segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Bomba-relógio



Você tem 2 minutos. Não importa o que houve antes, os acontecimentos te guiaram até ali. Não importa se você gosta ou não, a responsabilidade é toda sua. Ainda que não tenha sido você o responsável por aquilo tudo, o que acontecer depois será de sua responsabilidade. O tic-tac enervante toma conta de sua mente, e as mãos trêmulas decidem o que fazer.
Rapidamente, você olha em volta, enquanto toda a sua vida passa num flash diante de seus olhos. Mantendo com muito custo a concentração, tenta achar alguma lógica na sua decisão, mas a verdade é que não tem a mínima ideia da dinâmica daquilo que enfrenta. Só sabe que, por algum motivo, você caiu ali, e só cabe a você evitar que tudo se vá pelos ares.
 1 minuto, e você sente o seu coração parar. Você precisa de alguma forma, cortar o fio que alimenta aquela ameaça, mas não sabe qual deles escolher. Não tem ciência se irá apenas acelerar o acontecimento, ou evitar que tudo, inclusive você, se destrua. Porque não foi uma escolha sua estar ali.
30 segundos, e suas mãos tremem violentamente. O coração já está na garganta, e você simplesmente encara imóvel tudo à sua frente. 15 segundos, e então, fechando os olhos, segue um esboço de intuição que momentaneamente escolhe um dos dois fios a cortar. O alicate estala, e o fio se parte. O mundo pára naquele milésimo de segundo que segue a sua decisão, e tudo que acontecerá depois será mera consequência do que fez.

Sendo capaz ou não, sendo opção sua ou não, muitas vezes é preciso fazer escolhas que podem nos levar "à morte" ou a continuarmos vivos. Mas o mais importante nessa experiência é que, depois de tomada a decisão, ainda que viva, não se é mais o mesmo. Porque decidir entre uma e outra opção é decidir entre um e outro dentro de nós mesmos. Não escolhemos o fio vermelho ou azul. Escolhemos o nosso eu que diz "fio vermelho" ou "fio azul". E isso, apesar de sutil, faz toda a diferença nas nossas vidas.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Terremoto



Vive-se sobre a paisagem tranquila
Dia após dia, segue-se a vida
Deixando ao encargo do acaso
Tudo o que se passa do nível do solo para baixo
Ignorando o que não queremos ver
Deixando para o amanhã tudo aquilo que devíamos temer

Então de repente fende-se o chão
Já não encontramos apoio, não encontramos uma direção
O que era sólido e imutável
Agora dobra-se qual brinquedo desmontável
Caem velhas construções
Não resta mais que pó dos antigos casarões
Porque dia após dia, a tensão foi acolhida
E agora se parte a rocha que foi ferida

Liberando todo o ardor que não se pode esconder
O terremoto sacode tudo que pode se mover
Nada parece se encaixar
O que era terra seca agora vira mar
Uma drástica mudança que não se pode conter
Tudo muda até onde os olhos podem ver
Lembrando que aquilo que não vemos
Não é sempre o que devemos esquecer

Findado o momento do terror
Caímos nos chão, em estado de torpor
Pois nada mais é como parecia ser
Já não se sabe nem para onde se mover
O grito de dor que ecoou
É tudo que o incauto ignorou
Vemos que não adianta mais fingir
A mudança chegou, e não há como mais fugir

Recomeçando a partir do que restou
A terra molhada é chão que o mar ainda há pouco lavou
Cantando hinos de renovação 
Fé e coragem é tudo do que posso dispôr
E em silêncio eu começo uma oração
Ecoando em meu íntimo vem um novo tom
Que aos poucos me vai trazendo a explicação
A mostrar que muito mais que destruição
Esta é a perfeita obra da criação

sábado, 18 de agosto de 2012

Naufrágio



O céu se fecha, e os trovões rimbombam pelo céu. As ondas se levantam, e a espuma salgada do mar agride o pequeno barco em que estamos. Lutamos para tirar a água, porque ela se acumula cada vez mais dentro de nosso pequeno porto seguro em meio a toda aquela imensidão. O escuro atemoriza, porque a única luz que temos é a dos relâmpagos a incendiarem o céu. Então, no meio de nossa batalha, um deles atinge o mastro. O barco se parte, e a embarcação cede, não restando nenhum outro caminho senão o mar.

