quarta-feira, 29 de abril de 2015

Ave maria



Silêncio quase que tocável 
Leve frio frio vento de primavera
Em uma varanda alta e confortável
Vem todos os dias à espera

Horizonte distante, mas límpido
Uma visão majestosa do infinito
Que enche não só os olhos 
Mas também todo o espírito

E por mais cansado que se possa estar
Toda frustração perante tal natureza
Para longe, rendida, se deixaria levar
Quase que a ver naqueles montes flutuantes um rosto a mirar
Com bondade para baixo, a seus filhos abençoar

Entoando ao longe em um rádio uma voz clara e cristalina
Fala de milagres passados, ela fala de vida
Em momento mais oportuno não poderia vir lembrar
Que os amores de mãe são impossíveis de se igualar

E enquanto cada vez mais vai se deixando levar
O coração embalado em consolo se permite descansar
Pois estendidos nos céus
Braços de amor perfeito agora consegue enxergar

E quando um leve raio de sol por entre as nuvens consegue escapar
Olhos úmidos agradecidos ele faz brihar
Até que nas memórias surge aquela velha face conhecida
Tão longe agora, mas que nunca foi esquecida

Então quando a voz e a luz aos poucos embora se vão
Juntando as mãos, olha para cima uma vez mais
E sente em seu íntimo uma pequena comoção
É promessa eterna que de novo real se faz
Pois aquele véu azul de mãe cobriu
Outros tantos recantos por aí que também buscam a paz

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Eterno enquanto durar



Passava pela rua. Distraído, a olhar seu celular. Olhava anúncios avulsos, buscando algo que pudesse o satisfazer. Escorregando os dedos para lá e para cá, ia escolhendo o que poderia querer, e o que não tinha interesse. Até que, em um dado momento, acerta num dado alvo. Interessante, instigante... "É, pode ser que seja legal", pensou.
Então, sem pensar duas vezes, compra aquela ideia, e já faz planos entusiastas. Aquela ideia do novo toma conta de sua mente, e até mesmo seu corpo responde aos estímulos do prazer de consumir algo que não antes conhecia. Produto novo no seu mercado, era preciso experimentar aquela nova mercadoria revolucionária.
O tempo passa, enquanto o entusiasmo só cresce. Até o momento esperado chega, e seu pedido está à porta. Hora de abrir a embalagem, ver o que há de novo ali dentro, enquanto se delicia com o prazer do consumismo aplicado a outras vertentes. Aquela mesma sensação de pegar um livro recém-comprado, com cheiro de páginas novas, sem marcas, sem manchas, sem nada.
Mas, a despeito das promessas das propagandas diárias, não há nada de extraordinário ali. Não para olhos tão superficiais, imediatistas, ávidos de algo que nem sabe o que é. E o tédio em ver aquela mesma imagem vem tão rápido como um motorista que avança um semáforo na rua. O cuidado anterior dá lugar ao mero desprezo e, tão fácil como veio a euforia, toma lugar a impaciência e, obviamente, a procura por mais um produto novo. Uma promessa que não seja falsa, que não seja embalagem, enquanto não percebe que ele mesmo já se tornou rótulo e código de barras. Então, no último estágio, numa decisão tão simples e fácil, descarta mais um objeto inútil, sem uso. O interesse acabou, e o ego não existe para perder tempo com algo que não o satisfaça. E assim, novamente nas mesmas ruas, volta à sua caçada inicial, num ciclo interminável que gera apenas destroços descartados por aí, que ficam a juntar seus próprios pedaços, enquanto buscam alguém que veja neles algo mais que mera utilidade transitória.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

O chamado




Ar que toma os pulmões 
Um estrondo enorme no espírito
Mais forte que o ronco de cem aviões
E enquanto muitos jazem e sonham com a solidão
Ali agora descansa um guerreiro
Vendo os dias inglórios que se seguirão
Num pronfundo clamor
A entoar um cântico que domaria
Até mesmo os já arredios espíritos tomados pelo terror

