terça-feira, 29 de março de 2011

Nota de falecimento (ou seria renascimento?)

"O espírito sopra onde quer"
Cada um é dono do seu próprio caminho,
Cada um caminha por si sozinho

Existe um propósito, existe um porquê
E por mais que surjam dúvidas em minha cabeça
Sei que contigo hei de vencer
A batalha da vida passa por sendas escuras
Mas no fim todo fel amargo
Se transforma em águas novas puras

Renovação requer sacrifício
Pedras caem dos céus sobre meu mundo
Fogo e dor, um grande suplício
Meu eu, enganador eu, meu eu em tudo
Saco vazio trespassado por meus próprios erros
Cálice sedento, seco, vazio
Nessa escuridão, libertos estão meus piores medos

Palavras proferidas em momento derradeiro
"Eli eli lamá sabactani"
A redenção e a retidão entram para história
As maravilhas feitas pelo silêncio trazem vida nova
E para todos nós é prometida uma vida de imensa glória
Sejas em minh'alma tudo aquilo que por mim mesmo não posso ser
E a cada dia, vencendo os desafios
Ser assim como ti, é o meu único querer
Mesmo que para tanto
O meu velho eu tenha que morrer

sexta-feira, 25 de março de 2011

Inação

O mundo hoje está cheio de situações mal-resolvidas, pessoas têm problemas, o planeta como um todo sofre com os nossos erros. E o que fazemos? Continuamos vivendo nossas vidas como se nada estivesse ocorrendo.

Quantas vezes por dia paramos para pensar REALMENTE no que está acontecendo com nosso planeta? As pessoas que precisam de ajuda, os ecossistemas desequilibrados pela invasão do progresso, enfim, toda uma miríade de problemas a serem resolvidos. E enquanto eles vão apenas aumentando sua proporção, continuamos no mesmo lugar, assistindo Big Brother como se fosse um ritual necessário para a nossa sobrevivência, comprando como se fôssemos morrer hoje, enfim, esquecendo do que realmente é importante.

Há um filme que fala de algo parecido. Matrix. Muito querido pelos professores de filosofia, ele traz uma verdade que é cada vez mais presente no nosso dia-a-dia. Estamos vivendo em uma mentira, numa sociedade de contradições, onde a mesma emissora de TV que apóia festas nas quais todos sabem que existem abusos de todos os tipos, tem a audácia de se proclamar como empresa com responsabilidade social. Que responsabilidade social é essa que nos leva para o precipício, que vende imagens de pessoas que não existem, de tão computadorizadas que estão?

Basta passar UM DIA apenas assistindo a televisão. O que é mais importante muda completamente conforme o público. Não existem mais ideais, e sim propagandas, afim de atingir pessoas que ainda possuem ideais. As datas comemorativas perdem seus significados, e isso não afasta as pessoas umas das outras, como também de Deus. O Natal virou festa para Papai Noel, a Páscoa é tempo de se lambuzar de chocolate. O espírito natalino, tão proclamado até o dia 25 de dezembro, morre tão logo se torna dia 26.

E ainda estamos aqui, parados, achando que estamos fazendo algo. Qual o propósito de nossas ações? Ganhar dinheiro? Ter bens materiais? A vida REALMENTE se resume APENAS nisso? Não existe NADA mais? Será que existimos apenas para sermos joguetes no mercado, a natureza existe só pra que manipulemos a nosso bel-prazer, sem respeito algum pelo que existe nela? Onde estão o respeito, a humildade perante o outro, o reconhecimento de que o nosso "eu" NUNCA deve ser mais importante do que o outro.

A cada dia vejo algo novo que me preocupa. Pessoas que têm potencial jogam seu tempo fora, com pequenos prazeres, que acabam por se tornar vícios, prendendo a uma vida que não dá futuro. Falar de Deus é ferir a "liberdade de crença", mas proclamar a prostituição no carnaval, a distorção dos valores humanos não é um crime contra a família, nem contra a vida das pessoas, porque elas têm direito a essa "liberdade". Mas que liberdade é essa que prende a quase que um ritual de ações que devem ser feitas? Desde quando a felicidade está numa garrafa de cerveja, ou em "ficar de porre"? Podem me chamar de antiquado, mas a vida tem que ser muito mais que isso.

