sábado, 31 de dezembro de 2011

Ano novo


Que seja mais uma etapa, que seja mais um começo. Que possamos encerrar o que deve ser encerrado, e começar o que deve ser começado. Mais uma vez podemos dizer que, de alguma forma, esta etapa foi terminada. Se com vitória ou luta, cabe a cada um avaliar. Mas a derrota não existe, porque a cada um é dado o direito de tentar de novo.

Que encontremos novas razões para mudar, viver e sorrir. Que encontremos uma pessoa nova para amar, ou motivos novos para amar aquela com quem já estamos. Novas conquistas, novos planos, novas realizações. Novas lutas, novas perdas, novos aprendizados.

Que não seja apenas uma mudança de calendário. Mas que a cada dia, deixemos Deus construir algo novo dentro dos nossos corações. Que não seja uma data para comemorar uma banalidade, mas que possamos encarar como uma nova estrada.

Que o medo de ter passado mais um ano não vença a alegria de ver outro começando, e o nosso medo de nos machucarmos não vença a nossa capacidade de abrir o coração a quem merece. Que possamos por fim sermos verdadeiramente novos, esquecendo os velhos preceitos que já se mostram inúteis. E que isso aconteça a cada dia, com a paciência de quem sabe de um ano novo significa que tem 365 (neste caso 366) dias para escrever uma nova história, antes que mais uma etapa acabe, e nos vejamos de novo fazendo promessas que jamais irão se cumprir.

Feliz ano novo a todos!

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Nina




Vento que soprou
Levíssimas chamas ele apagou
Qual breve história que se contou
Tudo qual água evaporou


O que sequer começou
Para sempre se acabou
Há tanto tempo se perdeu
Mas de alguma forma
O coração não esqueceu
Ainda hoje às vezes
Me pego a perguntar
O que eu seria hoje se esse breve conto
Fosse história ainda por terminar


Tanta coisa mudou
Meu reflexo no espelho se transformou
O que foi que faltou?
Foi isso que sempre meu eu perguntou
Questionei o que fiz pra deixar falecer
O que hoje vi que sequer chegou a nascer
Será mesmo que é tão simples esquecer?


A vida sempre segue seus próprios planos
E no meio deles vivemos mocinhos e vilões
Acho que por isso nos chamamos humanos
Pois rimos, conversamos e choramos,
Sem perceber os cravos que pregamos


Desse aroma já não há mais fragor
Meu paladar já não percebe mais este sabor
Apenas lembro de que foi o toque de uma rosa
Que por três curtas estações
Fez saltar esta alma em polvorosa


Agora deixo apenas para você
Um adeus e que continue a viver
Sonhos que façam tua alma crescer
Apenas não deixe de novo morrer
O suave perfume que crias sempre sem perceber...

sábado, 24 de dezembro de 2011

Natal



Dia de Natal. Dia de dar presentes, ganhá-los, juntar a família, cear, beber, cantar, rir. Lembrar que mais um ano está acabando. Esperar até meia-noite, esquecer todos os problemas por algumas horas.

Para depois começar tudo de novo. Esquecer de todas as coisas boas que pensamos, se é que chegam a ser pensadas, durante esse curto espaço de tempo. Será que o Natal significa isso mesmo? Fugir da realidade, fazer de conta que somos felizes, e depois lembrar que na verdade não é bem assim?

Será que precisamos mesmo de uma mesa lotada de gostosuras, sendo que a nossa própria alma é que carece de alimento? Um simples pão comunhado verdadeiramente traz muito mais alegria do que uma "família" que se senta à mesa, e sequer faz uma oração antes de se entregar à comilança característica dessa época.

Que hoje à noite, cada um tenha o seu momento de encontro com Cristo, que é o verdadeiro sentido dessa festa. E lembrar que Ele mesmo nasceu em uma manjedoura. Então não precisamos fazer regalias fingidas, dizendo estar festejando o nascimento dele. A única que Ele pede, e isso não só hoje, mas todos os outros dias do ano, é que sejamos verdadeiros e tenhamos amor uns aos outros.

