domingo, 30 de dezembro de 2012

Desencontros



Uma certa emoção que toma conta de você, e sem mais nem menos, você a coloca para fora de si, perante outras almas sedentas de algum sentimento em um mundo tão árido. De fato, é difícil encontrar algo verdadeiro em dias tão plastificados. Sentir é algo arriscado. É se expôr, e se expôr abre o risco para nos machucarmos.

Nem sempre que nos expomos conseguimos que sejamos vistos. Somos apenas um mero detalhe da paisagem, enquanto que os olhos com os quais sonhamos não nos registram como nada de importante no horizonte. Triste dor é a de não ser visto. Ser um objeto inanimado enquanto se sonha com o destaque único  que uma obra-prima deve ter.

E aí vêm as lições. Nascemos para sermos encontrados pelo que somos, e não para buscarmos desesperados por alguém que não registra nossa presença. Relutamos e insistimos, mas com o tempo vemos que esta é a verdade. Ao mesmo tempo que devemos merecer alguém, essa pessoa também deve nos merecer, e dar o devido respeito à obra única que cada um de nós é.

Devemos no mover, mas na direção que nos leve adiante, rumo certo de nossas vidas. Enquanto buscarmos luzes passadas, meras aparições soberbas a tomar conta da nossa paisagem por alguns momentos, estaremos cometendo o infortúnio de perseguir o inalcançável. Quem se mostra muito quer apenas ser visto, e nada além disso. E perseguir alguém assim, é como seguir o rastro de uma estrela. Você nunca irá alcançá-lo.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Natal



25 de dezembro. Hoje celebramos o nascimento daquele que foi amor, daquele que deu tudo que tinha por nós. Sua vida foi o mais perfeito exemplo do que é a virtude, a compaixão, o zelo. Longe de toda a fantasia humana, está a realidade de alguém que trouxe ao mundo a verdade da vida, pois ele próprio era vida. 
Vida essa que vivifica e reacende em nós a certeza do futuro. Que nos traz a força para continuar, quando os mínimos detalhes do cotidiano são espinhos contra nosso corpo. Já não há mais motivo para dor, desespero, ou aflição. Porque tudo ganha sentido quando nos encontramos nEle. 
Ao caminhar, que caminhemos em uma só direção. Ao viver, que vivamos um só sentido. E ao falar, que falemos apenas uma só coisa. Pois que o amor de Cristo tome conta de nós, e nos faça melhores, nos faça mais a cada dia. Porque a porta está aberta, e já não há mais barreiras. Todos os obstáculos que os homens nos impõem esmorecem diante da grandiosidade daquela vida, daquele exemplo, daquele tão profundo amor.
Hoje, mais que nunca, é possível sentir o sol nascer, para um dia brilhante. Porque o amor se fez carne, e veio por nós. Com essa certeza, não há mais o que temer. Lutas virão, tristezas nos atingirão mas, com essa certeza, jamais poderemos nos deixar vencer. Correndo, andando, ou simplesmente rastejando, todos nós seremos encontrados, onde estivermos, como estivermos. E esse é o momento mais glorioso de nossas vidas.
Uma luz agora brilha e vela por todos nós. E esta é uma luz que brilha para sempre.
Feliz Natal, e que a luz do amor brilhe sobre a vida de todos.


sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Profecias do ontem


Bom, encerrando mais uma historinha fantástica do nosso tempo, acaba (finalmente) o dia 21/12. Para quem assim como eu não aguentava mais o balbúrdio infantil que envolveu o tema, estamos perto da hora do alívio. Mas creio que essa tenha sido uma das experiências mais interessantes que poderíamos ter vivenciado em matéria de humanidade.

A primeira coisa a se concluir é como a globalização pode tornar algo uma febre, uma epidemia de um vírus que é uma ideia. Por rádio, TV, livros e, em especial pelo cinema, pudemos ver como somos bombardeados por ideias, que se enraizam em nossas mentes, e criam tendências passageiras. Nossa estrutura social mostrou toda sua fragilidade perante o poder da mídia, que traz e nos faz acreditar no que ela quer, quando ela assim decide e nós permitimos.

A segunda coisa é a hipocrisia humana expressada na análise cronológica desse "evento" mundial. Até bem pouco tempo atrás, todo mundo falava como sendo uma possibilidade, a própria mídia trouxe debates sobre  a possibilidade ou não da ocorrência da catástrofe derradeira. E, assim que ficou palpável aos nossos sentidos (sempre os nossos sentidos...) que nada aconteceria, todos mudaram o discurso. Um erro de interpretação, uma civilização que não soube cuidar nem do próprio futuro, foi tudo isso, todo esse lixo hipócrita e vil, que se viu em todo lugar. As redes sociais se tornaram o aterro sanitário das mentes poluídas com o orgulho de ter superado "mais um fim do mundo". Isso mostra como somos materialistas, no sentido de que não temos certeza do que cremos. Só sabemos que não vai acontecer nada porque o sol nasceu de manhã, mais uma vez. Somos tão pobres em certezas, que precisamos saber se não houve nada do outro lado do mundo, mais adiantado em fusos horários, para podermos ir dormir tranquilos em nossas camas. E mais: é muito fácil dizer que sabia que isso não não acontecer, agora que já deixou de acontecer.

