terça-feira, 27 de agosto de 2013

Inominável


Caminhar, batalhar. Enfrentar a cada dia os grandes desafios da vida. Entender que haverão sempre desafios por vir, obstáculos a superar, decepções que irão nos fazer pensar que o dia de amanhã nunca vai chegar. Tudo isso é viver.
Muitas vezes é preciso engolir o choro, e amadurecer. Entender que a dor faz parte da vida, e não é o fim do mundo encarar o que está em redor como sendo uma forma a mais de crescer. É para isso que estamos aqui, para sermos um pouquinho melhor do que aquilo que já somos.
Crescendo em ciclos, que se iniciam, se fazem sólidos e se fecham, chegamos sempre a novos rumos, novos lugares que nos surpreendem por nos mostrar até onde ainda teremos de ir. Poucos prazeres são tão profundos quanto o de descobrir o quanto a vida pode ser profunda, naquelas pequenas coisas que nos fazem sentir completos.
Errar, descobrir onde estão nossas falhas. Descobrir que a pessoa mais difícil de se perdoar é a si mesmo. Tudo isso faz, junto com todas as outras coisas que nos tiram arrepios da pele, nos sentirmos até o último fio de cabelo, completamente vivos. A vida está no movimento, na descoberta, no olhar que brilha diante do que se vislumbra. nas lágrimas que caem na calada da noite, nas despedidas que fazem com que saibamos o quanto amamos aquele que parte.
No final das contas, é em cada expressão de sentimento que encontramos a verdadeira forma de nosso ser. Quando amamos, quando entregamos tudo de nós por alguém em quem vemos uma razão de nos movermos. Por isso constroem mundos as mães, e destroem montanhas os pais. Por isso controem novos horizontes os filhos, e sonham novos universos os apaixonados. Porque o que vale na vida é ter um sentido para o que se faz, para o que se sonha, para o que se busca. É tudo isso, em suas pequenas efemeridades, que nos faz sentir no sangue o que significa a palavra existir. Essa experiência única, mas intensa em si só, para a qual simplesmente não foi encontrada nenhuma palavra para nomear.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Esperança



Acomodar. Insistir nos mesmos erros, ou simplesmente parar, olhando para o tempo que se perdeu. Esperar pelo milagre da mudança, que chegará apenas quando um agente externo vier e mudar completamente a própria vida, vida esta que foi construída com nossas escolhas, nossos passos. Escolher sempre um novo culpado imediato, cujas máscaras vestimos para não nos vermos como responsáveis no espelho da consciência.
Acusar. Guardar dentro de si aquelas farpas espinhosas que sangram a alma, lembrando dos dias em que fomos feridos, como que ainda a nos colocar como vítimas do destino. Afinal de contas, qual o grau de inocência em quem prolonga o próprio sofrimento apenas para poder receber palavras de consolo daqueles que não enxergam a demência de uma carência desmedida?
Antes, sacuda a poeira e volte a caminhar. Justiça é algo que ainda não temos clareza de visão para exigir. E ela não tardará a chegar. Mas temos uma vida para viver, uma história a construir, um propósito a cumprir. Sempre seremos feridos, haverão aqueles que chegarão para deixar como marca apenas uma triste cicatriz, lembrança de um destino doloroso que envolvia os protagonistas de uma crueldade expressa em rancor egoísmo e orgulho.
Mas há sempre novos dias para existir, novos lugares para conhecer, novas músicas para ouvir. Novos amigos para conhecer, e também novas lições para aprender. As velhas histórias terão seu tempo de serem lembradas, mas não seremos nós quem decidiremos quando. É algo muito mais além do que conseguimos perceber, e vai além das distâncias longínquas que estão entre as estrelas do universo da alma humana. Caminhar pelas paragens da existência é um exercício contínuo de perdão e reconstrução daquilo que somos. Tudo isso antes do final, que embora não saibamos qual será, traz a promessa de ser algo bom.


quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Folhas ao vento



Era eu, era teu
Era meu, o tempo corroeu
Qual fotos antigas
Assim são apenas memórias
Quebradas, sem nexo, perdidas
Já não quero mais lembrar
Dessas tantas dores vividas
Um olhar que se foi
Um toque que se esvai
E nas noites gélidas das lembranças vazias
Finjo me encantar com cada nova paisagem
Quando nesta vida dobro as esquinas

