domingo, 30 de outubro de 2011

Páginas da vida



Nossas vidas sempre possuem fases. Nelas, passamos por alegrias, tristezas, momentos difíceis... Sempre fica uma marca de cada etapa, cada época de nossas vidas. Um amigo que se foi, um amor que se perdeu, uma prova que se venceu. E sempre ao fim de cada uma delas, percebemos como foi bom terminar, apesar da saudade daquilo que foi bom martelar a memória, e queiramos voltar a eles.
Mas nada volta. O que passou não volta mais, e o que perdemos ficou para trás. Hora de continuar, hora de prosseguir, sem vacilar, sem olhar para a estrada que nossos pés já conhecem. Hora de se aventurar, de se arriscar. E mais que isso, novas provas enfrentar, e saber que aquelas que não vencemos ainda, serão com certeza enfrentadas novamente, até que consigamos superá-las.
O mais importante talvez seja, saber que cada uma dessas etapas é uma página em nossas vidas. E, como um amigo meu me disse, essas páginas estão cheias. Não podemos escrever mais nada nelas. Hora de encerrar, encarar a nova página em branco, e não perder mais tempo rabiscando mal traçadas linhas sobre o que já está escrito. Nunca será o original, e apenas borrará o que já foi feito, pensado, vivido. Ou seja, simplesmente não será real. Será apenas uma fantasia a nos atormentar cada dia por se descobrir como uma farsa, uma tentativa de fazer o passado ser o presente, da maneira que queríamos que ele fosse, sendo que na verdade, devemos trabalhar no presente para que o nosso futuro seja o mais próximo possível do que desejamos.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Nostalgia





A chuva vem me lembrar
A tempos antigos quer me arrebatar
Mas que tempos são estes?
Que sequer consigo me lembrar?
Embora a memória não esteja aqui
O coração insiste em dizer que algo assim já vivi


Tempos atrás
Uma vida que na névoa se desfaz
Procurar não me leva a nenhum lugar
Embora o aroma antigo aqui esteja a chegar
E eu fico atordoado
Será que estou sonhando acordado?


É estranho parecer 
Que um detalhe fugidio estou a esquecer
Como se algo estivesse prestes a se repetir
Como se algum sonho de outrora estivesse apenas a dormir
Não tenho ideia do que seja
Mas é flor que toda primavera viceja


E me pergunto de onde vem
Essa angústia estranha que o meu espírito detém
Uma colina verde que não vi em nenhum lugar
Um leve aroma do campo que consigo captar
Uma história simples a persistir
Como se de fato ela pudesse existir


Desejoso daquilo que ainda não vi
Ansiando por algo que salta dentro de mim
Ah chuva, lave isso daqui
Embora com o sol essas pedras castelos também venham construir
Às vezes eu me acho a me perder
É, eu sinto saudades de você
Da manhã até o anoitecer
Rosto envolto em sombras de esquecimento
Mas que sinto presente a cada momento


Até que possa entender
Apenas te verei aparecer
Ruidosa como o grito de um trovão
Leve como uma pétala em minha mão
Suave como o perfume de uma rosa
Mas que meu coração deixa em polvorosa...


domingo, 23 de outubro de 2011

Palavras



Palavras que constroem, edificam, destroem. Palavras que doem, curam, saram. Podem fazer com que seu dia seja o mais especial da sua vida, ou o mais terrível dos seus pesadelos. Cada uma carrega um significado, uma intenção e um recado. Dependem do contexto, da entonação.
Um amigo que diz uma palavra de conforto, traz um refrigério. Um simples "eu te amo" muda sua forma de ver a vida. Um pequeno e confidencial "sim" te traz dias novos, compartilhados com alguém muito mais que especial, alguém feito pra você.
Palavras. Não devemos ter medo de usá-las. Devemos temer como usá-las. Que saibamos frear as inúteis, as pesadas, as destrutivas. Que saibamos ter o equilíbrio de não nos afetarmos a ponto de soltar um arpão contra o coração de quem está perto. Que cada sílaba proferida por nós seja apenas uma demonstração de amor ao próximo, e mesmo a mais dura das correções será envolvida em compreensão, humildade e carinho.
Esqueçamos as palavras rudes. Elas não servem para nada além de momentos de perdão no futuro, onde nos arrependeremos de cada uma delas, momento que perdemos completamente a razão.
Que não tenhamos medo de usar as palavras certas, todas aquelas que mostram o quanto nos importamos, sentimos... Cada frase seja uma imagem perfeita e equilibrada do que devemos ser, do que devemos buscar. Não tema as poucas palavras profundas. Tema a abundância inútil, vazia de significado. O silêncio também tem seu significado, que muitas vezes é mais expressivo do que qualquer frase que poderia ser dita.
Mas que, acima de tudo não esqueçamos uma coisa: Não importa quantas palavras você diga a uma pessoa, apenas um olhar poderia substituir todas elas.