E a terceira coisa que eu gostaria de ressaltar, e talvez a mais importante, foi a claridade com que se viu o quanto imaturos somos espiritualmente. Somos crianças, pobres meninos e meninas amedrontados por qualquer historinha inventada e contada com certo nível de convencimento. Não que o calendário maia seja errado, ou inexistente, longe disso. Mas até eu que sou leigo em matéria de história de antigas civilizações sabia que não havia nada de fim do mundo na tradição maia. E sim o fim de um ciclo, assim como terminamos um ano a cada 365 dias.

Por fim, que chegue dia 22. Porque ninguém merece mais toda essa palhaçada, com piadas que já saturaram o tema, discursos que mais parecem agressões à nossa sanidade mental e, o pior, a mídia que aproveita o momento para fazer nada mais que construir o próprio momento.
E fim.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Máscaras, você e eu


A um jogo boçal
Nos entregamos no final
O que vejo já não é
Não tenho ideia de para onde guio meus pés

Olhando para você
É como ver o dia escurecer
Esplendor de além-mar
Me faz esta vida questionar

Siga em frente, coração feroz
Doce visão, és na paisagem um algoz
Encontre quem está a te esperar
Até em alguma curva mais um pra trás deixar

Bata palmas ao viver
Não se espera mais nada
De quem só está a prevalecer
Pois o triunfo que carregas
É derrota que a outro cega

Por trás do plástico da felicidade
Erga-se somente a verdade
Onde as lágrimas se fingem suor
E os aplausos escondem a dor 
Que a alma esmaga até dela fazer pó

Siga em frente, seja gente
Diz o mundo impaciente
Mas nunca disse para onde ir
E nem como fugir
Dos fantasmas que correm a seguir
O viajante peregrino
Que só quer uma razão para sorrir

Gota a gota vai vazando
Toda a minha sanidade
Tormento odioso a exlpodir
Em minha cabeça tristes verdades
O grito é surdo pois não há voz
Que traduza em um clamor
Tão agressora dor
Essa assustadora hostilidade
Que já me leva ao torpor
Por tamanha crueldade

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O homem que olhava as estrelas



Vivia solitário, na sua casinha de madeira. Era um senhor pacato, muito quieto, e em seu rosto era visível que tinha uma mente que trabalhava em cada segundo de sua vida.Olhinhos aguçados, saía todos os dias de sua casa pela manhã, e dava uma volta pela pequena cidade. Olhava tudo com muita atenção, como quem quer absorver cada detalhe da vida que se passa em seu redor.
Sempre se detinha em frente à pequena escola, onde via pais e mães a levarem seus pequeninos para os primeiros passos do aprendizado. Ficava horas no parque, onde vez por outra encontrava alguém para conversar.Era uma pessoa agradável, não era um daqueles senhores rabugentos com quem se troca um cumprimento apenas por cordialidade. Era reservado, não se abria muito.
Sempre se detinha, também, nos restaurantes à noite. Observava os casais que se encontravam, e observava longamente o mundo colorido e pululado por estrelas onde eles viviam. Na verdade, era onde sua atenção mais se detinha. Depois, ia pra casa, lentamente no seu caminho solitário. Olhava para cima, e então via as estrelas a colorir o céu. 
Quando não saía, subia até o sótão da sua casa e pegava sua pequena luneta. Apontava na direção do céu e ficava horas observando. A idade já avançada o fazia dormir pouco, e passava noites a fio olhando para a imensidão do céu. As pessoas notavam aquilo, mas nunca diziam nada. Seguiam o rumo de suas vidas, apenas tendo consciência daquele homem que vivia em sua casa a observar o céu. E a única coisa que podiam afirmar com certeza a respeito dele, é que ele era um observador. Não apenas dos céus, mas da vida, do mundo, dos detalhes em seu redor, pois não raramente ele surpreendia por falar em detalhes que poucos notavam.
Havia, entretanto, um pequeno menino que gostava de ficar perto dele no parque. Sempre que se encontravam, eles conversavam por horas. Eram bons amigos, e o senhor gostava daquele pequeno garoto por sua curiosidade por tudo que via em seu redor. Um dia, esse menino, que também já tinha visto o senhor a observar tudo em sua volta, perguntou:
_"Senhor, por que observa tanto o céu?"
Ele, então, com seus olhinhos brilhantes e marejados pelas lágrimas que ele não queria que caíssem, respondeu:
_"Quando a noite é escura demais, aconselho que olhe para o céu. Lá você vai ver que existe muita luz por aí. Mesmo que por perto você veja apenas sombras, e não veja ninguém nas suas vizinhanças. Lá você encontra companhia, quando sente que não tem mais."
Sem entender completamente o menino se calou, e não quis perguntar mais nada. Apenas sentia um profundo carinho por aquele senhor que, mesmo não revelando uma palavra de si mesmo, o fazia sentir como se o compreendesse por completo. E pensando na única forma de demonstrar isso, deu um abraço nele. Daqueles que só quem vive a observar as estrelas sabe como são valiosos. E foi exatamente isso que o senhor sentiu, enquanto umas poucas lágrimas caíam de seus olhos, que agora brilhavam com uma vivacidade que há tempos ele não sentia.


