quarta-feira, 29 de julho de 2015

Um milhão de sóis

 
Manhãs coloridas de amarelo, em um céu primordiamente azul. Do nascer ao falecer, estar sempre sob o mesmo teto imaterial, apenas a contemplar pequenos pontos de luz brilhando ao longe, como que a sinalizar para quem, cá embaixo, segue com suas trilhas inacabadas.
Porém, para olhos mais atentos e curiosos, tanta luz é nada além de um chamado. Um convite à exploração, à busca pelo que ainda não se sabe ao certo o que é. Guiados por sua imaginação e criatividade, exploram novas fronteiras, fazendo com que o campo de visão seja ampliado, cada vez mais e mais. 
Descobrimos então que além do nosso próprio mundo, existem outros tantos. Cada um com sua própria história, com sua própria linha de evolução. Todos eles, únicos em sua singularidade, possuem histórias a contar. Histórias estas que nos trazem lições, evocando pensamentos e sentimentos a respeito do que na realidade somos. Tudo o que vemos e tocamos é nada mais que uma mera parte do universo, formado por pequenos errantes, que por vezes colidem com quem está no caminho, a enormes astros brilhantes que um dia colapsam em seu próprio orgulho e egoísmo. 
A existência humana é uma experiência inacabável. Porque assim como os grandes eventos de tantos anos atrás, a anos luz de distância, a luz de nossas ações só vai reverberar em outros mundos muito após termos deixado esse plano material.
E talvez uma das maiores lições que possamos aprender no meio de tanta relatividade, é que cada mundo possui sua própria realidade. Sua própria terra, seus mares de água, metano, ou seja lá qual sua beleza rara. Todas essas particularidades são meras diferenças existenciais, que não revelam nada sobre o quê encontrar neles. Para entender o que eles são, e o que eles passam em sua própria jornada no infito é preciso habitá-los, ainda que apenas por um instante com o poder que a mente tem de nos colocar aonde quisermos. Não há compreensão sem o tão famoso colocar-se no lugar do outro. Seja lá qual for o mundo que se queira compreender, é preciso entender sempre o que houve com ele ao longo de sua história. História essa que não é menos bela que a nossa própria apenas por ser diferente. Apenas torna o universo mais rico, e revela que o infinito é muito menos vazio do que imaginávamos.
Se tudo fosse igual em todos os pontos do universo, não aconteceria nada, possui a equidade leva à imobilidade. Sem a diferença de milhões de graus entre o sol e a Terra, seria completamente impossível que estivéssemos aqui. É a diferença que torna a vida possível, o equilíbrio sutil entre dois contextos radicalmente distintos interagindo entre si, sem tentar transformar um ao outro: muito pelo contrário, apenas transformando a potencialidade que têm em algo ainda maior.
E é exatamente esse equilíbrio entre milhões de graus e o zero absoluto, ou o vazio quase completo e a presença de toneladas que juntas chegam a distorcer a própria gravidade que faz tudo o que conhecemos ser possível. A natureza tem muitas coisas a nos ensinar, e a primeira delas é o equilíbrio entre corpos, mentes, histórias e futuros. É preciso entender que nem tudo aquilo que entendemos é uma ameaça. Olhar para a própria história da humanidade e perceber que as maiores conquistas foram feitas superando medos, velhos conceitos e também preconceitos. E, da mesma forma, é preciso aprender com a natureza que as mudanças devem sim ser constantes, mas gradativas, pois todo processo repentino gera catástrofes, catástrofes essas que, mesmo sendo superável, leva anos para cicatrizar. 
A luz não vem do sol para queimar e derreter o aço como todos sabemos que poderia: ela vem para dar forças aos brotos de vida que lutam para sair do chão, sendo o agente primordial naquilo que definimos como vida. Não é apenas inspirador, é uma metáfora para o que devemos ser uns para os outros, sem queimar, sem cegar, sem machucar, respeitando sempre as limitações que cada ser tem em sua situação atual na longa jornada que é existir.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Outono



Aquela manhã bela e morna
Nela há algo diferente, 
Sua singularidade a especial torna
Foi a chegada de um vôo conturbado
Quando era preciso ir
Mesmo que o coração almejasse continuar parado

Então chegamos a esta estação
São tantos estranhos a encarar
Mas ainda encontro abrigo no toque de sua mão
Há árvores belas por todo lado
São tantas cores, com tantos tons
Tudo que de mim sai é um suspiro encabulado

Mas para total e confusa surpresa
Os dias vão diminuindo
São um pŕenúncio de fim, envolto em tristeza
Pois o calor vai se esmaecendo
A cada vez o sol se vai mais cedo
E os sonhos de cultivo nos campos vão morrendo

Esta é uma primavera ao contrário
Em que os pássaros se vão
E no jardim,de flor só resta um lírio solitário
Então vendo que aquela é condenada estação
O frio chega enfim por baixo das portas
O que antes era promessa viva de verão
Logo em breve será neve e solidão
E no céu da mente desejos incompletos
Vívidos como auroras boreais se farão
Sombras se mexendo sobre o escuro
A companhia antes tão ardentemente desejada é que agora elas serão