domingo, 30 de dezembro de 2012

Desencontros



Uma certa emoção que toma conta de você, e sem mais nem menos, você a coloca para fora de si, perante outras almas sedentas de algum sentimento em um mundo tão árido. De fato, é difícil encontrar algo verdadeiro em dias tão plastificados. Sentir é algo arriscado. É se expôr, e se expôr abre o risco para nos machucarmos.

Nem sempre que nos expomos conseguimos que sejamos vistos. Somos apenas um mero detalhe da paisagem, enquanto que os olhos com os quais sonhamos não nos registram como nada de importante no horizonte. Triste dor é a de não ser visto. Ser um objeto inanimado enquanto se sonha com o destaque único  que uma obra-prima deve ter.

E aí vêm as lições. Nascemos para sermos encontrados pelo que somos, e não para buscarmos desesperados por alguém que não registra nossa presença. Relutamos e insistimos, mas com o tempo vemos que esta é a verdade. Ao mesmo tempo que devemos merecer alguém, essa pessoa também deve nos merecer, e dar o devido respeito à obra única que cada um de nós é.

Devemos no mover, mas na direção que nos leve adiante, rumo certo de nossas vidas. Enquanto buscarmos luzes passadas, meras aparições soberbas a tomar conta da nossa paisagem por alguns momentos, estaremos cometendo o infortúnio de perseguir o inalcançável. Quem se mostra muito quer apenas ser visto, e nada além disso. E perseguir alguém assim, é como seguir o rastro de uma estrela. Você nunca irá alcançá-lo.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Natal



25 de dezembro. Hoje celebramos o nascimento daquele que foi amor, daquele que deu tudo que tinha por nós. Sua vida foi o mais perfeito exemplo do que é a virtude, a compaixão, o zelo. Longe de toda a fantasia humana, está a realidade de alguém que trouxe ao mundo a verdade da vida, pois ele próprio era vida. 
Vida essa que vivifica e reacende em nós a certeza do futuro. Que nos traz a força para continuar, quando os mínimos detalhes do cotidiano são espinhos contra nosso corpo. Já não há mais motivo para dor, desespero, ou aflição. Porque tudo ganha sentido quando nos encontramos nEle. 
Ao caminhar, que caminhemos em uma só direção. Ao viver, que vivamos um só sentido. E ao falar, que falemos apenas uma só coisa. Pois que o amor de Cristo tome conta de nós, e nos faça melhores, nos faça mais a cada dia. Porque a porta está aberta, e já não há mais barreiras. Todos os obstáculos que os homens nos impõem esmorecem diante da grandiosidade daquela vida, daquele exemplo, daquele tão profundo amor.
Hoje, mais que nunca, é possível sentir o sol nascer, para um dia brilhante. Porque o amor se fez carne, e veio por nós. Com essa certeza, não há mais o que temer. Lutas virão, tristezas nos atingirão mas, com essa certeza, jamais poderemos nos deixar vencer. Correndo, andando, ou simplesmente rastejando, todos nós seremos encontrados, onde estivermos, como estivermos. E esse é o momento mais glorioso de nossas vidas.
Uma luz agora brilha e vela por todos nós. E esta é uma luz que brilha para sempre.
Feliz Natal, e que a luz do amor brilhe sobre a vida de todos.


sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Profecias do ontem


Bom, encerrando mais uma historinha fantástica do nosso tempo, acaba (finalmente) o dia 21/12. Para quem assim como eu não aguentava mais o balbúrdio infantil que envolveu o tema, estamos perto da hora do alívio. Mas creio que essa tenha sido uma das experiências mais interessantes que poderíamos ter vivenciado em matéria de humanidade.

A primeira coisa a se concluir é como a globalização pode tornar algo uma febre, uma epidemia de um vírus que é uma ideia. Por rádio, TV, livros e, em especial pelo cinema, pudemos ver como somos bombardeados por ideias, que se enraizam em nossas mentes, e criam tendências passageiras. Nossa estrutura social mostrou toda sua fragilidade perante o poder da mídia, que traz e nos faz acreditar no que ela quer, quando ela assim decide e nós permitimos.

A segunda coisa é a hipocrisia humana expressada na análise cronológica desse "evento" mundial. Até bem pouco tempo atrás, todo mundo falava como sendo uma possibilidade, a própria mídia trouxe debates sobre  a possibilidade ou não da ocorrência da catástrofe derradeira. E, assim que ficou palpável aos nossos sentidos (sempre os nossos sentidos...) que nada aconteceria, todos mudaram o discurso. Um erro de interpretação, uma civilização que não soube cuidar nem do próprio futuro, foi tudo isso, todo esse lixo hipócrita e vil, que se viu em todo lugar. As redes sociais se tornaram o aterro sanitário das mentes poluídas com o orgulho de ter superado "mais um fim do mundo". Isso mostra como somos materialistas, no sentido de que não temos certeza do que cremos. Só sabemos que não vai acontecer nada porque o sol nasceu de manhã, mais uma vez. Somos tão pobres em certezas, que precisamos saber se não houve nada do outro lado do mundo, mais adiantado em fusos horários, para podermos ir dormir tranquilos em nossas camas. E mais: é muito fácil dizer que sabia que isso não não acontecer, agora que já deixou de acontecer.

E a terceira coisa que eu gostaria de ressaltar, e talvez a mais importante, foi a claridade com que se viu o quanto imaturos somos espiritualmente. Somos crianças, pobres meninos e meninas amedrontados por qualquer historinha inventada e contada com certo nível de convencimento. Não que o calendário maia seja errado, ou inexistente, longe disso. Mas até eu que sou leigo em matéria de história de antigas civilizações sabia que não havia nada de fim do mundo na tradição maia. E sim o fim de um ciclo, assim como terminamos um ano a cada 365 dias.