sábado, 1 de dezembro de 2012

1º DE DEZEMBRO


 Number 0 Black Clip Art

Um dia que demorou para chegar
Várias noites escuras
Antes dele vi passar
Do silêncio absoluto
Vi crescer e nascer um pequeno laço puro
E o dia que ainda sequer raiou
Já tem um brilho intenso que minh’alma
Por completo iluminou

Quando o muro ruiu
Senti um toque como antes nunca se viu
Leve brisa, depois tempestade intensa
Muito acontece, quando na hora certa não se pensa
Um mês depois, dois pares de olhos a se encontrar
Encontro de dois lábios, choque cósmico está aqui a se passar

O sol ainda não surgiu
Deixou-os naquela pequena sombra
Deles próprios uma luz surgiu
Quente, envolvente...
Em um jorrar de chamas ardentes
Erupção de um caminho que se abre
Em meio a pedras que não resistem, elas apenas se partem
E quando raia a luz do dia
Pulsa a vida, chama que arde e não se avaria
O primeiro marco do mundo que nasceu
Dia zero para quem dele fez lugar teu

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Fruto

 

Arar, revirar a terra, escolher as sementes, o tempo e o lugar certo para plantar. Cuidar, evitar que as agressões alheias, e das casualidades do destino levem embora o que almejamos para o nosso amanhã. Isso é lutar, aprender, compreender. Quando faltarem as gotas de água da chuva, fazer crescer os nossos cultivos com o nosso próprio suor.

Mas chega a hora em que todo aquele trabalho se mostra como tendo valido a pena. Os campos de nossas vidas se tornam verdejantes, abundantes das consequências dos bons hábitos que tivemos, de cada passo para frente que tivemos a coragem de dar, e acabamos por perceber que nossa expectativa inicial tornou-se multiplicada, aumentada de uma forma inexplicável pelo que conhecemos como graça divina.

A felicidade toma conta de todos nós. O tempo é de festa, de colheita. Ver um trabalho árduo gerar coisas boas de retorno é muito mais que mera satisfação, é realização. Nossa vida foi dedicada àquilo, e presenciar um projeto se tornar realidade, sendo vivificado, é, também, ver a parte de nós que sabia que aquilo era possível nascer e crescer. Doce prazer é poder compartilhar com alguém que se ama o sabor daquela vitória. Chegar a qualquer lugar é sempre muito melhor quando se tem para quem sorrir, e ver de volta o sorriso de satisfação por aquele momento.

Mas, além disso tudo, é também tempo de saber que tão logo se acaba um trabalho, outro se inicia. Colher os frutos é finalizar um ciclo de plantio e, antes de mais nada, iniciar outro. O que plantar? Onde plantar? Será que o que fizemos dará certo para a nova estação? São perguntas que só o tempo irá responder. Mas, ainda que o céu se abra, o sol fique a pino, e a secura faça arder os nossos olhos, é bom lembrar: sempre haverá novamente o tempo de colher. E este tempo depende apenas de cada um de nós.

domingo, 11 de novembro de 2012

Presente


Um côro de vozes se ergue, diante do inesperado que acontece. Seja lá o que for, por vezes uma multidão de vozes toma conta de nossas mentes, assaltando nossa paz, levando embora o retiro tranquilo que são as águas de nossos pensamentos. Querem satisfação, dão sugestões, rasgam e montam a realidade à nossa volta conforme acham que é melhor. Mas, por mais bem intencionadas que sejam, estas vozes são um ruído branco na nossa cabeça, que pode ser tão tranquilo como o som da chuva à noite antes de dormir, ou tão incômodos quanto andar de carro em uma rua calçada com pedras.
É bom se retirar, às vezes, para nosso pequeno mundo interior. Reorganizar as pedras, e ver com nossos próprios olhos a realidade que nos cerca. Esperar pelo que ainda virá, e meditar sobre o que fazer quando os resultados que esperamos chegarem, qualquer que seja a forma como eles chegarão. Não é estar acanhado por não ter o que fazer: por ora, é apenas aproveitar o momento, sentir o ar parado que nos cerca, observar o céu, para ver se estão surgindo nuvens de tempestade ou se continua a promessa de um dia ensolarado.
É estar sereno, na confiança de que o melhor irá de fato acontecer. Sem pressa, sem desânimo, sem ansiedade. Porque logo logo, está o futuro, quase tão sólido quanto uma doce gelatina deixada para a sobremesa, sobre a qual pensamos enquanto comemos um almoço em família. 
Porque a felicidade é algo que está em nossas vidas para ser vivida, e não anunciada como um mérito pessoal. É apenas parte do mistério que conhecemos como graça divina.

domingo, 4 de novembro de 2012

Moralismo


 
Muitas vezes, nos deparamos com pessoas que se tomam como parâmetro. Outras, tomam princípios firmados como martelo de julgamento. Em ambos os casos, o resultado é o mesmo. Ao olharem para o mundo, chaveiam entre a aprovação e a reprovação, apenas dizendo: "isto é certo!" ou "isto é errado!". Sem buscar o mínimo entendimento do mundo e das pessoas em seu redor, simplificam a vida conforme aquilo que elas acreditam ser válido.