Que hoje à noite, possamos lembrar do nascimento de quem, durante toda a sua vida, simplesmente se dedicou a trazer bem a quantos pudesse, e cujo pés trilharam um caminho que é exemplo para todos nós. E que, hoje, mas não só hoje, Cristo nasça dentro do coração de cada um de nós, crescendo e transformando a nós mesmos, sendo a luz para guiar nosso caminho.

Um feliz Natal a todos.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Devaneios



Olhei para os passos que dei
E agora eu posso ver
Coisas que naquele tempo não enxerguei
Penso neste momento
Quantas vezes mais eu errarei?


Vejo uma face querida
Uma face muito mais que amiga
A contrapôr-se ao vento que me cerceia
Me protegendo de tudo que agora me rodeia


Sonhei acordado
Que já não vivia mais desse jeito acanhado
Sonhei enquanto dormia
Que a noite se transformava em dia


Decidir é um degrau que não se vê
Se para cima ou para baixo
Só o depois mostrará a você
Exceto quando inflama no coração
Uma chama amiga, que segura a tua mão


Palavras de eternidade
Que quando seguidas com sinceridade
Te guiam à verdadeira felicidade
Paz de espírito em meio à tempestade
Ventos que vejo obedecer, à uma única vontade
Arrastando para longe tudo que meu coração
Clamava envolto em saudade...

domingo, 18 de dezembro de 2011

Fim





Hora de mudar. Sempre chegamos ao fim de uma fase, ao fim de uma história, ou então nós mesmos, cansados das mesmas voltas que sempre acontecem colocamos fim a ela. Há situações que se auto-sustentam, e não trazem nada além de pensamentos aflitivos para nossas mentes. E pôr um fim nelas é algo que apenas nós mesmos podemos fazer.


Não é necessária uma grande sabedoria para tanto. Basta apenas buscar quem te dê a capacidade para agir da forma correta, sem ter o medo do que virá. Porque ainda que seja difícil a princípio, depois de um tempo veremos que foi melhor tomar tal atitude, ao invés de manter uma paz que custa nossa paz de espírito.


A vida não é um campo de colheitas felizes, e sim uma colheita de tudo aquilo que plantamos. Ainda que o presente seja doloroso, é apenas nele que poderemos nos dar um futuro melhor, plantando frutos abençoados para dias vindouros.


Não tenha medo de agir. Não tenha medo de sentir o que deve sentir. Tenha medo de se trancar em um quarto escuro, à espera de um salvador. Porque Ele já veio, disse o que precisava dizer, e fizemos o que queríamos dele. E Ele ainda está aqui, a nos guiar pelos caminhos escuros que traçamos para nós mesmos. Confiança é se deixar guiar por dentre as sarças, com a certeza de que o matagal de espinhos que temos que enfrentar vai ter fim.


E enquanto não nos guiarmos por um referencial, iremos apenas dar voltas e mais voltas, andando em círculos, centrados apenas em nossos erros. O sol ainda brilha acima de nós, mesmo que por detrás das nuvens. Basta saber onde olhar, e procurar com sinceridade, porque se trata de uma luz acolhedora demais para não ser notada.


Assim, que a cada dia saibamos procurar o sol de nossas vidas, e não tenhamos medo de adentrar pelos recantos escuros de nossos corações, a fim de iluminá-los, refletindo em nós mesmos a luz que chega, para depois iluminar jardins mais próximos.


E que a chuva de amarguras que cai sobre nós, seja incendiada pelo amor de Deus que instaura em nós um novo altar, um altar consagrado pela paz de Cristo. E, quanto às coisas velhas que ver em chamas, apenas as deixe queimar, para que não sobre nenhuma lembrança amarga diante de seus olhos. Que as pedras que são muro entre você e seu destino derretam diante do fogo que o inflamará, e a sua vitória será apenas questão de tempo.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Perturbação




Silêncio, corrompido silêncio
Dentro de mim mora um falecido compêndio
Por ora caminhando entre as pedras
Sinto que dentro de mim, a lutar estão mil feras

Duas vezes ouvi soar
Um cântico que contrariado
Não pude escutar
Soa a marcha
Já vem a alvorada
Vejo surgir do horizonte
Uma nova tropa armada