Por fim, que chegue dia 22. Porque ninguém merece mais toda essa palhaçada, com piadas que já saturaram o tema, discursos que mais parecem agressões à nossa sanidade mental e, o pior, a mídia que aproveita o momento para fazer nada mais que construir o próprio momento.
E fim.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Máscaras, você e eu


A um jogo boçal
Nos entregamos no final
O que vejo já não é
Não tenho ideia de para onde guio meus pés

Olhando para você
É como ver o dia escurecer
Esplendor de além-mar
Me faz esta vida questionar

Siga em frente, coração feroz
Doce visão, és na paisagem um algoz
Encontre quem está a te esperar
Até em alguma curva mais um pra trás deixar

Bata palmas ao viver
Não se espera mais nada
De quem só está a prevalecer
Pois o triunfo que carregas
É derrota que a outro cega

Por trás do plástico da felicidade
Erga-se somente a verdade
Onde as lágrimas se fingem suor
E os aplausos escondem a dor 
Que a alma esmaga até dela fazer pó

Siga em frente, seja gente
Diz o mundo impaciente
Mas nunca disse para onde ir
E nem como fugir
Dos fantasmas que correm a seguir
O viajante peregrino
Que só quer uma razão para sorrir

Gota a gota vai vazando
Toda a minha sanidade
Tormento odioso a exlpodir
Em minha cabeça tristes verdades
O grito é surdo pois não há voz
Que traduza em um clamor
Tão agressora dor
Essa assustadora hostilidade
Que já me leva ao torpor
Por tamanha crueldade

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O homem que olhava as estrelas



Vivia solitário, na sua casinha de madeira. Era um senhor pacato, muito quieto, e em seu rosto era visível que tinha uma mente que trabalhava em cada segundo de sua vida.Olhinhos aguçados, saía todos os dias de sua casa pela manhã, e dava uma volta pela pequena cidade. Olhava tudo com muita atenção, como quem quer absorver cada detalhe da vida que se passa em seu redor.
Sempre se detinha em frente à pequena escola, onde via pais e mães a levarem seus pequeninos para os primeiros passos do aprendizado. Ficava horas no parque, onde vez por outra encontrava alguém para conversar.Era uma pessoa agradável, não era um daqueles senhores rabugentos com quem se troca um cumprimento apenas por cordialidade. Era reservado, não se abria muito.
Sempre se detinha, também, nos restaurantes à noite. Observava os casais que se encontravam, e observava longamente o mundo colorido e pululado por estrelas onde eles viviam. Na verdade, era onde sua atenção mais se detinha. Depois, ia pra casa, lentamente no seu caminho solitário. Olhava para cima, e então via as estrelas a colorir o céu. 
Quando não saía, subia até o sótão da sua casa e pegava sua pequena luneta. Apontava na direção do céu e ficava horas observando. A idade já avançada o fazia dormir pouco, e passava noites a fio olhando para a imensidão do céu. As pessoas notavam aquilo, mas nunca diziam nada. Seguiam o rumo de suas vidas, apenas tendo consciência daquele homem que vivia em sua casa a observar o céu. E a única coisa que podiam afirmar com certeza a respeito dele, é que ele era um observador. Não apenas dos céus, mas da vida, do mundo, dos detalhes em seu redor, pois não raramente ele surpreendia por falar em detalhes que poucos notavam.
Havia, entretanto, um pequeno menino que gostava de ficar perto dele no parque. Sempre que se encontravam, eles conversavam por horas. Eram bons amigos, e o senhor gostava daquele pequeno garoto por sua curiosidade por tudo que via em seu redor. Um dia, esse menino, que também já tinha visto o senhor a observar tudo em sua volta, perguntou:
_"Senhor, por que observa tanto o céu?"
Ele, então, com seus olhinhos brilhantes e marejados pelas lágrimas que ele não queria que caíssem, respondeu:
_"Quando a noite é escura demais, aconselho que olhe para o céu. Lá você vai ver que existe muita luz por aí. Mesmo que por perto você veja apenas sombras, e não veja ninguém nas suas vizinhanças. Lá você encontra companhia, quando sente que não tem mais."
Sem entender completamente o menino se calou, e não quis perguntar mais nada. Apenas sentia um profundo carinho por aquele senhor que, mesmo não revelando uma palavra de si mesmo, o fazia sentir como se o compreendesse por completo. E pensando na única forma de demonstrar isso, deu um abraço nele. Daqueles que só quem vive a observar as estrelas sabe como são valiosos. E foi exatamente isso que o senhor sentiu, enquanto umas poucas lágrimas caíam de seus olhos, que agora brilhavam com uma vivacidade que há tempos ele não sentia.


sábado, 1 de dezembro de 2012

1º DE DEZEMBRO


 Number 0 Black Clip Art

Um dia que demorou para chegar
Várias noites escuras
Antes dele vi passar
Do silêncio absoluto
Vi crescer e nascer um pequeno laço puro
E o dia que ainda sequer raiou
Já tem um brilho intenso que minh’alma
Por completo iluminou

Quando o muro ruiu
Senti um toque como antes nunca se viu
Leve brisa, depois tempestade intensa
Muito acontece, quando na hora certa não se pensa
Um mês depois, dois pares de olhos a se encontrar
Encontro de dois lábios, choque cósmico está aqui a se passar

O sol ainda não surgiu
Deixou-os naquela pequena sombra
Deles próprios uma luz surgiu
Quente, envolvente...
Em um jorrar de chamas ardentes
Erupção de um caminho que se abre
Em meio a pedras que não resistem, elas apenas se partem
E quando raia a luz do dia
Pulsa a vida, chama que arde e não se avaria
O primeiro marco do mundo que nasceu
Dia zero para quem dele fez lugar teu