E enquanto quebrantado de joelhos por aquele amor
Sente em si tremor, terror
Mas ao mesmo tempo um tenro abraço de pai
Para onde toda aquela antiga dor se esvai
E enquanto lágrimas e mais lágrimas correm para o chão
O coração rebelde se abre, mostrando a quem aquela cena testemunhasse
A sublime paz da sincera redenção

Então um pé, e depois o outro
Subindo ainda envolto naquele abraço invisível
Surge de novo aquele velho guerreiro
Mais forte, mais belo, sabendo ser um mero passageiro
Que sabendo que mesmo trazendo em si a escuridão soturna da noite
Também tem consigo a lua e as estrelas
Que não permitem que o chichote do vazio o açoite

Criado em seu próprio universo
Pôde agora enfim aprender
Que é natural o ser humano ser controverso
Com os espírito em fogo vivo como no fim de tarde um pôr-do-sol
Ouve com arrepios, olhos fechados, respiração ofegante
Aquela voz esperada, límpida e pura como as águas de um atol

E se deu conta de que ela estava ali o tempo todo, com paciência a esperar
Pelo dia que finalmente
A si mesmo ele iria perdoar
Permitindo que nascesse mais uma vez
Um sol vivo e belo, que no céu de su'alma agora iria brilhar

terça-feira, 14 de abril de 2015

(Re)União

 

Momentos passantes
Ritmo contante
Riso cheio de dentes
Coração em chams ardentes

Um constante movimento
Em torno de um mundo perfeito
Ah! que beleza a inocência
Aquelas almas alegres
Parecem até ter chegado à quintessência

E não importa o que aconteça
Não importa quando tempo passe
Notas de caderno sempre serão pedaços escritos de alma
Amor em palavras, transcritas com tempo e com calma

A vida devia ser medida não em anos, mas em amores
Porque eles que nos inspiram, nos livram de nossos temores
Oh! Grande inspiração
Esse anjo divino, que com graça me faz deixar o chão
Mas que grande alegria
Minh'alma que faz as pazes
Com aquela velha e pura fantasia

Chutar folhas secas pelo chão
Andar sem pisar nas linhas dos ladrilhos
Olhar para o céu no pôr-do-sol e ver cores em profusão
Oh! Doce alma amada, onde quer que você se encontre
Receba desde agora um beijo de luz, que aquece a sua fronte


E quando vilões o destino mandar

Façamos uma luta de espadas, com escudos como heróis
Sejamos corajosos, mas também bondosos pois já sabemos amar
E quando toda a batalha por fim estiver vencida
Teremos ainda olho a olho a mesma chama quente e vívida

No balanço do abraço do mar
Em um barquinho pequeno para longe flutuar
Mãos dadas para cima a olhar
A beleza das estrelas que um dia iremos de alcançar
Até lá durma e sonhe comigo
Pois toda noite não há universo que possa nos separar

Em lembranças de um futuro que será vivido
Dias perfeitos, mansos como nós dois
Esta vida sendo um caminho já há muito percorrido
E juntos nas beiras do infinito
Seremos estrelas olhando também
Outros tantos amantes em seus barcos
Que na brisa do oceano vão e vêm

