domingo, 24 de agosto de 2014

Espetáculo


Fotos, vídeos, desafios para caridade... Noitadas, viagens, tudo do melhor e mais chique. Ou pelo menos do que parece trazer mais felicidade. Compartilhar furioso de tudo, desde que esse tudo seja o que os outros se interessem, desejam ou participaram. Uma realidade de uma dimensão só, que é a da felicidade dos momentos incríveis que se tem todos os dias.
Aquela mesa de jantar, aquele show inesquecível, aquela conquista de uma vida. E isso vai nos cansando, nos desgastando, pois no fundo sabemos que aquilo é apenas uma parte do todo. Se por um lado no incomoda ver tanta felicidade instantânea espalhada por aí, por outro podemos nos perguntar o quanto dela é de fato real. Se alguém de outra época passada viesse até o agora, provavelmente num primeiro momento ficaria estarrecido, pois como pessoas aparentemente tão felizes podem ainda ser capazes de se envolver em conflitos violentos, sejam eles de caráter civil ou militar? Mas a verdade é que com o tempo, esta pessoa veria o que realmente temos sido: uma sociedade de camadas. E a cada camada que descemos, aprofundando-nos na nossa própria realidade, vemos o quão infelizes ainda somos.
Mas não temos autorização para demonstrar isso mais. Porque o que manda é fazer parte da classe de sorrisos estampados, seja pelo motivo que for. Demonstrar como somos fortes, destemidos, guerreiros contra a intempéries da vida. Ressaltar como o EU é capaz de conquistar seus sonhos, de viver fora dessa realidade cheia de imoralidades, e de como somos corretos, e o mundo, uma fonte de miséria e azares. 
Não poderia dizer ao certo o que há de errado nisso. Talvez a questão nem seja compartilhar a felicidade que se tem. Talvez o problema seja que simplesmente não seja isso que fazemos nos dias de hoje. Hoje, nós a pegamos e a atiramos nas caras uns dos outros, como que numa competição de quem não vai mais ser invisível. Porque perdemos o princípio básico que ser feliz também está ligado diretamente a fazer os outros felizes.
Talvez o problema seja a falta de sentido nisso tudo. Em meio a tantas mídias, fotos, vídeos, textos e blogs, qual o propósito disso tudo mesmo? É estar no meio de todos os outros, ou querer se destacar como o que tem as melhores ideias, as melhores atitudes, a melhor vida em cima da realidade alheia? Talvez seja hora de lembrarmos quem realmente somos, e sermos mais sociedade, e menos espetáculo. Porque felicidade não é aquilo que se pega e joga em público pra que todos vejam que ela existe e dêem atenção a você. O nome disso é carência. Carência de sabermos que estamos todos a um inbox de distância, e ainda assim distantes como estávamos há uns 300 anos atrás.

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