domingo, 28 de setembro de 2014

Dos outros


Aquela fúria tão bela
De um vulcão que em chamas jorra fogo de suas entranhas
Ventos que um cone no ar formam
Uma forma elegante, pomposa só quando em terras estranhas

Fotos belas de uma viagem pelas montanhas
Estrelas brilhantes, no espaço fazem o seu redor em chamas
Lágrimas de alegria
No final da conquista que durou uma vida

O troféu na mão do nadador
Cujas cãibras de cansaço são invisíveis para o telespectador
Um casal que ao fim da vida com uma bela família chegou
Mas cujas batalhas sofridou ninguém mais pelejou

Aquele cientista visionário que o mundo revolucionou
Mas cujas noites sem dormir ninguém mais testemunhou
Os mártires que na história para sempre estão marcados
Mas cujas penas sofridas são apenas pensamentos apagados

Do conforto da própria existência o externo é sempre desejável
Pois a pedras do caminho já foram feitas castelo inigualável
Dos horrores das noites em solidão
Restam apenas memórias, que só aqueles as têm, também as sentirão
Porque quando de longe o suficiente
Tudo parece uma fonte de águas nascentes
E mesmo a noite parecerá mais clara
Pois só quem a presencia saberá o quanto ela é solitária

sábado, 13 de setembro de 2014

Propósito


Há aproximadamente dois mils anos, uma verdadeira revolução teve começo. Não destas dos livros de história, feitas com armas e discursos inflamados. Não destas que erguem algumas pessoas acima das outras, e que juram fazer uma justiça que nunca chega. Esta foi uma revolução que começou dentro das casas, correndo de coração para coração, espalhando-se como a luz de um novo alvorecer. 
Naquele dia fatídico, houve um sinal para todos. Pois, ao contrário do que se dizia sobre merecimento, atitudes abençoadas que condenavam ou não o indivíduo, surgiu a mensagem de que, independente do que se fosse, havia um amor maior no qual cabia isso tudo. No dia em que aqueles braços foram abertos, eles não abraçaram apenas uma parcela eleita: eles abraçaram o mundo inteiro. 
Desde então, em meio aos cantos escuros, ou nas praças públicas, ou dentro dos lares, surgiram aqueles que viram a luz, e se fizeram espelho dela. O que foi mostrado é que, independente de onde se nasceu, do que dizem a seu respeito, ou do que tentam fazer com que se seja, se pode ser mais. Se nasceu para ser mais. 
Então, entregues de alma e coração, continuaram sua jornada. Quase sempre sem entrar para a história, pois ela é feita de conquistadores, que nem sempre são realmente vencedores. E hoje ainda estão por aí, mostrando para aqueles à sua volta um novo motivo para viver. Sem admoestação, sem palavras gritadas de forma agressiva, mas com a calma do exemplo diário, pois as atitudes falam muito mais do que palavras, e alcançam muito mais que os limites até aonde o som pode ir. 
Então, aprendendo a ser menos para plantar mais, se vive dia após dia. Sabendo-se que, apesar de todas as imperfeições que se tem, e de todas as coisas pelas quais o mundo te apedrejaria, há alguém que não se importa com nada disso. Alguém que se fez luz e ao mesmo tempo caminho, alguém que se fez verdade e ao mesmo tempo compreensão. Alguém que entende melhor que todos nós sobre como o mundo pode ser injusto e perverso. 
Então, sem medo e sem vergonha, a porta está aberta. Passar por ela é se entregar de novo todos os dias, avançando um pouquinho a mais, e jamais se esquecendo de levantar também aqueles que se encontra no meio do caminho. Nenhuma vitória é de fato verdadeira quando conquistada sozinho, e nenhum verdadeiro vencedor usa de sua vitória para diminuir a capacidade dos outros. Ele a guarda em seu coração, e permite que ela inspire os que ainda não têm forças para seguir sozinhos. Isso é amar, isso é viver. Questionar-se todos os dias sobre aonde é que se pode chegar, sem deixar de respeitar aquilo que se é. Pois o que sabemos é que somos obras sagradas, daquelas que não foram feitas para serem tratadas como qualquer velharia por aí. Reconhecer no outro a bondade que ele lá dentro possui não é um dom especial, isso deve ser uma atitude constante. Pois se a vida fosse feita para encontrar condenados e jogá-los aos cães, nós mesmos seríamos os primeiros da fila.
Dessa forma, assim como há dois milênios atrás encontramos braços abertos para sermos amados, devemos também tentar manter os nossos braços abertos, sem medo nos expôr aos pregos e lanças com os quais quiserem nos perfurar. Não existe personificação mais perfeita da atitude de amar, que expôr o próprio coração diante daqueles que estão à nossa frente. Alguns podem até querer nos agredir, outros irão distorcer aquilo que dissemos, mas outros, outros irão entender cada palavra, e tornarão elas em vivência, levando ainda mais além aquilo que a nós mesmos deu vida verdadeira. E por estes qualquer sacrifício vale a pena, pois uma vida tirada das sombras é motivo de alegria por toda a eternidade.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Lágrimas



