sábado, 9 de agosto de 2014

Reconciliação



Logo pela manhã, após acordar, deu de cara com aquela figura descabelada no banheiro. Pálida, com um rosto e corpo magros, embora ainda jovens. Arrumou-se, e enquanto isso via aquela sombra esguia, meio sem graça, mas com um quê de charme discreto, movimentos leves e espontâneos. Perdeu um pouco de tempo a mirá-la, aquela forma humana que lhe acompanhava onde quer que fosse.
Saiu de casa, e foi ao trabalho. Lá se esqueceu de tudo. Concentrado, atendendo a ligações, executando tarefas, não havia tempo para nada. Foi almoçar, e novamente estava ela lá, presença constante, embora silenciosa por toda a manhã. Deixou-se admirá-la por alguns segundos, mas logo a chegada de um colega de trabaho tirou-lhe novamente o foco.
Mais tarde, continuou sua rotina de tarefas, até que o expediente findou-se. Saiu e, por sugestão de sua companheira inabalável, foi até a beirada da praia. Mas não parou por lá. Seguiu adiante, subindo o morro da cidade, que ficava de frente para o mar. A pedido dela, que gostava de espaço e vistas distantes, como a linha do horizonte na qual se esconde o sol.
Chegou lá, e desligou o carro. Sentiu um leve arrepio por conta da brisa do fim da tarde, enquanto os raios de sol lambiam tranquilos a sua pele. O som da água quebrando nas rochas lá embaixo era relaxante. Respirou fundo e, fechando os olhos, encontrou-a novamente. Estava ela lá, regozijando profundamente aquele momento. Sua presença, sentiu sua própria luz brilhar mais forte naquele momento. Abrindo mão de todos os problemas que tinha consigo mesmo e abraçou sua consciência, numa reconciliação natural, enquanto a paz o enchia por completo. Tomando a si mesmo nos braços, percebeu, naquele momento único sob o canto das gaivotas distantes, o quanto se amava. Então sua consciência e sua percepção de si mesmo, não mais uma voz estranha e agressiva em sua mente, voltou a ser uma só com seu espírito. O sol se despediu e terminou de se esconder no mar, findando mais um dia, enquanto as luzes da cidade começaram a se acender, e seus olhos continuavam contemplando o horizonte.

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