Uma guerra, que sinto estar perdida
Vejo no espelho, uma dolorida ferida
Cacos que se espalham pelo chão
Agora trago na mão, um ensaguentado coração

Olhando pela janela do futuro
Não vejo nada além
Do que um corredor obscuro
Me perdoe pai
Pois sou mera criança e tenho medo do escuro

Belos traços a escrever
Embora sejam o melhor que eu possa fazer
Jamais serão aquilo que os devaneios de minha mente
Desejam à luz do luar cometer

Por ora finjo um brilho no olhar
Enquanto vejo o relógio sempre adiante caminhar
Ao menos por um caminho optei
Vamos esperar que acabe e eu possa consertar
Tudo aquilo que por meus tolos erros quebrei

domingo, 11 de dezembro de 2011

Coerência



Pegue um livro cujos capítulos contam histórias diferentes. A cada novo capítulo, uma maneira de escrever, uma nova história contada. É bem provável que ninguém vá gostar deste livro. Afinal de contas, ninguém entende e vê propósito em algo que não tem nenhuma unidade dentro de si mesmo.


Assim é a vida. Cada etapa de nossas vidas é um capítulo. E quando não temos unidade dentro de nós mesmos, viramos um livro de contos inacabados. Não há sentido, não há elo  que mantenha tudo aquilo que fizemos como sendo parte de algo.


Peças de um quebra-cabeças que não se encaixam, quase sempre são criadas por não termos um referencial de vida. A cada momento, algo diferente nos guia, porque não não temos nada que norteie nossas vidas. Somos simplesmente marionetes do destino, por assim dizer, e nossas reações, atitudes e iniciativas acabam sendo guiadas pelo que é melhor para o momento.


E então acabamos por não ter uma identidade, assim como um livro sem título. Somos um jogo de palavras cruzadas, onde qualquer coisa pode ser achada, bastando apenas ocorrer a situação certa. É extremamente  triste o fim de quem vive como uma pintura abstrata exposta num museu: as pessoas olham, não vêem significado, tentam entender, mas cada uma vê uma coisa. No início é divertido, mas depois de um tempo elas cansam, e vão embora, na busca de outra pintura que traga para elas algo mais que alguns riscos tortos sobre o papel.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Cântico de socorro



Abro a porta de meu coração
Um vento gélido lá de fora
Vem desafiar essa minha nova intenção
E continuo sem poder descrever
Todas as grandes coisas que posso viver


Quando a claridade entra posso contemplar
A grande bagunça que preciso consertar
Porém uma paz imensa invade meu ser
Dando a certeza que é isso que devo fazer


Doloroso é para mim saber
Que apenas meus olhos no espelho
Acompanharão meu viver
Embora lá de cima esteja por mim a velar
No caminho das pedras eu decidi entrar


Um espinho farpado entrou em meu coração
Envenenou-o, e dele preciso abrir mão
Um novo sentir é o que quero viver
Mas apenas sua companhia por ora quero para meu ser
Que estas lágrimas irriguem minha colheita
Pois sei que nenhuma dessas obras será desfeita


Que teu amor ilumine meu ser
E que aquilo que desejas eu possa fazer
Mais que mera poesia, essa é uma oração
Sim Pai, eu deixo minha vida 
Junto ao amor do Teu coração ...

domingo, 4 de dezembro de 2011

Tempo certo



Engraçado como certas ideias maturam por um longo tempo dentro de nós, apenas no plano do querer e, de repente, todas as cosias cooperam para que ela venha a se cumprir. Não só os meios surgem, mas também dentro de nós surge algo que é mais que a vontade, é a própria capacidade de colocar em ação nossos planos. É necessário apenas esperar até que esse momento venha, até que um dia as coisas simplesmente começam a fluir.
Esse é o tempo certo das coisas. O tempo certo de aprender, de construir, de colher os frutos que plantamos. O tempo certo para rir e chorar, para falar e ouvir. No fim de cada etapa temos o que precisamos para continuar, para seguir vivendo cada dia de nossas vidas com a certeza de que temos algo a construir e algo novo para aprender. 
Não basta querer, é preciso saber querer. Saber entender, saber crescer e ver que a vida é muito além do que desejamos para nós mesmos. Existem outras pessoas, outras coisas que devemos fazer, e cada uma delas tem um tempo e lugar em nossas vidas, que é certo e se alterado, afeta todo o plano de nossa existência.
Assim, que tenhamos a paciência de saber que todas as coisas que devem ser serão, não apenas no tempo certo, mas também da maneira certa, porque por mais que façamos qualquer coisa por nossos objetivos, os fins não justificam os meios, e são eles que mais importam na história de nossa existência.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Cegueira Voluntária