Todas as manhãs acordar e sair de casa
Todas as manhãs voltar a se aventurar por esta estrada
Ruas com rostos que não conheço
Mas que julgam a felicidade que acham que não mereço

É duro ver que mesmo o mais sincero olhar
Não seja o que primeiro vêm procurar
É duro todos os dias vir a ler
Aqueles que te odeiam por qualquer coisa que você tenha vindo a ser

Não importa para onde quer que você vá
Há sempre os que julgam, os que fazem questão de te odiar
Os que furam a fila porque são mais dignos
Que não exitam em criar a alcova para seus próprios filhos

E enquanto insistem em destronar realezas mundo afora
Quem ainda tem coração apenas senta e chora
Porque ainda é muito mais fácil apontar o dedo e acusar
Que estender uma mão amiga para ajudar

E enquanto escolhem quem é digno ou não do amor
Destroem almas, e não vêem que só semeiam a dor
Sequer se perguntam se não dói ser tão odiado
Se não dói tanto ouvir que se tem o fim já traçado

Enquanto calam a voz da dita imundície
As rosas perdem suas pétalas, até os pássaros se calam em respeito
Enquanto nos céus os anjos olham
E perguntam se ainda temos jeito

Em um mundo que é tão fácil contra o outro se irar
Parece mera utopia
Alguém com quem se possa apenas conversar
Morremos um pouco mais a cada dia
Em que descobrimos que já não podemos nem amar