Nos acostumamos a isso. É exatamente o que, em geral, praticamos ou esperamos que as pessoas pratiquem. Num mundo imperiosamente hipócrita, apontar os erros dos outros é uma forma de esconder os próprios. Ficamos reservados, na defensiva, e reagimos de pronto a qualquer contato externo, porque, de fato, não precisamos de juízes a apontar dedos na nossa cara, avaliando tudo que fazemos e queremos.

Entretando, devemos saber, também, reconhecer quando encontramos alguém que não faça isso e, mais importante ainda, sermos nós mesmos a dar esse primeiro passo. Buscar compreender o outro nas suas apreensões, dificuldades e lutas é um exercício para nosso próprio espírito. Somos todos humanos, no mesmo barco chamado vida, e precisamos disso a todo momento. De compreensão. Por nossas falhas, por nossos erros, por nossas imperfeições.

Amar é corrigir, sim. Mas corrigir é diferente de condenar. E, na medida em que não tivermos uma solução real para uma situação, destacá-la como algo a ser resolvido é algo que a própria pessoa que passa por ela pode fazer. Ninguém precisa de um narrador da sua vida, e sim de um companheiro que possa trazer alguma contribuição real. E nesse momento, é que surge a oportunidade de demonstrar o mínimo de sabedoria: não tendo nada para dizer, é muito melhor ficar calado. Em geral, pessoas com problemas possuem mentes em polvorosa, e uma voz a mais ecoando na cabeça não é, de longe, estar mais perto de chegar a uma solução.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Dilema


Diante do espelho
Humano, imperfeito, é tudo que vejo
Encarei-me nos olhos
Fingi que não via
A verdade que era óbvia
Como a luz do dia

Estive a fugir
Estive a reprimir
O que sei que é real
O que sei que não é trivial
Mas não se prende uma fera
Nem se lembra do que não era

Quando vejo outras faces
Me pergunto o que seria desse desastre

Porque com o que já sou
Ainda diria me dirias "contigo estou"?
Ou apartarias, com o rosto em pesar
Deixando para trás, o que já pudemos compartilhar

Será que esta imagem
Se revelará não sendo paisagem?
Uma desconstrução do que na verdade é
E que já não é mais solo firme onde se pode pôr o pé?
O que seria?
Será que um dia me atreveria?

O limite entre o que é e o que deve ser
É, por exato, o que eu já não consigo mais transpôr
E quanto mais comigo você se entristecer
É que estarei no frenesi de meu puro amor
Mas nunca quis jamais escolher
Entre o que meu templo me levar a ser
E os que em meu redor estão a viver

domingo, 28 de outubro de 2012

Contra a corrente


Seguir o curso é uma tendência natural. Os rios seguem um curso, os ventos, até mesmo o tempo só segue em uma direção. Mas isso porque eles seguem firmes rumo ao objetivo. Estar na direção da corrente, em termos de sociedade, ideias e atitudes nem sempre é estar no rumo de nossos objetivos. A ideia atual é de que a maioria tem a razão mas, na verdade, o que se faz é tentar agradar o maior número de pessoas possível, e nem sempre elas têm razão.

Ter a capacidade de pensar por conta própria, e ter a coragem de decidir o rumo que se deve tomar é um ato de coragem, senão de sabedoria. Saber que acima do que nossa sociedade nos dita, existe o que realmente vai ser melhor para nós ou não, e isso é exercer o próprio senso de crítica. 

E, a partir do momento em que deixamos de seguir o curso tomado como padrão, começam os choques. Porque tudo que vem na direção contrária nos atinge e, neste momento, é que temos a percepção de para onde é que devemos ir. Porque multidões desordenadas são como bandos de pássaros: viram para esquerda, para a direita, retornam, e não têm sequer ideia do porquê.

Pedras, paus, e todo o entulho que estiver vindo, acertarão nossos corpos desprotegidos. Mas quanto mais se caminhar, mais se perceberá que é o rumo certo. O desafio é continuar caminhando, contra a tendência dita como sendo natural, porque se sabe que ela não o é. Muitos podem chamar de loucura mas, ao invés disso, talvez ela seja apenas um mero exercício de coerência. E isso, no final, irá definir se chegamos ao final da estrada onde estamos, ou se apenas voltamos ao início dela.


sábado, 20 de outubro de 2012

Avalanche

 

Acordo ao som do rádio
Me sinto dentro do estádio
O refrão que cola na cabeça
Poucas rimas, que me importa
Tudo isso é uma beleza
O ritmo é alucinante
Só quero o agora
Não me interessa o adiante
Porque eu iria me incomodar?
Eu não quero ter que pensar

Na rua sou ponto de um mosaico
Não me coloco, pertenço a esse cotidiano prosaico
As lojas são sereias a cantar
Me chamam e me naufragam neste mar
Mas por quê vou me incomodar?
Eu não quero mais pensar!

A TV é meu padrão
Sim, eu quero ser "patrão"
Pouco importa o que custar
Se minha casa desabar
Sou corrompido, porco e sujo
E isso é muito radical
Dentro de mim está a viver
O mais completo animal
Tomo minha pílula de insanidade
E vejo as belas luzes da cidade
Meu corpo é ponte para alcançar
Todos os prazeres que puder divisar
O que iria me incomodar?
Já desconheço o que é pensar

Alguém me guia pela mão
A vida louca é curtição
No baile funk, na moral
O estrondar é colossal
Altas horas sem limites
Carro e som, "these are my cities"
Corra rápido venha ver
O fogo no qual estou a arder
Chama louca a me consumir
Queima e leva, me faz partir
E eu já não vou mais me incomodar
Não sobrou "eu" para pensar...