Todos os dias estou a escrever
Tudo aquilo que eu queria ser
E todos os dias eu estou a ver
Tudo aquilo que posso esquecer


Andando pelas ruas de uma cidade solitária
Felicidades individuais são a causa primária
De uma tristeza que me agonia
De um grito surdo de dor que escuto noite e dia


Faces voltadas para o chão
Mãos estendidas à procura de um irmão
Esperando por alguém 
Que no lado esquerdo ainda tenha um coração


Facilmente me descubro a pensar
Em todas as coisas que capto pelo ar
Feras que debalde se debatem
Os mesmos vilões que falsamente se combatem


A vida é como uma poesia
Cujas rimas se fazem novas a cada dia
Um drama que se disfarça de comédia
Ainda somos os bárbaros da Idade Média
Duelando por um posto de poder
Jogando fora todas as boas coisas que poderíamos fazer


Pisando sobre restos de humanidade
É hipocrisia dizer que seguimos A verdade
Que sejamos perdoados pelo que estamos a fazer
Mas que o sejamos principalmente
Pela orgulhosa teimosia em não querer ver







domingo, 27 de novembro de 2011

Acreditar



Não ver. Apenas saber, de alguma forma, que está lá, esperando por nossa chegada. É ver além, contra todas as possibilidades da realidade atual. Continuar caminhando, continuar tendo a certeza inabalável de que é possível. 
Talvez esse seja um dos grandes exercícios da vida. Tomar a decisão de que não seremos apenas corpos andarilhos que não conseguem ver nada além da realidade que vivemos. Sonhar é preciso, e sem sonhos não construímos novas vidas. 
Sem acreditar, não fazemos nada além de nos conformarmos com o que temos. É simplesmente dizer: não sou capaz, não é possível. Mas para Aquele que nos conduz, todas as coisas são possíveis. E com Ele, podemos ir longe, além de tudo que sequer imaginamos um dia.
E, quando não conseguimos o que acreditávamos, então podemos ter duas reações. Nos revoltarmos e buscarmos o que planejamos a todo custo, perdendo precioso tempo de nossas vidas, ou aceitarmos que o melhor aconteceu. Continua sendo, da mesma maneira, o simples ato de acreditar. 
E mesmo os que se rebelam, um dia fazem uma re-leitura do que se passou. No fim você olha para trás, vê tudo que fez, dá um suspiro, abaixa a cabeça por um momento e então segue adiante.
Recomece todos os dias, porque no início de todos eles é necessária uma decisão: a decisão de fazer o que deve ser feito, acima de qualquer outra coisa que se queira, se deseje, se imponha ou simplesmente te atraia...
Nem sempre é fácil, e há sim coisas que simplesmente não podemos enfrentar sozinhos. E aí está a perfeição da vida e de quem cuida de nós: a verdade é que nunca estamos sozinhos, e mesmo que todos nos deixem, nossa fé nos dá a certeza de que mesmo nesses momentos, temos sim a quem recorrer.

E isso faz toda a diferença.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Despedida



É preciso me esconder
Para que eu não venha a me perder
E preciso me apartar
Para que nas pedras eu não venha me assentar


Ao perder o que dizer
É preciso um tempo para responder
Talvez meu silêncio seja a voz de sua ciência
Talvez tuas ditas sejam apenas minha essência
Quando olho não mais vejo
Porque a luz me cega, e eu apenas pestanejo 


Céus que desabam sobre o mar
A luz já não ilumina nenhum lugar
Palavras aleatórias venho dizer
O melhor é o que desejo a você


Vivo e sinto, 
Vejo e escuto
As vozes que vêm de um mundo diminuto
E agora ao entardecer
Eis que posso vir lhe agradecer
Por todas as maravilhas que pude participar
E de todas as vidas que testemunhei mudar
Porque esta é a hora em posso dizer
Adeus, fique bem, não deixe de escrever
Foi sim muito bom conhecer você... 