sábado, 22 de outubro de 2011

Restauração





Água, fogo, furor
Invadem o meu ser, o mundo de novo ganha cor
Pelas pedras eu andei
Em um mar de ilusões naufraguei
Luzes pela manhã a me lembrar
Que jamais deixastes de me amar
E que a qualquer lugar, irias apenas para me buscar


Cicatrizes fechadas
As mãos estão lavadas
Brilho de uma nova vida
Não sou simples árvore ressequida
Com a luz do Teu amor doces frutos produzir
Pela estrada até Ti eu devo agora prosseguir


Passos vacilantes
Porém não mais errantes
Vi meus olhos no espelho
Medo, coração em desespero
Achavas que contra a pedra devia me atirar
Em verdade, era apenas minha missão que estavas a revelar
A parte mais difícil não foi Tua companhia buscar
E sim essa falha imagem de Ti, eu poder aceitar


Diante de Ti porém, isso não importa
Porque ainda assim bateste à minha porta
E só me restou os olhos abrir
E humildemente responder: Senhor, eis-me aqui...

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Luzes do passado



Olho à noite para o céu
Vejo infinitas luzes sobre esse véu
Mas sei que seria enganoso eu sorrir
Pois me alegraria por estrelas que já não mais estão a existir


Olho para cima
E só vejo o passado
Ecoa o grito da obra prima
Enquanto que nada mais é hoje criado


Fingindo ser alguém
A trazer coisas novas para cá
Mas esta não é a obra de ninguém
Já nem sequer lembramos o que é amar


A lua é manchada de vermelho
Os homens já não têm coragem de se olhar no espelho
Onde é que estão as almas valentes?
Tudo parece ser um jogo de regras inconsequentes


Continuando firme em pé aqui estou
Sentindo a brisa da madrugada
Pois isso é tudo o que me restou
Pois nunca sentirei o toque de minha amada
Porque o que ainda não surgiu, é exatamente o que a tempestade já levou


Embebido em sonhos antes mesmo de adormecer
Já não são vistos mais os versos que teus corações podem encher
O furor da minha louca razão a tudo destrói
E minha insana teimosia a tudo corrói


Noite de estrelas cadentes
Por poucos segundos, um brilho efervescente
Que logo se esvai, e novamente em sonhos vazios a mente cai
Parábolas não mais ditas, histórias não mais lidas
Enquanto vou seguindo a minha própria luz, 
Mas apenas à chama da vela consumidora, é que por fim ela conduz

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A arte de ser autêntico



Não há nada como a autenticidade. Cada ação ter uma "assinatura" característica de quem a executou, deixando claro a todos: este sou eu. Pode parecer algo óbvio, mas nem sempre somos capazes disso. Porém, é o que sempre devemos buscar. Ser autênticos em tudo nas nossas vidas. Nossas ações, palavras e gestos, todos eles devem ser uma marca nossa, onde estivermos e para aquelas pessoas com quem estivermos.
Modelos são aplicados a situações padrão, e uma cópia só é nada mais nada menos que um retrato do original, e nunca terá o mesmo valor que o original. Eis a arte de ser autêntico, de ser original em tudo que fizer. Todos nós temos um referencial, mas cada um tem a sua individualidade. Não somos simples peças de um quebra cabeça a se encaixar num propósito comum. Muito pelo contrário, o propósito é individual e somente de cada um. Pode soar estranho, mas é isso mesmo. Duas pessoas possuem tarefas e missões distintas. 
Não podemos nos deixar enganar pela massificação das mentes. Senão nos tornaremos uma produção em série de mentes coordenadas e sintonizadas na mesma frequência, a realizar as mesmas coisas, ter as mesmas ideias. Será o mundo perfeito da não-existência de diferenças, pois todos seguiremos os mesmos passos numa dança, coreografada por alguém que teve a visão dessa realidade, e soube olhar de cima dela.
Que cada um dance em seu ritmo, cante no seu tom, e fale com suas palavras. Numa orquestra, é a soma das diferenças harmonizadas que gera o espetáculo. E parece que cada vez mais, estamos nos esquecendo disso. Não é à toa que até no cenário musical as músicas estão ficando cada vez mais parecidas, com construção musical e literária cada vez mais carente de originalidade. Vivas à igualdade de pensamento.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Espelho