Caminhei para frente olhando pra trás
Não vi sombra, não vi luz
Apenas um vazio, que mais à frente ainda me conduz
Árvores de inverno, sem vida, sem flor
Uma paisagem em minha mente
Que é o desenho desta dor
Cores de uma música que se repete
E se faz mais intensa a cada nota
Sinfonia da saudade
Para onde você foi?
Me pergunto, em verdade
Nessa brincadeira de seguir
Páro, olho, não há nada aqui

Folhas no chão já cheio de neve
O frio enche, sinto ele abaixo de minha pele
O olhar que tinha um brilho
Agora pisca quando pensa poder prosseguir
Vez por outra ainda me lembro
Daquele último novembro
Planos divertidos de de lá do fundo do coração
O futuro era um amigo
E sonhar não era em vão

Onde foi toda a verdade?
Viver para sentir
Eis a minha intensa liberdade
Um céu negro
Sem estrelas ou nuvens
Pois todas elas caíram
Tentando realizar meus anseios agora fúnebres
Abalou-se a terra, fenderam-se os oceanos
Partiu este mundo
O chão despediu-se dos meus pés
Flutuando em outra dimensão
Contemplando as eras que se vão
Errante que agora sou
A mim mesmo eu estendo a mão
Girando num balé cósmico
Qual naquela música que tocava
Enquanto você executava seu mais cruel propósito

Façanhas da humanidade
Falas bonitas, com muitas meias verdades
Ainda não me perdi
Daquilo que me lembra da amada santidade
Notas tranquilas de uma música que me compõe
Pausa, sons, orquestra, flauta
Em uma estranha harmonia tudo aqui agora se dispõe

Falsetes belos a cantar em outra língua

Aquilo que já não tenho alma mais para dizer nesta vida
Pedaços de mim que se dissolvem pelo ar
Aos poucos me vou, talvez seja para isso que aqui estou
Como as árvores que vejo, e que perdem suas folhas
Me esvaindo estou, a me juntar a esta bela natureza
Ouça atento quando o vento vier lhe abraçar
Serei eu ao seu lado, como eu sempre quis estar

sábado, 10 de agosto de 2013

Realidade Virtual



Sou o que vejo? Ou sou o que sinto?
Estranho que se tocam, se falam, se excluem
Será esta paisagem a nossa verdade?
Ou apenas arquitetura e estética?
Será que ainda sou natural?
Ou já me esqueci de que também sou animal
Sintéticos, aditivos, conservantes
Caem em mim chovendo a genialidade
De quem apenas não quer admitir
A sua própria monstruosidade
Nas voltas do mundo permaneço aqui
Nessa estranha morosidade
Olhando um sol elétrico que ilumina uma trilha feita para mim
Mas que eu não sei se quero, porque no fundo eu sei que não sou assim

Viajo nas ondas desta existência confusa
Ruído cósmico a me lembrar do tamanho do meu umbigo
Prateleiras de ofertas para ser feliz
Mas nenhuma delas traz a única coisa que eu sempre quis
Serei um eterno insatisfeito?
Ou apenas mais um pobre aprendiz?
Crendo que cada passo é um avanço à frente
Mas sem saber o que, no final, trará a conrrente
Confiando apenas no que se sente
Porque a razão é loucura,  uma loucura que vende e mata

 Luta, invasão, repressão
Até quando não veremos onde é que está o nosso irmão?
Mas já não importa, porque etiquetaram a realidade
E só a compreende quem paga pelo cinema
Porque o novo deus dinheiro não é piedoso
E nem tem misericórdia
Só tem ganância, e apenas quer adoração
Se mate por ele, e talvez ele lhe poupe um pouco mais de vida
Vida no iate, na costa das praias compradas
Onde jazem os restos
De uma natureza que foi desarmada

Mas ignore tudo isso
É peso demais para tão pouca consciência
Que caindo sobre todos nós
Esmagaria nossas faces na vergonha
A prepotência do controle absoluto
O abandono daquilo que não é mais que um minuto
Faça valer cada centavo
Porque nos cofres largos da atualidade
Não cabem pensamentos, apenas vontades
Que se vendem, prostituem-se com suas próprias imoralidades
Enquanto uns morrem a ver as maravilhas da TV
Perecem nos campos aqueles que lutam por aquilo que há muito já não se vê