quinta-feira, 28 de abril de 2011

Paradoxos

Me perco
E quando me perco, me encontro
Pois quando me perco, eu sinto
E quando eu sinto
Eu acho

Duvido, mas tenho certeza
A certeza da dúvida que assombra
Dúvida que assola, cega
Questiona, quer saber
Mas o que saber?
Quando não se tem ideia do que buscar?

Palavras são silêncio
De uma voz que emudece
E murcha após ser vistosa flor
Mas será mesmo o fim?
Ou apenas está mudando o autor?

Quando falo, ensurdeço
Quando me calo, escuto
Porque quando vem o silêncio
Surge a voz dentro de mim

Meus passos vacilam
E mesmo querendo
Não consigo continuar
Mas estranhamente
Continuo me sentindo em movimento

São tantos paradoxos
Que me perco no que há de fato
Porque tudo parece discordar
E ao mesmo tempo
Perfeitamente se encaixar

Se há crise?
Como posso saber?
Questionamentos se levantam
E logo caem por terra
Deixando uma única certeza
A de que ainda respiro

O único temor
É a morte do que conquistei
Pois grandiosa foi a luta
Para alcançar o ponto
No qual hoje eu cheguei...

domingo, 24 de abril de 2011

Páscoa




Finda a Páscoa, a quaresma, voltamos a nossas vidas. Muitas pessoas jejuaram, oraram, cumpriram vigília, cumpriram todas as obrigações do período. Mas era mesmo pra serem obrigações?

Hoje é a data que relembra o mais importante acontecimento da história. Três dias após sua morte, um homem volta à vida. Após dar sua vida pela vida de todos, ele ressuscita. Superou todas as provações, lutas, e venceu. Sem precisar de uma ação de violência, uma palavra de rebeldia, sequer um sussurro de protesto. Eis a verdadeira manifestação da obediência e confiança no Pai.

Nem preciso dizer o quanto ele sofreu. Mas ele sofreu. Passou por tudo aquilo porque sabia que era o que deveria ser feito. Não deveria ter ocorrido, mas nós lhe impusemos essa única condição, porque fomos rebeldes às suas palavras, e não havia outro meio de nos alcançar.

Enfim, tudo se cumpriu. Todas as coisas aconteceram. E será que estamos dando valor a tudo isso que foi feito? Será que temos dado real valor ao que foi ensinado, a cada passo em direção ao calvário? Porque a maior lição de todas não foi quando ele reviveu.

Mas sim quando ele morreu.

Pense nisso, e a Páscoa não perderá seu sentido.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Queda

Por vezes, somos atingidos por situações, problemas e desafios que nos tiram do nosso estado de equilíbrio. Oscilamos, e achamos que vamos cair, puxados por uma corda invisível que nos leva para baixo. Nem sempre forte, mas de caráter constante, esses desafios tendem a nos curvar.

Nesses momentos, raramente pensamos em um simples fato: ainda estamos de pé. Passamos a aceitar a queda, isso quando nós mesmos não nos abaixamos. E paramos. A amargura toma conta de tudo, e lá do fundo surge a inquietação, qual alerta divino a nos mostrar nossa real situação.

Lamentavelmente, nos convencemos de que não podemos mais sequer levantar os olhos para cima. Os motivos podem ser vários: não nos julgamos capazes de tal ação, não nos vemos como dignos ou merecedores, ou pior ainda, sequer pensamos nisso.

Talvez não sejamos merecedores, aos nossos olhos, de qualquer misericórdia. mas não são nossos olhos que dão o julgamento a respeito. Talvez não tenhamos mais força para reerguer nossas vidas. Mas ninguém disse que teríamos de fazer isso sozinhos. Porque por mais que não lembremos de olhar para cima novamente, há alguém que todos os dias faz questão de nos lembrar que podemos fazer isso.

Se dizem que só a fé salva, pode ser porque ela simplesmente mostra que podemos ser muito mais do que somos, e que mesmo agora já somos melhores do que aquilo que a fantasia criada pela desilusão insiste em nos mostrar. E essas mentiras, somente cada um de nós pode eliminá-las, porque lá atrás, quando decidimos parar, as criamos para dizer a nós mesmos que estávamos certos em não resistir e arrebentar as cordas que surgem para nos desafiar.

domingo, 10 de abril de 2011

Chamas

Me recolhi em mim mesmo, pois tudo lá fora está frio e coberto de neve. Escondo o calor que ainda me resta, para que o gélido clima que impera não o aparte de mim. Há esperança, esperança de um novo verão, e essa esperança aquece, calor aconchegante que aquece tudo que há dentro de mim.