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Rompimento


Há aqueles que sabemos que perdurarão em nossas vidas por todo e qualquer momento. São parceiros, uma extensão de nós mesmos, pois sabemos que são nosso apoio nos momentos difíceis. Esses irmãos que ganhamos na terra representam o real de sentido de formar um só corpo, em um só espírito. 
Há, no entanto, os que partem. Seja pelo motivo que for, levam um pedaço de nós. Porque cada relacionamento que vivemos, seja de amizade, amor, família, todos eles envolvem entrega. Dedicação e abnegação que nos levam a, de certa forma, nos vermos no outro. Compartilhar com ele um futuro que, quase sempre por erros de ambas as partes se corrompe e se quebra no chão em estilhaços que se espalham por todo lado. A perda é para ambos, porque ambos viveram o mesmo. Impossível dizer com palavras o que só o coração sente. Aquela dor irreparável de perder o que se amava.
Tentar recuperar se torna uma arte abstrata de recriar com riscos uma tela clássica. Branco sobre o branco, é o vazio deixado pelo que foi embora. E, aos poucos, a dor vai se assentando, e você começa a entender que nem todas as coisas foram feitas para ser. E mesmo as que são dependem do livre-arbítrio, nosso e o alheio, o qual não depende de nós.
Assim, amar é correr o risco de ser ferido bem onde mais dói. Seja como for, o amor nos expõe aos cuidados e descuidados dos outros, que já não mais outros, somos nós refletidos em outra forma, outra face... E esta imagem, que muita vezes é tida como incorruptível, é que deve ser trazida às bases da realidade, antes que mostre seus detalhes imperfeitos, e eles cresçam tornando todo o conjunto irreconhecível. Porque toda escultura embasada em meios materiais se perde com o tempo, mas a palavra vivida, esta é para sempre.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Dama de cachos amarelos

 

Vi-a por um momento
A encantar qualquer vista
Era este o seu talento
Cachos caindo sobre os ombros
Olhos espertos, um leve sorriso gentil
Pele branca de areia
Uma singela graça que tudo em seu redor permeia
O que vi, ainda não compreendi
Ocupamos um mesmo lugar
Embora em tua memória, eu não vá ficar
Cotidiano, nos fizeste assim
Em um momento, estavas ali
Virei-me para escrever, e já não mais te vi
Qual relâmpago fulgaz, passaste, me surpreendi
O que agora é passado, ainda está impregnado em mim
E ainda que estes versos lesse
Não saberias que são para ti
Sem nome, sem nada
Como um passageiro colibri

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Tempo certo


É preciso agir, buscar aquilo que desejamos. Alcançar as pessoas quando preciso e, também, os nossos objetivos. Lutar, porque sem luta não há vitória. Mas, em meio a isso tudo, existe a profunda sabedoria que é a de saber esperar o tempo certo das coisas.
Nem sempre o que queremos vem no tempo que queremos. Nesses momentos, é preciso confiar e entender que, apesar do nosso entendimento dizer que agora é o momento, estamos errados. Em uma sociedade em que a velocidade dos acontecimentos é agressivamente crescente, é difícil lidar com a realidade de que a vida não é assim. Muito além de nossos planos, ideias e ações, está o curso que tudo deve seguir, e este não se altera segundo os nossos desejos.
Aí está a perfeição da vida. Nos ensinar sem precisar se alterar para tanto. Talvez uma das mais valiosas lições que podemos aprender quando temos de lidar com pessoas. Cada uma tem seu tempo e, dentro dele, irá reagir. É preciso ação constante, mas com a devida paciência de quem sabe que todos temos nossos limites. 
Cada ação nossa deve ser executada com a plena consciência da tênue linha que existe entre a preocupação e a incompreensão. Amar é, também, saber esperar. E isso podemos ver todos os dias, porque existe alguém que está a esperar pela nossa mudança, com a sabedoria de quem sabe que isso vai acontecer de forma natural, alguma hora, por nossa vontade, quando crescermos e soubermos um pouquinho mais do que é realmente melhor para nós.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Vilão x Vítima



Encarar a vida como uma batalha. Parece justo, e realmente pode ser o caminho para vencer, desde que não nos coloquemos no confortável posto de pobres coitados. O que acontece é fruto do nosso passado, quer queiramos ou não aceitar isso. É fácil encarar o espelho e ver um pobre coitado que precisa de cuidado, atenção e amor. Mas não podemos nos esquecer que o mesmo indivíduo que precisa de igualdade precisa, também, de correção. Somos todos humanos e, portanto, imperfeitos.
Todos temos provações. E todas nos levam ao extremo de nós mesmos. Uns passam por provações físicas, outros psicológicas, morais... Todas com o mesmo grau de dificuldade em serem superadas, porque só cada um sabe o que é carregar a própria cruz e fazer dela um sinal de vitória.
Vivemos num mundo que tem a errônea tendência de classisficar, hierarquizar e quantificar tudo. Porém, sofrimento é sofrimento, e quem faz dele uma justificativa para errar apenas está sendo hipócrita consigo mesmo. Porque qualquer pessoa que tenha plena consciência de si saberá que, ao fazer isso, apenas prolonga ainda mais a própria dor, pois, ao invés de deixar o médico sanar o ferimento, deixa-o aberto um pouco mais para ter mais atenção e compreensão da parte dos outros, o que é simplesmente brincar com a própria morte. 
Se procurássemos um pouco mais sermos adultos e não pirracentos como uma criança que não quer largar um brinquedo perigoso, veríamos o quão perfeitos são os caminhos que Ele traça para nós. Porque no final de cada trilha dessas, por mais pedregosa que seja, há um lugar de descanso chamado vitória. E, por mais estranho que possa parecer a princípio, não chegam lá os que esbravejam contra tudo e todos, e sim os que têm coragem de dar o primeiro passo, que é parar de se ver como uma mera vítima do destino.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Deleite


