Crescemos ouvindo que devemos batalhar e seguir em frente. Em todas as intempéries da vida, confiar naquilo que temos fé e não se deixar abalar. Somos ensinados que cada desafio deve ser encarado como uma meta, uma história de triunfo para ser contada posteriormente. Seja sozinhos ou seja em conjunto, vivemos de objetivo em objetivo, sejam aqueles que escolhemos para nós, sejam eles os que o destino nos traz.
E com isso o tempo passa. Deixamos a primavera da juventude, e antes de percebermos estamos sob um sol em ápice de verão. Mais experientes, mais calejados, talvez até um pouco mais sábios. Os olhos agora já um pouco levemente cansados das luzes das cidades e dos ventos das florestas lacrimejam de tempos em tempos. Mas ainda assim, sabemos que todo dia é ao mesmo tempo um presente e um desafio. Já tivemos nossas vitórias, e também nossas derrotas. Nossas despedidas e nossos recomeços.
O curioso é que nesse ponto também aprendemos uma verdade escondida em tudo que nos foi ensinado sobre superação. Não são apenas os desafios que derrotamos que ficam para trás. Aos poucos, vemos também aqueles que amamos ficando ao longo da es
trada. Quando nos ensinaram sobre a glória da superação, o triunfo sobre os inimigos, não é mencionado a brevidade daqueles que escolhemos para serem nossos companheiros de jornada.
Como lidar com a magnitude de uma existência compartilhada quando ela se transforma em memória? Quando lugares visitados só podem te ligar através do túnel turbulento do tempo e do espelho turvo das memórias? O que fazer quando o coração lembra mais que a mente? Se o laço invisível da amizade ainda nos puxa fazendo a cabeça olhar para trás, só para conferir se aquela pessoa realmente não vai surgir de novo na última curva da vida que fizemos?
Sim, seria mais fácil esquecer e deixar tudo desaparecer nas mãos implacáveis do tempo. Mas deixar isso acontecer também abrir mão de parte de si. De parte da própria história. Com isso, uma ideia surge na mente. Simples, mas poderosa e de certa forma extremamente lógica. Resignada, mas sem ser conformista. Porque assim como os aprendizados das batalhas que vencemos precisam permanecer conosco, também o precisam as vivências cheias de amor e alegria, mesmo quando elas se misturam ao amargo da saudade. Talvez seja esse um possível caminho. Entender que, em parte, a vida é isso. Que ser um sobrevivente da própria história não se trata de apenas sobreviver ao que precisamos ou queremos deixar para trás. Mas que também nos transforma em sobreviventes dos que amamos, e as cicatrizes curadas no coração será o que levaremos deles até o fim dos nossos dias.
