiosas. Começa com notas boas, uma bom desempenho no vestibular, uma faculdade bem conceituada, um emprego que nos traga um bom salário... Sempre somos levados a buscar o mais, a querer estar no lugar número um.
Nesse meio tempo, construímos grandes alicerces para nossas vidas. Estruturas que suportam arranha-céus gigantescos de obras ao longo da vida. Castelos de pedra que são verdadeiras fortalezas contra o mundo. Mas então, de repente, começa a surgir aquele pequeno sentimento de que há algo errado. Como poderia haver algo errado, se deu tudo certo? A verdade é que, na busca que somos levados a empenhar, muitas vezes deixamos de sermos nós mesmos, para sermos nada mais que o número um.
Tudo acontece cada dia mais rápido. A adaptação tem de ser quase que instantânea, como um dispositivo USB, que se pluga à nova estação de trabalho e começa a funcionar. Não temos nada mais que esqueletos de obras colecionadas ao longo de nossa existência.
Daí surge esse sentimento de insatisfação, desânimo, solidão. Passamos tanto tempo pensando no que seria grandioso para realizarmos, algo que o mundo veja como incrível, que deixamos de ver os nossos pequenos detalhes cotidianos. Comer com calma, ouvir uma música, assistir a um filme, ou qualquer outra daquelas pequenas coisas que nos façam sentir que estamos sendo mais nós. Em um mundo onde cada vez mais se pede pela padronização do indivíduo, essa talvez seja a diferença que faz com que uns vivam, e outros apenas existam. Construir grandes obras, qualquer um faz. Mas deixar seu próprio espirito marcado nos detalhes desenhados em formas e cores é algo que só mesmo os gênios conseguem fazer.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Distância





Família, amigos, chegados. Colegas de classe, companheiros de provas, apenas meros conhecidos de vista. Na vida encontramos todo tipo de pessoas. Aquele que sempre quer saber o que você está fazendo, aquele que espera você chegar para contar, aquele que parece não estar muito antenado, mas do nada te surpreende por saber tudo sobre você, e ainda te divertir com as piadas bem sacadas que sabe fazer. Aquele que simplesmente fica calado, com um olhar observador, e sempre tem um comentário pertinente. 
Ou ainda aquele que você já conhece tão bem que telepatia deixa de ser ficção científica. Um olhar basta. Em contrapartida, existem os com as mentes escondidas, que parecem ter uma intenção, e só depois revelam seus intentos. Um olhar furtivo, e outros tantos ignorados sinais que só fazem sentido depois do fim.
Seja lá como for, encontramos sempre pessoas que deixam suas marcas. E outras que não deixam marcas, porque elas não se vão. Elas simplesmente ficam, aquecendo nosso frágil espírito nas noites solitárias. A distância não é algo que se meça em metros, quilômetros, sequer anos-luz. A distância é medida em sinceridade, em companheirismo, em fidelidade. Há muitos que estão longe mas estão perto, ao passo que os que estão perto estão longe. 
Quando se está na estrada, tudo fica mais claro. Os apegados irão querer te reter onde eles estão. Os falsos tentarão fazer com que você siga suas mentiras, pois para eles é pura verdade. Mas os que estarão contigo, sem que ninguém mais veja, estes são os que te amam. A verdadeira presença não se vê. Ela está em pensamento, em espírito, e apenas se sente. Numa tarde de sol, ou em um amanhecer ensolarado. Em um dia de neve, ou no meio da chuva. Andando de bicicleta pela floresta, viajando de ônibus num país desconhecido. Nas praias de um mar distante, ou até mesmo no show daquela banda que só você gosta. 
Aqueles que te amam estarão nestes momentos. Porque eles se encontram onde mora a sua felicidade. E, nos momentos de tristeza, suas vozes soarão como o canto dos anjos nos céus, a orar e trazer o conforto sagrado, o qual só vem das intenções sinceras de coração. "Estou com saudade" é algo fácil de dizer, e muitos farão isso. Mas é, possivelmente, um dos sentimentos mais difíceis de se sentir e, em geral, ela só é encontrada nos corações daqueles que quase nunca pronunciam uma palavra.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Formas e cores



Dizem que nascemos para crescer, ter uma família, sermos felizes. Concretizar planos, que alguns crêem ser nossos, outros crêem serem planos já estabelecidos antes de nossa própria existência. Cada um com sua crença, sua própria visão de mundo. Mas que, no final das contas, só se mostram como sendo diferentes formas de chegar ao mesmo local.
A despeito de tudo que se creia, de tudo que se tenha como certo. Existe um universo inteiro de coisas que não sabemos, tão infinito quanto nossa própria imaginação. Ainda assim, muitos montam seus próprios castelos de dogmas e, em redor deles, muralhas de certezas ásperas como pedra desgastada, que rejeitam qualquer viajante que passa por aquelas paragens.
Aos poucos, é possível ver como tudo é construído dessa forma. Quando pessoas erguem seus castelos uns pertos dos outros e de forma igual, unem-se em ligas chamadas sociedades, abrindo campanhas de extermínio umas contras as outras. O que importa é a própria verdade absoluta de cada um. Ao se fecharem nas suas fortalezas, não deixam apenas de ver o mundo. Não deixam, também, que o mundo as veja.
O medo de se mostrar, ser o próprio eu, toma conta de todo o espírito. Porque ele deve se encaixar e, mais que isso, fazer com que o mundo se encaixe à sua maneira. Não interessa se a peça é quadrada e o buraco redondo, ela há de passar, porque alguém disse que era assim. Não interessa se é feito de carne e sangue o alvo do outro lado da muralha. Ele tem de morrer.
Assim segue a humanidade. Porque nos achamos donos da verdade o suficiente para definir que o outro não deve existir por ser um mal ao mundo. E assim mudamos suas ideias, desconstruímos suas culturas, moldando-os incessantemente à forma perfeita de ser. Não nos perguntamos onde é que está o livre-arbítrio ao qual todos temos direito. Não sabemos respeitar quem simplesmente não consegue ser igual aos nossos tolos pensamentos. Apenas deve ser. Mais que isso, agimos com uma loucura desenfreada, de quem vê à frente não mais um indivíduo, e sim um território a conquistar.
Apenas nos esquecemos que almas e corpos são donos de si, e não uma propriedade desocupada que devemos apropriar. Talvez, torço eu, um dia ainda consigamos aprender isso.