Não se vê, apenas se sente
A razão não existe, o mundo é uma semente
Deleite para os olhos, um brilho no olhar
A graça da alegria, que vem meu espírito habitar
Já não mais sonho, porque a conquista aqui se faz
No terreno do passado, a triste lágrima para sempre jaz

Crendo que não é preciso correr
Cada passo é dado porque se faz por merecer
Brindando cada dia por ser especial
Já não mais vejo esta vida como normal
Cada som é uma nota musical
Cada palavra é um cântico transcedental
Porque cada segundo é para mim atemporal

Beleza de uma voz que não se ouve
Mas cuja presença se faz sentir
Um toque no ouvido
Um sussurro do que está por vir
Traga a mim sabor de um doce beijo
Um novo feriado para o festejo
Traga para mim a sua misericórdia
Que apaziguará em mim toda a demente discórdia

Porque efêmera é a dúvida que soa no coração
Nas horas da mais pura alegria,
Quando pela vida se tem uma ardente paixão

domingo, 16 de setembro de 2012

Embate



Nada suave é o tempo de conflito. Estar em embate, ter de lutar, seguir, conquistar. Honrosos são os clamores de vitória, diante de um obstáculo superado, um desafio cumprido, um objetivo alcançado. Vilões que são derrubados, deixando no chão o que nos separvaa da vitória.
Mas... E quando o desafio está em nós mesmos? Quando o que somos, além do que possamos meramente controlar, vai contra o que acreditamos? Nestes momentos, não basta combater o inimigo, porque nestes momentos, somos o nosso próprio inimigo. Entendemos o que ele sente, o que ele busca, o que ele é. E sabemos que o que ele quer, é apenas ser ele mesmo. Mas o que acreditamos, os nossos ideais, eles não nos permitem. E aí, meu caro, pode-se ver bombas voando por todos os cantos dentro de nós.
É fácil questionar alguém nessa situação. Sim, porque nessa situação é fácil se contradizer. E, por se pisar em ovos, é preciso ter cuidado com os nossos passos. Porque o menor movimento em falso, e teremos uma bela sujeira para limpar.
E, mais que isso, quem mais se machuca nesses conflitos é a própria pessoa que passa por essa situação. Porque dois lados que fazem parte dela se degladiam ferozmente, um querendo simplesmente engolir o outro, apenas esperando pelo decreto de quem irá vencer. Nestes momentos, a referência se desfaz, porque já não se sabe mais até onde se está sendo apenas si mesmo, frente ao que se deve enfrentar, ou se é puramente hipocrisia. A única coisa a se fazer é manter a fé, e prosseguir devagar. Porque questionamentos como os que surgem nestes momentos são pauta de discussão interna por anos a fio, nos lembrando sempre do quão longe estamos de estarmos certos das coisas.
Inclusive sobre nós mesmos.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Paraíso logo ali



Brinco de seguir
Brinco de mentir
Que a vida é bela
Que o melhor está por vir
Sinos de explosões
Escondem-se todos nos porões
Saindo para caminhar
As feras agora estão a caçar
Que briga é esta que não criei?
Mas que devora tudo aquilo que já amei?
Ouço o som de um lamento
É mais um dentre as muitas vozes
Que se foram com o vento
E cresce dentro de mim
A certeza de que foi para isso que eu vim
Porque vejo meus irmãos a chorar
O pão na mesa não tarda em faltar
Olhos tristes de uma mãe a seguir
Entregando tudo aquilo que pode de si
Vejo uma única forma de lutar
Para explodir de uma vez
Toda essa escória a nos matar
O medo se achega, alerta e sensato
Mas só vejo duas saídas
Ou eu morro, ou eu mato.
Porque querem nos levar
Eles só querem exterminar
Limpar nossa dita sujeira
E fazer de nós menos que mera poeira
Eu não queria me levar
Mãe, espero que possa me perdoar...