Enquanto estamos nos dando nossos direitos, estamos tirando os direitos dos outros. Estamos matando, primariamente, a nós mesmos. E tudo tem o preço. Qual o preço dessa liberdade? Qual o preço que se paga por ser tão indiferente ao que nos é alheio? E qual o preço que estamos pagando hoje por termos sido tão indiferentes à natureza, ao equilíbrio que deve haver no meio ambiente?

De resto, deixo apenas uma música para reflexão.

Autonomia


Ser autônomo é ser livre. É agir por conta própria, tomar as próprias decisões, sem levar em conta nada além dos próprios princípios. É um direito nosso, já que nos foi dado o livre-arbítrio. Porém, quais princípios têm regido a nossa autonomia?

Ser autônomo é ter a liberdade de escolher qual caminho nos será a melhor opção. Mas para analisar isso, não basta ser livre para escolher. Ou melhor, estar livre para escolher sempre basta, mas estamos sempre tão cheios de nossos próprios nós mesmos que acabamos nos prendendo a falsas escolhas, que na maior parte do tempo são pré-determinadas por algum agente externo: os nossos maus atos anteriores, o nosso próprio orgulho, a sociedade em que vivemos, etc.

Assim, para ser autônomo de verdade é necessário trilhar um longo e doloroso caminho. Mas com o tempo, após vencer alguns dos grandes desafios, é possível vislumbrar a verdade de que se optou pelo melhor. A autonomia garante o direito de optar pelo certo, e dá a chave para nos libertarmos dos grilhões que nos prendiam no mesmo lugar, impedindo-nos de caminhar.

Obviamente, ser autônomo não é ser impassível, imutável, estagnado. Muito pelo contrário, garante a dinâmica da existência. O ato de colocar sobre a liberdade um caráter estático é algo completamente humano. E justamente isso acaba nos prendendo, mesmo que não queiramos perceber...

domingo, 20 de março de 2011

Miopia da alma



Cada estrada tem um fim. Mas isso nunca significa que a caminhada parou. Existem infinitos caminhos que nos levam adiante, sempre nos dando mais experiência, mais conhecimento. É bem verdade que nem todos são bons caminhos, mas em todos eles teremos o que aprender. Mesmo que a dor seja nossa professora, a quem recorremos a maior parte do tempo em nossas vidas, nos deixando levar pelas nossas próprias ideias que, apesar de quase nunca vermos, não nos levam à frente. Mas em nenhum momento podemos estar parados. Errar é um direito que todos temos, e nos dá liberdade de ação. Mesmo que não cheguemos onde esperávamos chegar, temos o direito de escolher. É o livre-arbítrio, que impera na vida de todos nós.

Cada ação gera uma consequência. E cada conseqüência traz uma lição. O importante é saber aprender com os frutos de nossos atos. O que fazer, e também o que não fazer. A cada nova atitude que tomamos, deve haver a consciência de que os erros são inevitáveis e, portanto, somos passíveis de cometê-los. Inclusive, esse pensamento pode nos fazer refletir antes de agir, e analisar bem se aquilo realmente será bom para nós.

Quase nunca o caminho fácil é o certo. Porque nossa visão é míope. Só enxerga bem em prazos curtos de tempo, e não vê além das aparências e no tempo que está mais à frente. Queremos cuidar do agora, esquecendo do amanhã, e acabamos por distorcer a visão do caminho que traz benefícios, mas que sempre precisa demais esforço no início. E nunca queremos ter que esperar. Eis a miopia da alma, que espera que tudo aconteça hoje. Devemos lavar nossos olhos com a água da renovação, e vermos as coisas como elas são, e não como queremos que elas sejam.


[Repostagem de texto já presente no blog thewanderersoul.blogspot.com]

quinta-feira, 17 de março de 2011

Carência

A carência é o sentir falta de algo, sentir um vazio em uma parte ou em todo o nosso ser. É não estar completo, porque algo que desejamos não foi alcançado ou não está mais presente. E, por reação natural, buscamos preencher esse vazio. Mas com o quê?