sábado, 19 de novembro de 2011

Verso, estrofe, história




Cada texto tem seu estilo, sua linguagem, o seu modo de levar ao leitor as ideias que ele traz consigo. Rodeios, pequenas comparações, até que o seu verdadeiro propósito seja revelado. Uma palavra de cada vez, o todo é construído. 
O mais fantástico, é ver as possibilidades da escrita. A linguagem é algo vivo, dinâmico, que tem em si uma individualidade, característica de quem a criou. Uma marca que marca. Estilo é algo que se tem, não se constrói, compra ou rouba. E autenticidade é simplesmente uma questão de honestidade. Honestidade consigo, com os outros...
Talvez a vida seja como um texto. Cada dia, uma palavra. Cada experiência, um capítulo. E cada história, uma existência. Todos temos ideais, conceitos, e nossa individualidade. E, com toda certeza, nosso propósito. 
Um texto, deve ser lido com a paciência de saber que no momento certo os porquês são revelados. Um texto, deve ser lido com a certeza de que o final ao menos explicará o porquê de todas as coisas terem acontecido. 
E assim é a vida. Não sabemos o final e muitas vezes os porquês. Mas sabemos que um dia, um dia a nós será mostrado o porquê de todas essas estranhas coisas que nos bombardeiam, virem a acontecer...

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Plenitude







Formigas, cheiro de mato
Impressões em meu ser, minha alma possui tato
Viajo sem sair do lugar
Ah, não há melhor lugar onde eu poderia estar
Corpo a se encontrar
Minha mente a fervilhar
Simplesmente eu a crescer
Em meus próprios devaneios eu irei me perder
Não foi nada em especial
É apenas o efeito
Daquilo que veria ser normal
Criança a sorrir
De diante do espelho eu não quero mais fugir
Preciso parar para absorver
Todas as simples experiências que pude viver
Toque no coração a me livrar
De todas aquelas sombras que querem me buscar
Bela história consigo ver
Que dos Teus pensamentos
Veio para em minha vida florescer...

domingo, 13 de novembro de 2011

Indescritível



Algumas vezes passamos por situações que fogem a qualquer palavra que possamos usar. É algo tão sutil, tão intenso, tão surreal, que simplesmente perdemos a capacidade de fala. É simplesmente impossível dizer o que se sente, o que se quer sentir, o que se quer viver. Apenas sentamos e choramos, porque é a única manifestação que podemos demonstrar da tempestade que revolve o nosso espírito. Até que alguém venha e consiga nos entender e, num abraço apertado, diga em nossos ouvidos: "Vai dar tudo certo."

Essa muitas vezes é a voz de Deus a soprar em nossos ouvidos um ânimo renovador, que revolve até os recônditos do nosso ser, e começa a colocar as coisas no lugar. Um pouquinho de ânimo, um pouquinho de força, para poder recomeçar. A vida é feita de quedas, mas o que define ou não a sua postura é a vontade que tem de se levantar.

Toda caminhada é feita dando um passo de cada vez. E é simplesmente fora do nosso campo de descrição, a sensação de ter alguém caminhando ao seu lado. Aquela pessoa que te lança um olhar de compreensão quando nem você mesmo se compreende, e que está disposta a caminhar o tempo que for preciso até que você esteja bem, e seus caminhos levem a novos rumos.

Em tudo isso, Deus age, dando a todos nós a oportunidade de continuar. Mas primeiro precisamos nos permitir isso, deixando as sombras do passado para trás. Sem elas, apenas sem elas é que poderá virar a página e começar a escrever o futuro, um futuro sem chagas, dores e arrependimentos. Apenas com a força do Pai, podemos vencer anos de lutas, um dia de cada vez, porque apenas as crianças têm a sensibilidade e confiança de começar a subir uma escada cujo fim não vêem.

Que sejamos eternamente crianças, onde o mundo consiste em um espetáculo constante, onde o show da vida é algo que transcende a nossa alma. É algo simplesmente...