Olho por breve momento pela janela. Lobos assaltam os que se perdem nos caminhos lá fora, e os incautos congelam, pois crêem que com seu próprio calor podem vencer o frio.

Pior que o frio que vem de fora, é o frio que vem de dentro. Cada batida do coração leva apenas o cortante e doloroso frio ao corpo. E este se desespera, bucando algo que o aqueça, e não encontra. Não entende que a chama cresce de dentro, crescendo e se tornando real fonte de calor.

Uma pequena chama, fraca, débil, tal qual a frêmita luz de uma vela, quando maior é a escuridão ao redor, mais ela brilha. Atrai atenção, revela o espaço ao seu redor, mostrando ao gélido mundo que há muito mais que simplesmente branco e tons de cinza.

Revelar-se é correr o risco de ser apagado. O inverno resiste, e muitos lutam por ele. Mesmo dentro de nós, por vezes resistimos ao calor. Mas, ainda que uma chama seja apagada, ela jamais será esquecida. Pois enquanto ela brilhou, pode ter trazido um novo verão para outros, que viram e sentiram o aconchegante brilho e calor daquela pequena luz.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Opções

Todos os dias fazemos escolhas. Mesmo a opção por não fazer nada é uma opção, o que implica que as decorrências dessas ações são de nossa única responsabilidade. Optar, escolher. Tão importante quanto agir, ou até mais, já que a escolha decide os rumos de nossas ações.

Ao realizarmos nossas decisões, não temos sequer ideia das reais consequências de onde aquela decisão irá nos levar. Sabemos se será bom ou não, pois no fundo, se pararmos para refletir realmente sobre nossas decisões, sabemos bem o tipo de fruto que colheremos.

Existem na vida muitos momentos de plantio. E podemos sempre optar pelo que vamos plantar. Mas devemos ter o cuidado de saber bem o que estamos plantando. Para que não sejam meras bananeiras que produzem apenas uma vez, e cujo fruto não possui sequer sementes que possam ser lançadas na terra, sendo apenas algo passageiro.

Há muitas bananeiras em nossas vidas. Não digo que elas não têm utilidade, mas elas não renovam. Não deixam continuidade. E é isso mesmo que queremos que seja nossa opção?

Verdadeiros frutos requerem optar por aquilo que sabemos que vai persistir, ainda que muitos digam que não. Em tudo que plantamos, há um pouco de acreditar. A questão é: no que temos acreditado? Em frutos que se perdem, ou naqueles que trarão não só retorno, como também sementes?

Cada um pode optar pelo que achar melhor. Só devemos sempre nos lembrar das palavras de Paulo: "Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas me são válidas." Esse é o grande desafio: optar pelo válido, ainda que exija um pouco mais de esforço. Porque o resto, o resto é composto apenas pelos espinhos que acabarão por nos ensinar a não cedermos à tentação de tocá-los novamente.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Fuga

Existe apenas uma certeza quando estamos totalmente convencidos de que não podemos enfrentar algo: fugimos. O medo move nossas pernas, ou as paralisa onde estamos, e buscamos refúgio daquilo que nos ameaça. Esquecemos de tudo que nos apoiaria naquele momento, vemos apenas que não podemos fazer nada. Falta a solidez de espírito para enfrentar os monstros que aparecem nas nossas vidas.

Mas existem monstros e fantasmas que nós mesmos criamos, e no final acabamos por temê-los devido ao que acreditamos que eles sejam capazes de causar a nós. Não nos lembramos que a origem deles está em nós, até mesmo para evitar a culpa e assumir a responsabilidade pelo que está acontecendo no presente.

E fugimos.

Fugimos da realidade, de nós mesmos, de tudo. Nos entregamos às mais diversas formas de alienação possíveis, alimentando a força que esses fantasmas têm sobre nós. Mas, como é dito no filme "V de Vingança", um símbolo só tem poder para aquele que dá valor a ele.

Qual valor temos dado aos símbolos de nossas falhas, como se as aceitar fosse a maior das dores? Quanto tempo mais continuaremos dizendo: eu não consigo, eu não posso, fulano me atrapalha, tal coisa me impede, para TUDO que nos desafia em nossas vidas? Esse medo infundado não só de falhar, mas também a incapacidade de assumir nossas falhas, quando criamos máscaras, não só para enganar o mundo a nossa volta, como também a nós mesmos?

Enfrentar todas essas coisas não é fácil. Mas as cicatrizes que ficarão dos espinheiros que arrancaremos nos ensinarão a não cultivá-los mais. Porém, enquanto a coragem para enfrentar estes espinheiros não for maior que eles mesmos, os veremos crescendo. Não porque eles têm vida própria, mas porque nós mesmos os fazemos assim.