domingo, 12 de abril de 2015

Perfeição




Estamos todos sempre rodeados por outras pessoas. Família, amigos, conhecidos de trabalho, colegas de escola/faculdade. Todos os dias interagimos com um outro alguém, e também com nós mesmos. Em diferentes espaços e tempos, somos envolvidos em contextos diferentes, que nos dão diferentes níveis de proximidade com o outro. 
Essa nossa sociedade atual é dinâmica. Até demais, talvez. Tudo muda rapidamente, e queremos informações quase que na velocidade da luz. E, de maneira quase que automática, aplicamos essa ansiedade a nós mesmos, e a quem está ao nosso redor. 
Um mero cumprimento cotidiano quase sempre é seguido de perguntas sobre coisas da vida do outro: como vai a família, como vai a faculdade, o trabalho... Nem sempre, ou melhor, poucas vezes, realmente damos atenção para como a pessoa em si está. O estado de seu espírito, o que ela está sentindo, os seus temores, anseios e sonhos. Não temos muita paciência para devaneios. Para ideias. Para sugestões ou perguntas. Questionamentos. São todas essas coisas perda de tempo, pois o dia logo acaba, e ainda não fizemos o que devíamos.
Então, pouco a pouco, morremos em nossa própria falta de ação. Sim, viver é estar constantemente agindo, pensando, corroborando, contribuindo, sendo ajudado, e deixando que nós sejamos modificados, pouco a pouco, pelas mãos poderosas mas também bondosas do tempo e do destino. E quando começamos a dedicar meros cinco minutos para uma conversa curta, mas verdadeira, começamos lentamente a não só aprender a alcançar o outro, mas também a ajudá-lo no ponto em que ele se encontra na sua jornada. Maravilhosamente, entretanto, percebemos também que, exatamente como aprendemos, tudo neste universo e nesta vida é uma troca, e os atos de amor e carinho que doamos, são os mesmos que recebemos posteriormente. Não necessariamente na mesma hora, mas certamente em algum momento futuro. Provavelmente quando mais precisarmos. E é por isso que à vida não cabe outra palavra que não seja esta: perfeição. Pois somos todos misto de luz e matéria interagindo uns com outros, sempre aprendendo a ser mais e mais a nossa versão mais pura.

sábado, 11 de abril de 2015

Espera



Era tarde da noite, já voltava de novo o dia
Barulho das ondas na praia
Som dos carros nas ruas ao longe
Uma mente que busca algo que a distraia

Memórias de amigos já longe
Vieram e se foram como os barcos no porto
Deixaram saudade, esse bater no peito meio torto
Mãos agora vazias, alma e espírito agora em outro lugar

E mesmo que existam muitos mundos por aí
Me dissera que até cada um deles
Existe um caminho que antes passa exatamente por aqui
Seguindo pela areia fria na madrugada
Se perdendo em meio à cidade agora calada

Sem voz alta, sem outdoor na beira da estrada
Pois grandes histórias se encontram sempre no mais modesto lugar
Sem fama, sem glória, essas marcas de uma casa já abandonada
Onde não existe água, onde já falta até mesmo o ar

Pode ser que aquele abraço um dia venha mesmo a chegar
Intenso, poderoso, como foi desde sempre destinado a ser
Um beijo eterno que entre estrelas lugar irá tomar
Fazendo para sempre vida aquela juventude
Que o tempo insiste em tentar levar
Música clássica através dos séculos
Histórias de harmonia que em notas se deixam contar

Então sonhando continua lá na beira da praia
Sem tristeza, apenas com a certeza
Em paz com o dia de hoje, em calma espera pelo amanhã
Enquanto brinca de montar os pedaços soltos do passado

Sem pressa para acabar
Pois a despeito do que dizem todos os dias
Temos sim muito tempo ainda para poder brincar
E quem sabe um dia até mesmo uns com os outros
Aquilo que somos de melhor poderemos enfim compartilhar

sábado, 4 de abril de 2015

Irmãos



Bondade demais para ser mero acaso
Sem obrigação, por pura espontânea ação
Juntos lado a lado seguindo o mesmo compasso
Nas ruas da cidade de bicicleta
Jogando bola nos campos de grama verde
Sorrisos alegres quando apenas sendo jovens em festa

Nos dias difíceis um ombro para procurar
Nos dias alegres um olhar de alegria mútua encontrar
Sintonia que um ao outro faz se ligarem
A certeza da presença mesmo quando distantes se encontrarem

No quintal de casa novos mundos encontrar
Em frente ao portão de casa uma nova realidade desvendar
Capas vermelhas nos ombros, e já são capazes de voar
Em seu universo puro e novo, toda noite é dia de estrelas cadentes
E quando as nuvens insistem em se aproximar
Dançando nas poças de água a chuva eles irão celebrar

E mesmo que o tempo seja mesmo implacável
E uma hora um breve adeus eles tenham de se dar
As memórias lá sempre estarão
Sendo promessa dos dias futuros que ainda virão
E no fundo se souberem procurar
A verdade é que um ao outro dentro de si irão encontrar
Pois apesar da fragilidade da existência humana
Há ainda aquelas pequenas e amáveis coisas contra as quais o tempo jamais irá triunfar