Na maior parte das vezes, buscamos preencher nossos vazios com algo que simplesmente evapora, deixando-nos simplesmente com a angústia de conseguir mais. E, tentativa após tentativa, vamos nos perdendo, porque essas realizações voláteis não apenas nos deixam vazios novamente, como corroem o que tínhamos de sólido, por termos dado essa brecha.

De uma rachadura pode vir a ruína de um prédio inteiro, se não a preenchermos com um bom material de construção. Cuidar dos próprios vazios é cuidar da própria estrutura, da própria vida.

Sabemos bem, desde muito tempo, o que fazer para nos preenchermos verdadeiramente. A atual carência de base da nossa sociedade se deve apenas ao fato de que não queremos abrir nossos olhos para a grande verdade da vida. E nesse meio tempo as rachaduras aumentam, tornam-se fendas e por fim levam ao desabamento.

Reconstruir nunca é o problema. O problema é que nunca precisaríamos fazê-lo se tivéssemos uma base sólida que nos livrasse da carência. Que ela existe, não há dúvida. A única dúvida que persiste é se buscaremos as felicidades voláteis e expansivas, ou A felicidade, nobre, humilde, contida em si mesma e, ao mesmo tempo, inesgotável.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Nova Aurora

Estar contigo é desafio
As palavras me fogem ao me deparar com tamanha gradiosidade
Novas águas correm por mim caudalosas como a torrente de um rio
Sinto-me renovado, caminhos novos em minha própria cidade
Encontro comigo mesmo
Após caminhar por sendas escuras
Gritos ecoando num abismo de medo
E nenhum alívio para servir de cura

Luz de uma nova aurora
Solidão que era eco da minha alma
Eis que chega uma nova hora
E agora Tua presença é o guia que me acalma

A Tua Luz é minha Luz
Os Teus olhos são minha visão
Estar contigo é força para levar a cruz
Acompanhar-te é estar com todos, em constante servidão
As tuas obras são minha inspiração
O teu verbo é tua vida
Que me leva a ver A palavra como desafio de ação

Cada novo momento é uma nova lição
Fatos, conhecimentos, experiências,
Tudo me remete à grandiosa verdade
O Teu amor é a maior de todas as ciências
E a tua obra é exemplo para toda ação
Glorificar-te é alvo de todos nós
E retribuir-te tudo aquilo
Que desde muito tem feito por nós

[Repostagem do texto já presente no blog the wanderer soul]

quarta-feira, 2 de março de 2011

Mirantes

Ponto. Segundo a matemática, o ponto é um local no espaço, sem dimensão, sem comprimento.
Vista. É um termo geralmente usado para descrever uma paisagem, ou seja, um pedaço do mundo.

Mas e ponto de vista?

Associando os dois termos, é possível concluir que se trata de um local sem espaço ou dimensão, de onde podemos ter a visão de parte do mundo. Abstrato não? Mas essa abstração pode vir do fato de que esse local nada mais é que nossas ideias e opiniões.

Sim, pois é através delas que nossos olhos se abrem para o mundo, permitindo que o vislumbremos, e o consideremos fantástico ou não. Mirantes para a realidade, nossas opiniões podem, também, distorcer essa "vista".

Não basta que apenas vejamos o mundo. É preciso respeitá-lo e, se realmente acharmos que algo não está certo, devemos ser nós mesmos a fonte da mudança.

Porém, há muitas vezes nas quais o que devemos fazer é apenas mudar o nosso "mirante". Por vezes, queremos mudar tudo conforme nossa visão. Desejamos represar as águas de um rio, sem admirar como são majestosas as corredeiras que pouco a pouco vencem seus obstáculos. Sem pressa, passam elegantemente por todos os obstáculos, quebrantando as rochas mais duras, e sepultando-as no fundo de seu leito. E assim são as águas da vida, por vezes impetuosas, por vezes tranquilas, mas com uma certeza apenas: de seguir em frente sempre.

Assim, quando estivermos em nosso mirante analisando o mundo, pensemos sim em maneiras de melhorar o mundo mas, principalmente, em maneiras de melhorar nosso próprio "ponto de vista". O primeiro passo para a realidade é entender que não existe nada de absoluto no mundo. Muito menos o que pensamos.