domingo, 9 de setembro de 2012

Paraolimpíadas

Superação. A primeira vitória é contra as próprias limitações, porque elas, em um primeiro momento, se mostram como um desafio quase intransponível. Entender que nada além do nosso desânimo pode nos vencer. Lutar, correr atrás. E, no final, alcançar os resultados.
Neste ano, foi possível ver um show dos brasileiros que, contra todas as adversidades da vida, chegaram ao lugar mais alto na mais importante das competições esportivas: As Olimpíadas. Hoje, fiquei mesmo surpreso ao ver a quantidade de primeiros lugares conquistados pelos atletas das Para-Olimíadas. 21 medalhas de ouro, sete vezes mais que o conquistado pelos atletas das Olimpíadas. Qual o valor que damos a estas pessoas?
Afinal de contas, elas representam, com muito mais dedicação e até mesmo resultados, o nosso país. Muito além de meros jogadores produzidos pela mídia, estas pessoas escalaram até o topo da montanha com seu esforço. São estes exemplos que devemos tomar, que devem ser inspiração para nós, jovens, que ainda estamos começando nossas vidas.
De resto, apenas posso manifestar o meu orgulho por pertencer à mesma nação destas pessoas fantásticas que, acima de tudo, mostram o valor que as suas vidas têm. E sem maiores delongas.


domingo, 2 de setembro de 2012

Pausa



Esse corre-corre cotidiano, que nos faz pensar sempre algumas horas adiante. Não se trata de visão de futuro, e sim de imediatismo. Não basta o que temos agora, é preciso alimentar a sede da busca pelo mais. E, nessa correria frenética, ficamos suprimidos, nem nos lembramos do que já conquistamos.
Então, num dominguinho à tarde, você se senta, olha para o céu, sente o vento batendo. Pensa em tudo que já houve, e seus problemas e inquietações começam a perder tanto poder de amedrontar você. O futuro volta a ser uma boa promessa, e a paz ganha um pequeno espaço dentro do seu espírito. Não é preciso uma oração, nada. Porque toda a sua capacidade de transcendência está ali, te levando aonde quiser. Basta apenas se deixar levar.
Porque dentro dessa correria em que vivemos, sempre estamos tão ligados no tempo futuro próximo, que nos esquecemos do que somos agora, e do espaço em que vivemos. Esquecemos de quem está ao nosso redor, e de tudo aquilo sobre o que já podemos nos regozijar. Porque a luta é feita desde que se nasce, e aquela que já vencemos têm seus frutos vistosos e saborosos só esperando nosso sinal de gratidão.
Porque talvez uma boa parte da vida seja apenas sentar sob o sol durante a tarde para não pensar em nada. Mesmo os melhores relógios precisam ser ajustados algumas vezes e, como todos já sabemos, um relógio adiantado não tem serventia alguma, senão para nos deixar com uma noção errônea do tempo em que vivemos.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Bomba-relógio



Você tem 2 minutos. Não importa o que houve antes, os acontecimentos te guiaram até ali. Não importa se você gosta ou não, a responsabilidade é toda sua. Ainda que não tenha sido você o responsável por aquilo tudo, o que acontecer depois será de sua responsabilidade. O tic-tac enervante toma conta de sua mente, e as mãos trêmulas decidem o que fazer.
Rapidamente, você olha em volta, enquanto toda a sua vida passa num flash diante de seus olhos. Mantendo com muito custo a concentração, tenta achar alguma lógica na sua decisão, mas a verdade é que não tem a mínima ideia da dinâmica daquilo que enfrenta. Só sabe que, por algum motivo, você caiu ali, e só cabe a você evitar que tudo se vá pelos ares.
 1 minuto, e você sente o seu coração parar. Você precisa de alguma forma, cortar o fio que alimenta aquela ameaça, mas não sabe qual deles escolher. Não tem ciência se irá apenas acelerar o acontecimento, ou evitar que tudo, inclusive você, se destrua. Porque não foi uma escolha sua estar ali.
30 segundos, e suas mãos tremem violentamente. O coração já está na garganta, e você simplesmente encara imóvel tudo à sua frente. 15 segundos, e então, fechando os olhos, segue um esboço de intuição que momentaneamente escolhe um dos dois fios a cortar. O alicate estala, e o fio se parte. O mundo pára naquele milésimo de segundo que segue a sua decisão, e tudo que acontecerá depois será mera consequência do que fez.

Sendo capaz ou não, sendo opção sua ou não, muitas vezes é preciso fazer escolhas que podem nos levar "à morte" ou a continuarmos vivos. Mas o mais importante nessa experiência é que, depois de tomada a decisão, ainda que viva, não se é mais o mesmo. Porque decidir entre uma e outra opção é decidir entre um e outro dentro de nós mesmos. Não escolhemos o fio vermelho ou azul. Escolhemos o nosso eu que diz "fio vermelho" ou "fio azul". E isso, apesar de sutil, faz toda a diferença nas nossas vidas.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Terremoto



Vive-se sobre a paisagem tranquila
Dia após dia, segue-se a vida
Deixando ao encargo do acaso
Tudo o que se passa do nível do solo para baixo
Ignorando o que não queremos ver
Deixando para o amanhã tudo aquilo que devíamos temer

Então de repente fende-se o chão
Já não encontramos apoio, não encontramos uma direção
O que era sólido e imutável
Agora dobra-se qual brinquedo desmontável
Caem velhas construções
Não resta mais que pó dos antigos casarões
Porque dia após dia, a tensão foi acolhida
E agora se parte a rocha que foi ferida

Liberando todo o ardor que não se pode esconder
O terremoto sacode tudo que pode se mover
Nada parece se encaixar
O que era terra seca agora vira mar
Uma drástica mudança que não se pode conter
Tudo muda até onde os olhos podem ver
Lembrando que aquilo que não vemos
Não é sempre o que devemos esquecer

