quinta-feira, 8 de outubro de 2015

O inferno são os outros


Racista. Homofóbico. Elitista. Machista. Hoje em dia é quase impossível entrar na internet sem se deparar com alguns "istas" por aí, espalhados por todos os cantos. Os erros são colocados para serem caçados e exterminados, como aqueles velhos bandidos de clássicos filmes de faroeste. Tudo parece estar seguindo rumo para melhorar, já que estamos apontando aquilo que está errado em nossa socidade. Um post errado no Twitter, e você é o meme da semana, o babaca da vez, o boneco de Judas do ano a ser malhado.
É sensacional saber que hoje em dia existem muito mais direitos com relação a mulheres, homossexuais, negros... Tudo isso faz parte de um processo de evolução da vida em sociedade que na verdade só traz benefícios pra todos nós. Porém não é totalmente certo que apenas essa postura de vigilante social servirá de solução para seguirmos rumo a um futuro melhor. 
Estamos tão ocupados cortando os males do conservadorismo que mal paramos para ouvir o que nós mesmos estamos dizendo. Ou o tom que estamos usando. O que importa é calar o mal, extirpar o mundo desses preconceituosos da Idade Média. E então surge a contradição entre defender a reeducação daqueles menores infratores da periferia, e não ter a paciência de explicar a alguém a importância de um governo que não seja influenciado por um grupo religioso. Estamos tão ocupados em ser diferentes, que não percebemos que já nos tornamos iguais, apenas com outros alvos, outras desculpas, outros princípios morais.
É preciso garantir que todos tenhamos os mesmos direitos e sejamos tratados de forma igualitária. Isso é uma questão urgente, tão urgente quanto o era cem anos atrás. Mas enquanto apenas os outros forem o problema, e nós formos os integrantes de grupos seletos destinados quase que por natureza a purificar o mundo do mal isso será apenas um sonho futuro. A linha que define justiceiros e heróis é separada por sua capacidade de lidar humanamente com as pessoas mesmo em situações adversas, naquelas em que parece que tudo está meio turvo e escuro. Não podemos nos esquecer que estamos lidando com outros seres humanos, com suas histórias, suas ideias e crenças, e que não temos o direito de agir simplesmente como que perante a um monstro execrável. Ao contrário de como agimos no dia-a-dia, o inferno não são os outros. Não podemos nos esquecer de ser humildades, reconhecendo a nossa posição dentro desse mundo, tão miserável quanto a de qualquer um dos montros "istas" que tanto insistimos em perseguir. No fundo daquela pessoa horrível que figuramos, existem luzes que podem brilhar, e flores que podem vir a surgir e gerar frutos. Tudo depende de como a tratamos, e de como cuidamos da terra em seu redor.