Ainda atônitos pelo susto, lutamos com cada músculo contra a força das ondas. O gélido abraço cada vez mais forte segue paralisando os braços, as pernas, e o cérebro começa a fraquejar. Porque ninguém vive em meio a tanto frio, sem um apoio para os pés, e uma luz que guie seu caminho. A escuridão total leva à inexistência, pois como é possível distinguir o redor, se já não podemos ver nem a nós mesmos?

Não restando mais esperança, seja pelo motivo que for, nos entregamos. Porque não temos força para prosseguir, não sozinhos. Não perante tamanha adversidade, porque somos pequenos demais para algo tão abrasador. E, neste momento em que nos entregamos, olhamos por uma última vez para o mar, encontrando inúmeras outras pessoas que se encontram na mesma condição. Pensamos em como a vida é dura, e em como ela pode ser injusta.

Então, se destacando no meio daquela multidão de almas em desespero, vemos uma que se destaca sobre as águas. Um vulto que caminha levantando os outros. Acreditando que o frio e a água que engolimos foi o suficiente para retirar nossa sanidade, nos entregamos, nos deixamdo levar para as profundezas do mar, guiados pela certeza da racionalidade que diz que não há mais como viver...

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Aventura Infantil


Em tons de música fina
A paz qual pipa dentro de mim se enpina
Bandeira nobre que sustenta 
Tudo que há dentro de mim
Meus olhos que esses dias viram os teus
Ou terão sido apenas reflexo no espelho dos olhos meus?

Findando um caminho que não existe
Estarei aqui, porque já não me preocupo mais
Apenas dou uma gargalhada
Enquanto tudo isso se desfaz
Brincadeira de criança
Imagino o mundo que quero para mim
Criando-o todos os dias com a meros passos de dança

Enfrentando dragões, salvando belas donzelas
Passo após passo
Pinto para mim um futuro em novas telas
Quero andar descalço, contar-me novas histórias
Me molhar na chuva, e consagrar novas vitórias
Toque de arpa, um acorde no violão
Componho uma música, que sai daqui do meu coração

Ganhe um novo dia, se permita o sabor de um beijo
Pois nas coisas simples, é que a felicidade eu vejo
Ande no muro, caia e levante
Machuque o joelho, chore um instante
Continue correndo, a brincadeira vai adiante
Pule de ladrilho em ladrilho
Brinque com as imperfeições do seu caminho
Faça disso uma diversão
Porque lá na frente, quando chegares em casa
Sobre a mesa a te esperar, haverá um pedaço de broa com limonada...

domingo, 12 de agosto de 2012

Virtual



Em todos os tempos, sempre houveram conflitos. Sempre há divergência de ideias, porque sempre há aqueles que buscam benefício próprio, ao invés de pensarem na coletividade em que vivem. A satisfação de quaisquer que sejam seus desejos pessoais envolve um jogo sem limites, onde tudo é válido, e a única regra é comer o maior pedaço do bolo.

Vivemos todos os dias numa sociedade que corrompe até a última gota de bondade que for possível. Porque não vivemos na lei da selva, e sim na lei do mais egoísta. Tapamos nossos olhos e mentes para as verdade do mundo que nos rodeia, e deixamos passar ilesas as grandes questões que precisamos lidar. 

Assim está a sociedade atual. Desviamos nossos apelos e protestos para onde eles não encararão a dura realidade da vida. Enquanto curtimos e compartilhamos frases de efeito de pessoas que muitas vezes deram suas vidas por seus ideais, estamos apenas mantendo nossas consciências levemente tranquilas de que estamos fazendo algo. Mas o problema que sempre esquecemos é que, se temos liberdade de expressão no mundo virtual, é porque este se tornou paralelo ao mundo real e, da mesma forma que não encontramos resistência em nos manifestarmos na rede, nossos apelos não têm o mínimo efeito sobre as situações cotidianas, as quais só mudarão quando pararmos de enfrentar o mundo da tela de nossos computadores.