INDESCRITÍVEL.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Recados



Há uns dias eu te vi
Assim como eu
Estava a andar por aí


Há uns dias eu me perdi
Assim como você
Pude ver o que nunca senti


Estátuas de mármore a ruir
As árvores no campo estão a florir
Tempestades revolvem os oceanos
E o que fizemos não ficará coberto por belos panos


O campo está semeado
De alguma forma, você nunca esteve parado
Ainda que apenas os frutos do ócio
Seja o que você tenha plantado


Corra muito além de tudo aqui
Antes que um raio tua alma venha partir
E em lágrimas de pesar
Seu coração venha a cair


Viva agora
Pois esta é a hora
O passado já acabou
E o futuro ainda não chegou


Viva agora 
E tenha mente
Que aquilo que vem depois
É fruto do presente


Esquecendo as vozes alheias
Sendo sincero, buscando a resposta
Porque além destas pesadas correias
Alguém está a bater na porta

domingo, 6 de novembro de 2011

Amar


Simples. Puro. Espontâneo.
É estar ao lado de alguém porque quer, porque não tem motivos para ir embora, porque aquela pessoa simplesmente te completa. É estar ali porque vê mil motivos para ir, mas apenas um para ficar. Não é necessário grandes sacrifícios, porque nada é sacrifício quando se ama. Acordar todos os dias, e se apaixonar novamente ao ver aquele par de olhos se abrindo diante de sua face. 
Cada um tem sua forma de expressar, mas existe apenas uma de amar. Não há nada tão grandioso quanto ver um filme ao lado de quem te faz bem, nada tão pequeno quanto o tempo que você gasta com essa pessoa, e nada tão doloroso quanto vê-la partir. É gratuito, é aconchegante. Quem não busca alguém que veja o que ninguém mais vê em você?
Entregar-se, compartilhar toda a sua vivência, e simplesmente resumir em três palavras um universo inteiro de sensações: Eu te amo.
A cada um, uma forma de ver a vida. E a cada um, uma forma de viver a vida. Mas a cada um, uma forma de estar vivo. Amar é viver, sentir, rir da chuva, rir daquelas pequenas coisas que normalmente passam imperceptíveis aos nossos olhos. Ame todos os dias, ame as coisas boas e ruins da vida, porque elas de alguma forma fazem você ser alguém melhor.
Ame a si mesmo, e perdoar cada falha será simplesmente corrigir nossas imperfeições. Apaixone-se por tua existência, e cada dia dela será uma experiência única. Ame seus amigos, e verá que sua família é muito maior que você poderia imaginar. As grandiosas obras da vida não são feitas pelos que têm força, inteligência ou recursos materiais. Quem ama faz os maiores sacrifícios, está sempre disposto a ajudar e, mais que isso, está disposto a corrigir, ainda que em um primeiro momento não seja compreendido.
Ame na simplicidade, ame na mais completa verdade. Jamais pense que não existe alguém para você, porque está rodeado de pessoas que são para você, cada uma à sua maneira. E não é necessário mais que um coração pulsante para viver. A dor da solidão atinge aqueles não buscam companhia e, como muitos dizem, o amor aquece. Mas para isso, deve haver troca. Um aquece o outro. Dois braços solitários não fazem um abraço, nem duas bocas distantes um beijo.
Nem sempre quem amamos nos ama. É hora então de aprender a amar da maneira que essa pessoa possa responder. Isso é amar, é estar disposto a se modificar, a buscar novos meios de estar com quem se quer. E se nos machucamos, sempre existe remédio. Basta procurar de verdade. 
Estar sozinho não é de forma alguma estar solitário. Solidão é estar no escuro, sem uma luz que te aqueça, uma mão que se erga na sua direção, e alguém que dê a vida por você. E por mais que ninguém faça isso por você, uma pessoa já fez isso, e todos os dias cuida de você. É tudo que precisa para começar. E o que vier depois, acredite: Ele vai te ajudar.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Par de uma carta só


Ando, percorro um caminho longo
Aqui estou a vagar pelos meus próprios medos
E no primeiro erro, ao chão sou levado pelo tombo
Às vezes me sinto uma sala secreta repleta de alheios segredos