Sempre foi minha imagem
Em ti encontrei mais que um amigo
Olhar em teus olhos se tornou grande viagem
Agora estou confiante e destemido
Eu busco me encontrar
Estar contigo era meu guia
Encontrei alguém para verdadeiramente amar
Este foi o raiar de um novo dia
Não é preciso te tocar
Seria mero detalhe irrelevante
E eu passei a aliviado respirar
Porque sei que para ti também sou importante
É maravilhoso te ver feliz
Confesso que surgiu um caminho que eu nunca quis
Mas qualquer coisa eu faria
Para ver um sorriso teu, esse desenho de giz
E ele se apagar, eu jamais deixaria
Por ele até no inferno eu entraria
Para mim fostes oportunidade de redenção
A ti sempre estenderei minha mão
Estarei por aqui, se for preciso
A mim sempre poderá chamar, meu amigo
Você, eu, o meu eu refletido...

domingo, 9 de outubro de 2011

Clichês



Já estamos cansados de ouvir certos clichês, que não saem de nossas vidas. E realmente, muitas vezes vemos pessoas enterrarem seu discursos utilizando frases de efeito que tornam uma conversa em uma simples massa de bolo pronta e que acabou de sair do forno, tirando a genialidade e autenticidade do que expressam. Quando ouço certas frases, sinto quase que uma agressão à mente das pessoas. É como se não fôssemos capazes de suportar algo mais elaborado, verdadeiro e profundo.


E com isso nos tornamos cada vez mais superficiais. Esquecemos o que é uma fala elaborada, uma conversa verdadeira, pensamentos autênticos e, principalmente a simplicidade. Sim, simplicidade. Porque essas frases feitas entram como aqueles glacês ruins de bolo. Açucarados, sem consistência e, sobretudo, enjoativos. Talvez por isso as coisas mudem tão rapidamente no nosso mundo. Procuramos sempre novos sabores, porque o que temos já saturou nossa capacidade suportar. Ao mesmo tempo, é uma busca por algo que seja mais que uma casca vazia de palavras bonitas. Necessitamos disso e, ainda que nos acostumemos a essa realidade de superfície, não deixaremos de desejar algo que tenha algo mais.


E a busca por isto, apesar de ser uma das mais importantes de nossas vidas, deve ser feita com cuidado. Senão seremos apenas o próximo cliente, o próximo espectador. Sempre iremos ter desejo de mais, não porque somos insaciáveis, mas porque não é oferecido nada com um verdadeiro conteúdo. Apenas uma cultura de "pão e circo", a encher nossas mentes de objetivos sem um fim, induzindo os nossos passos ao distanciamento de outras pessoas. Cada vez mais, nos preocupamos em satisfazer nossos desejos, porque a sede de realizá-los só aumenta com o tempo que nos expomos a essa perigosa combinação, pois mais tempo perdemos, e nada adquirimos.


Com o tempo acabamos fechando nossos olhos, e não vemos nada mais além dessas superficialidades. As pessoas, ideias, crenças e sentimentos passam todos a consistir nisso, num mar raso onde podemos sempre ver o fundo. Detemos a verdade, e qualquer um que nega isso é um insano, ignorante, um débil ser a se debater contra o a casa que cremos possuir. Até que ela rui, e vemos que não é bem assim.


Assim, não nos deixemos levar pelos clichês que andam soltos pelo mundo. Cada um tem o dom da originalidade, e duas pessoas não tem que falar da mesma forma a respeito de uma única coisa. Essa é a beleza da vida, e expressa a individualidade de cada um.


"Mais vale uma cabeça bem feita, a uma bem cheia"

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Transição

Passos guiados por um estranha visão
Há algo que incomoda dentro de meu coração
Ao ver o sol brilhar
Surge uma voz dentro de mim a clamar
Que noite é esta que insiste em querer reinar?