Findado o momento do terror
Caímos nos chão, em estado de torpor
Pois nada mais é como parecia ser
Já não se sabe nem para onde se mover
O grito de dor que ecoou
É tudo que o incauto ignorou
Vemos que não adianta mais fingir
A mudança chegou, e não há como mais fugir

Recomeçando a partir do que restou
A terra molhada é chão que o mar ainda há pouco lavou
Cantando hinos de renovação 
Fé e coragem é tudo do que posso dispôr
E em silêncio eu começo uma oração
Ecoando em meu íntimo vem um novo tom
Que aos poucos me vai trazendo a explicação
A mostrar que muito mais que destruição
Esta é a perfeita obra da criação

sábado, 18 de agosto de 2012

Naufrágio



O céu se fecha, e os trovões rimbombam pelo céu. As ondas se levantam, e a espuma salgada do mar agride o pequeno barco em que estamos. Lutamos para tirar a água, porque ela se acumula cada vez mais dentro de nosso pequeno porto seguro em meio a toda aquela imensidão. O escuro atemoriza, porque a única luz que temos é a dos relâmpagos a incendiarem o céu. Então, no meio de nossa batalha, um deles atinge o mastro. O barco se parte, e a embarcação cede, não restando nenhum outro caminho senão o mar.

Ainda atônitos pelo susto, lutamos com cada músculo contra a força das ondas. O gélido abraço cada vez mais forte segue paralisando os braços, as pernas, e o cérebro começa a fraquejar. Porque ninguém vive em meio a tanto frio, sem um apoio para os pés, e uma luz que guie seu caminho. A escuridão total leva à inexistência, pois como é possível distinguir o redor, se já não podemos ver nem a nós mesmos?

Não restando mais esperança, seja pelo motivo que for, nos entregamos. Porque não temos força para prosseguir, não sozinhos. Não perante tamanha adversidade, porque somos pequenos demais para algo tão abrasador. E, neste momento em que nos entregamos, olhamos por uma última vez para o mar, encontrando inúmeras outras pessoas que se encontram na mesma condição. Pensamos em como a vida é dura, e em como ela pode ser injusta.

Então, se destacando no meio daquela multidão de almas em desespero, vemos uma que se destaca sobre as águas. Um vulto que caminha levantando os outros. Acreditando que o frio e a água que engolimos foi o suficiente para retirar nossa sanidade, nos entregamos, nos deixamdo levar para as profundezas do mar, guiados pela certeza da racionalidade que diz que não há mais como viver...

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Aventura Infantil


Em tons de música fina
A paz qual pipa dentro de mim se enpina
Bandeira nobre que sustenta 
Tudo que há dentro de mim
Meus olhos que esses dias viram os teus
Ou terão sido apenas reflexo no espelho dos olhos meus?

Findando um caminho que não existe
Estarei aqui, porque já não me preocupo mais
Apenas dou uma gargalhada
Enquanto tudo isso se desfaz
Brincadeira de criança
Imagino o mundo que quero para mim
Criando-o todos os dias com a meros passos de dança

Enfrentando dragões, salvando belas donzelas
Passo após passo
Pinto para mim um futuro em novas telas
Quero andar descalço, contar-me novas histórias
Me molhar na chuva, e consagrar novas vitórias
Toque de arpa, um acorde no violão
Componho uma música, que sai daqui do meu coração

Ganhe um novo dia, se permita o sabor de um beijo
Pois nas coisas simples, é que a felicidade eu vejo
Ande no muro, caia e levante
Machuque o joelho, chore um instante
Continue correndo, a brincadeira vai adiante
Pule de ladrilho em ladrilho
Brinque com as imperfeições do seu caminho
Faça disso uma diversão
Porque lá na frente, quando chegares em casa
Sobre a mesa a te esperar, haverá um pedaço de broa com limonada...

domingo, 12 de agosto de 2012

Virtual



Em todos os tempos, sempre houveram conflitos. Sempre há divergência de ideias, porque sempre há aqueles que buscam benefício próprio, ao invés de pensarem na coletividade em que vivem. A satisfação de quaisquer que sejam seus desejos pessoais envolve um jogo sem limites, onde tudo é válido, e a única regra é comer o maior pedaço do bolo.

Vivemos todos os dias numa sociedade que corrompe até a última gota de bondade que for possível. Porque não vivemos na lei da selva, e sim na lei do mais egoísta. Tapamos nossos olhos e mentes para as verdade do mundo que nos rodeia, e deixamos passar ilesas as grandes questões que precisamos lidar. 

Assim está a sociedade atual. Desviamos nossos apelos e protestos para onde eles não encararão a dura realidade da vida. Enquanto curtimos e compartilhamos frases de efeito de pessoas que muitas vezes deram suas vidas por seus ideais, estamos apenas mantendo nossas consciências levemente tranquilas de que estamos fazendo algo. Mas o problema que sempre esquecemos é que, se temos liberdade de expressão no mundo virtual, é porque este se tornou paralelo ao mundo real e, da mesma forma que não encontramos resistência em nos manifestarmos na rede, nossos apelos não têm o mínimo efeito sobre as situações cotidianas, as quais só mudarão quando pararmos de enfrentar o mundo da tela de nossos computadores.