Finjo não ligar
Podes por mim passar
E quando em dor, a minha face ver
Sorriso no rosto, já longe te vejo a correr


Estou aqui
Caso ainda se lembre de mim
Enquanto outro me procura
Sempre verei além, desta realidade obscura


Creio que não seja errado
Mas tudo ficou no passado
Estarei sempre a ouvir
Até o momento que tenhas de partir


Pelo meu caminho eu vou
Não sinto que ninguém a este andarilho deixou
Apenas puderam olhar para cima
Por cima desta grossa neblina
Suas asas abriram
Para o céu elas seguiram


Porto seguro a ver o mar
A ver navios irem e chegar
Receber quem está a vir
Me despedir de quem está a partir
Talvez esse seja o simples sentido
De todas as confusas marés que tenho vivido


Me perco, me descubro, me reinvento. 
A cada momento, sou uma nova obra, uma nova pintura, uma nova poesia, 
Na busca por um apreciador da arte da minha existência
Que veja além da minha moldura, que veja a minha completa essência...

domingo, 30 de outubro de 2011

Páginas da vida



Nossas vidas sempre possuem fases. Nelas, passamos por alegrias, tristezas, momentos difíceis... Sempre fica uma marca de cada etapa, cada época de nossas vidas. Um amigo que se foi, um amor que se perdeu, uma prova que se venceu. E sempre ao fim de cada uma delas, percebemos como foi bom terminar, apesar da saudade daquilo que foi bom martelar a memória, e queiramos voltar a eles.
Mas nada volta. O que passou não volta mais, e o que perdemos ficou para trás. Hora de continuar, hora de prosseguir, sem vacilar, sem olhar para a estrada que nossos pés já conhecem. Hora de se aventurar, de se arriscar. E mais que isso, novas provas enfrentar, e saber que aquelas que não vencemos ainda, serão com certeza enfrentadas novamente, até que consigamos superá-las.
O mais importante talvez seja, saber que cada uma dessas etapas é uma página em nossas vidas. E, como um amigo meu me disse, essas páginas estão cheias. Não podemos escrever mais nada nelas. Hora de encerrar, encarar a nova página em branco, e não perder mais tempo rabiscando mal traçadas linhas sobre o que já está escrito. Nunca será o original, e apenas borrará o que já foi feito, pensado, vivido. Ou seja, simplesmente não será real. Será apenas uma fantasia a nos atormentar cada dia por se descobrir como uma farsa, uma tentativa de fazer o passado ser o presente, da maneira que queríamos que ele fosse, sendo que na verdade, devemos trabalhar no presente para que o nosso futuro seja o mais próximo possível do que desejamos.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Nostalgia





A chuva vem me lembrar
A tempos antigos quer me arrebatar
Mas que tempos são estes?
Que sequer consigo me lembrar?
Embora a memória não esteja aqui
O coração insiste em dizer que algo assim já vivi


Tempos atrás
Uma vida que na névoa se desfaz
Procurar não me leva a nenhum lugar
Embora o aroma antigo aqui esteja a chegar
E eu fico atordoado
Será que estou sonhando acordado?


É estranho parecer 
Que um detalhe fugidio estou a esquecer
Como se algo estivesse prestes a se repetir
Como se algum sonho de outrora estivesse apenas a dormir
Não tenho ideia do que seja
Mas é flor que toda primavera viceja


E me pergunto de onde vem
Essa angústia estranha que o meu espírito detém
Uma colina verde que não vi em nenhum lugar
Um leve aroma do campo que consigo captar
Uma história simples a persistir
Como se de fato ela pudesse existir


Desejoso daquilo que ainda não vi
Ansiando por algo que salta dentro de mim
Ah chuva, lave isso daqui
Embora com o sol essas pedras castelos também venham construir
Às vezes eu me acho a me perder
É, eu sinto saudades de você
Da manhã até o anoitecer
Rosto envolto em sombras de esquecimento
Mas que sinto presente a cada momento


Até que possa entender
Apenas te verei aparecer
Ruidosa como o grito de um trovão
Leve como uma pétala em minha mão
Suave como o perfume de uma rosa
Mas que meu coração deixa em polvorosa...