Ao passar pela ponte
Me perco olhando para o horizonte
E ao olhar para cima
Vejo algo que é mais formoso que qualquer obra prima


Olhando para trás
Vejo o quão não fui capaz
Pois nas mãos do guia não quis confiar
E minha alma insistia em libertar
Mas hoje vejo que isso é que seria me aprisionar


O vento bate no rosto
Trazendo à memória cenas de um futuro suposto
Ouço a batida do meu coração
E sinto que o seguras na palma de sua mão
A soprar ideias doces de renovação
Pela Tua graça, é que me vem inspiração


Dentro de mim uma tempestade silenciosa se agita
De ouvir-te ela quase me impossibilita
Mas então espero as águas abaixarem
Para meus pés molhados perto de ti se aconchegarem


Ao menos um segundo
Jamais viveria algo tão profundo
Vidas se perdem em momentos
Mas momentos jamais se perdem na vida
Todos eles são apenas degraus na nossa subida
Escada da vida, e que jamais será perdida
Pois em sangue foi lavada
E por uma espada foi atravessada
Abrindo as portas de um caminho
Que nenhum de nós poderia trilhar sozinho

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Simplicidade

                 " Vai diminuindo a cidade
Vai aumentando a simpatia 
Quanto menor a casinha
Mais sincero o bom dia"
PatoFu


Engraçado como poucas palavras, pequenos acontecimentos, coisas que muitas vezes nem notamos podem acabar fazendo a diferença no nosso dia. Essas pequenas coisas, aquelas que raramente pensamos em fazer por alguém, elas mudam completamente a forma como nós pensamos, sentimos e vivemos tudo aquilo que nos cerca.
Um bom dia, uma pequena mensagem, um telefonema. Não temos tempo para aquelas pequenas coisas, mas se não temos tempo para elas, teremos para as grandes? Buscamos a sofisticação de tudo. As relações são regadas de capas de futilidade, e todas as nossas obras tentam a cada momento competir na sua majestosidade. E é por isso que dizemos que não entendemos o mundo pois, se não entendemos o que é simples e está claro diante de nossos olhos, como será possível que entendamos o que é mais complexo e se mascara por detrás de nossas obras belamente emolduradas?
Quando nos acostumamos aos nossos traçados suntuosos e nos deparamos com algo simples, acabamos por procurar por aquelas mesmas complicações que criamos sobre o que não tem nada além do que se mostra. E distorcemos a realidade, adaptando-a aos nossos próprios meios, objetivos e conceitos. Fazemos isso sempre, uma forma inconsciente de querer ajeitar o mundo à nossa maneira. Acabamos nos perdendo em nossos próprios devaneios, e temos uma catarata espiritual. A visão se embaça, e apenas formas e esboços se desenham diante de nós.
Simplicidade. Acabamos por descartá-la, dando lugar aos suntuosos castelos de formalidades, estilos, objetivos. O padrão não é simples, e sim uma miríade de regras, etiquetas, posturas incompatíveis com um ser humano, e sim com um objeto. E é isso que nos tornamos, uma marionete das tendências, nos diversos campos de nossas vidas. 
As pessoas deixam de dizer o que sentem, por não quererem parecer sentimentais demais, o que é um defeito, uma fraqueza. Não se cumprimenta a pessoa que está ao seu lado no ônibus porque ela é uma estranha. Bom, mas sendo assim, não conheceríamos ninguém em nossas vidas, pois no início somos todos estranhos uns aos outros.
Os discursos, não só a nível político, mas também pessoas em nome de Deus, dentro de suas famílias, em nome de uma bandeira qualquer, enchem seus textos de palavras e expressões incompreensíveis, como que a denotar uma superioridade, que mostra que aquele deve ser o exemplo. E esquecem que nós mesmos não somos exemplo para ninguém, e sim pequenos seres falidos que tentam arduamente seguir Um exemplo. 
Assim, a melhor forma de alcançar alguém é pela voz da simplicidade. Não complica demais a ponto de se tornar impossível de entender, nem superior demais para ser inalcançável. Apenas está ali, diante de quem ouve. E, mais que isso, quando nos despimos das vestes de requinte, acabamos por perceber as pessoas que verdadeiramente estão ao nosso lado, e vivemos uma vida completa e verdadeira. Não basta saber, criar e ter, é necessário também ver e ouvir e, enquanto nos recusarmos a isso, seremos sempre escravos dos sistemas que criamos.