domingo, 7 de setembro de 2014

Independência

 
Hoje fazem 192 anos que o Brasil se tornou independente de Portugal, caracterizando-se como um Império, não obedecendo mais às ordens da coroa portuguesa. "Independência". O que exatamente essa transformação segnificou e significa para o povo? Afinal de contas, nós cidadãos somos não só a maioria da população, como também aquilo que constitui e caracteriza o país.
A princípio, para o povo, o processo de independência não significou uma tomada de autonomia para si próprio. Ainda havia lá um imperador, a dar as regras de como tudo deveria funcionar. Apesar de todas as mudanças que obviamente se seguiram, e culminaram inclusive na própria Proclamação da República, o povo ainda continuava com uma mesma forma de pensar: havia um poder centralizado em uma pessoa, e esta pessoa deveria prezar pelo bem-estar de todos. E, caso as coisas andassem mal, a culpa seria unicamente do seu trabalho mal-feito.
Essa mentalidade um tanto quanto patriarcal, tendo a figura do chefe de estado como único responsável pela vida de todos, mesmo em 192 anos de nossa existência como território independente, e não mais como colônia, parece não haver saído da mentalidade geral. Com o advento da República do Café com Leite, o Período Vargas, seguido dos períodos populista e militar, não vieram para apagar essa imagem de que o presidente é o salvador ou o algoz da pátria. Ainda hoje se escolhem líderes, sem sequer se lembrar que o país é constituído por várias esferas de poder e, principalmente, que o presidente cuida apenas do Poder Executivo, enquanto que os poderes Legislativo e Judiciário soam como meros coadjuvantes do poder.
No jargão cotidiano de que "política, futebol e religião" não se discutem, acabamos por ver essas três coisas como algo parecido, e então não sabemos separá-las. A escolha e defesa de um candidato é feita com o mesmo caráter meramente passional que de um time de futebol, e a sua defesa é feita com o mesmo ardor e fé com o qual se defende a própria religião. E, ao se tentar debater visões diferentes, saem apenas rótulos vendidos pelas esquinas, palavrões de estádios de futebol, e o outro é visto com os mesmos olhos que se olha a um condenado ao inferno. E, por fim, quando as coisas vão mal, o dito salvador é rebaixado à segunda divisão da opinião pública, e "deposto", como que a um imperador que não cumpriu seu trabalho. Surge então um novo "messias" salvador, no qual se deposita toda a fé, num ciclo de ascenção e queda, enquanto a responsabilidade pela vida no país é terceirizada, pois assim é mais fácil se encarar à noite no espelho de casa: "Estou cercado por idiotas."
Acredito que hoje, apesar de ser sim uma data importante para o país, para o povo em geral ainda é apenas uma comemoração simbólica. Enquanto o presidente for visto com os mesmos olhos que se olha a um rei, viveremos no país da "República dos Pais e Mães da Nação", no qual a época eleitoral se resume a promessas tão vazias que ultrapassam os limites da infantilização do cidadão. Enquanto o indivíduo se considerar uma mera vítima do sistema, e jogar a responsabilidade de tudo nas mãos dos outros, bem como a culpa por tudo que acontece, não poderemos verdadeiramente comemorar o dia da independência. Mudar o nome de colono para cidadão é fácil, o desafio mesmo é pensar e agir todos os dias como um.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Inverno



Andando pelo mundo
Vendo histórias, a nossa história, a história dos outros
Vi que o jardim no qual cresci não é tudo
Vi que é preciso levar rosas para tornar os corações mais puros

No campo soldados em lados opostos de uma campina
Feras que pareciam se odiar, pois eles queriam apenas se matar
Mas olhando em um lado e depois no outro
Vi crianças perdidas, olhos tristes que não conseguiam parar de chorar

Nas ruas cartazes e vozes que gritavam
Enquanto alguns outros seguiam seu rumo
Sem ligar, eles aos primeiros ignoravam
Eram as vozes dos indignos, aqueles cuja vida saiu do dito prumo

Enquanto os insultos são lançados pelo ar
E a atmosfera se carrega da fumaça negra de nossas mentes
Este é mesmo um lugar difícil de se estar
As mãos queimam ao tocar estas palavras tão ardentes

Parece que o mundo vai se fendendo aos poucos em lados
Parece que do nada e sem critério
O destino começou a jogar dados
E quer nos brincando de desvender seus mistérios

E enquanto decido se cedo ao pesar ou se continuar a viver
O tempo passa, e os dias se tornam de novo mais curtos
Sinto que os ventos gélidos querem mais uma vez voltar
E acordo então para mais uma vez sonhar com absurdos

Sem lutar contra esta natureza
Minha amiga, dentro de mim é um pouco a mais de gentileza
Sem deixar de ver ali uma chama a cultivar
Que nem mesmo o mais frio inverno será capaz de apagar

Me vem à então aquela voz a me lembrar
Que devemos ser casa
Um abrigo aberto para quem precise descansar
Então mais uma vez acendendo a lareira do meu lar
Venha cá, irmão, pois ainda tenho um pouco de verão para compartilhar