domingo, 23 de outubro de 2011

Palavras



Palavras que constroem, edificam, destroem. Palavras que doem, curam, saram. Podem fazer com que seu dia seja o mais especial da sua vida, ou o mais terrível dos seus pesadelos. Cada uma carrega um significado, uma intenção e um recado. Dependem do contexto, da entonação.
Um amigo que diz uma palavra de conforto, traz um refrigério. Um simples "eu te amo" muda sua forma de ver a vida. Um pequeno e confidencial "sim" te traz dias novos, compartilhados com alguém muito mais que especial, alguém feito pra você.
Palavras. Não devemos ter medo de usá-las. Devemos temer como usá-las. Que saibamos frear as inúteis, as pesadas, as destrutivas. Que saibamos ter o equilíbrio de não nos afetarmos a ponto de soltar um arpão contra o coração de quem está perto. Que cada sílaba proferida por nós seja apenas uma demonstração de amor ao próximo, e mesmo a mais dura das correções será envolvida em compreensão, humildade e carinho.
Esqueçamos as palavras rudes. Elas não servem para nada além de momentos de perdão no futuro, onde nos arrependeremos de cada uma delas, momento que perdemos completamente a razão.
Que não tenhamos medo de usar as palavras certas, todas aquelas que mostram o quanto nos importamos, sentimos... Cada frase seja uma imagem perfeita e equilibrada do que devemos ser, do que devemos buscar. Não tema as poucas palavras profundas. Tema a abundância inútil, vazia de significado. O silêncio também tem seu significado, que muitas vezes é mais expressivo do que qualquer frase que poderia ser dita.
Mas que, acima de tudo não esqueçamos uma coisa: Não importa quantas palavras você diga a uma pessoa, apenas um olhar poderia substituir todas elas.

sábado, 22 de outubro de 2011

Restauração





Água, fogo, furor
Invadem o meu ser, o mundo de novo ganha cor
Pelas pedras eu andei
Em um mar de ilusões naufraguei
Luzes pela manhã a me lembrar
Que jamais deixastes de me amar
E que a qualquer lugar, irias apenas para me buscar


Cicatrizes fechadas
As mãos estão lavadas
Brilho de uma nova vida
Não sou simples árvore ressequida
Com a luz do Teu amor doces frutos produzir
Pela estrada até Ti eu devo agora prosseguir


Passos vacilantes
Porém não mais errantes
Vi meus olhos no espelho
Medo, coração em desespero
Achavas que contra a pedra devia me atirar
Em verdade, era apenas minha missão que estavas a revelar
A parte mais difícil não foi Tua companhia buscar
E sim essa falha imagem de Ti, eu poder aceitar


Diante de Ti porém, isso não importa
Porque ainda assim bateste à minha porta
E só me restou os olhos abrir
E humildemente responder: Senhor, eis-me aqui...

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Luzes do passado



Olho à noite para o céu
Vejo infinitas luzes sobre esse véu
Mas sei que seria enganoso eu sorrir
Pois me alegraria por estrelas que já não mais estão a existir


Olho para cima
E só vejo o passado
Ecoa o grito da obra prima
Enquanto que nada mais é hoje criado


Fingindo ser alguém
A trazer coisas novas para cá
Mas esta não é a obra de ninguém
Já nem sequer lembramos o que é amar


A lua é manchada de vermelho
Os homens já não têm coragem de se olhar no espelho
Onde é que estão as almas valentes?
Tudo parece ser um jogo de regras inconsequentes


Continuando firme em pé aqui estou
Sentindo a brisa da madrugada
Pois isso é tudo o que me restou
Pois nunca sentirei o toque de minha amada
Porque o que ainda não surgiu, é exatamente o que a tempestade já levou


Embebido em sonhos antes mesmo de adormecer
Já não são vistos mais os versos que teus corações podem encher
O furor da minha louca razão a tudo destrói
E minha insana teimosia a tudo corrói


Noite de estrelas cadentes
Por poucos segundos, um brilho efervescente
Que logo se esvai, e novamente em sonhos vazios a mente cai
Parábolas não mais ditas, histórias não mais lidas
Enquanto vou seguindo a minha própria luz, 
Mas apenas à chama da vela consumidora, é que por fim ela conduz