domingo, 3 de fevereiro de 2013

Contos de uma existência: Cisão


"But I'm lost, crushed, cold and confused
With no guiding light left inside..."


Uma batida que começa. O que era um de repente se faz dois, duas partes quebradas, que se estranham, não se reconhecem. Uma delas, que quis sua própria vida, sua própria continuidade. Sem mais cuidado, união, sequer amizade.
Para a outra, que ainda busca o retorno ao primeiro momento, a vida se torna um tatear no escuro, em busca dos próprios pedaços que jazem perdidos no chão, enquanto milhares de sentimentos pululam na mente que trabalha arduamente junto ao coração para buscar uma saída, um caminho de encontro à luz, que se afasta cada vez mais seguindo seus próprios rumos incertos.
Assim começa a escuridão. Pois não se pode fazer luz e calor, sem fogo e lenha. Um ritmo de tom forte incendeia a alma, que agora busca apenas uma explicação. E a sensação de abandono, de perda, de uma pequena revolta que começa a crescer. É inevitável. Começa o desfile de imagens perturbadoras da felicidade anterior, não sobrando muito mais do que um gélido e triste pedaço de alma, a tentar preservar a própria humanidade em meio aos ventos gélidos que a circundam.
Não há vida sem luz, e o teatro da vida ganha um lugar vazio no palco da existência. Um vazio que consome tudo em volta, como um buraco negro feroz a devorar a estrela mais amada que existia dentro da alma que agora jaz ferida, a conferir o próprio e ouvir os próprios passos, para verificar que ainda possui vida.
E, enquanto isso, a luz que ela busca já se encontra a mil mundos de distância, passeando por paragens incertas, acreditando que seu próprio brilho é a razão de sua felicidade. 
Tudo está pronto então, para o próximo ato, no qual a alma humana é levada aos extremos limites de uma sinfonia exemplar, na qual sentimento é apenas uma palavra sem forma, mas que habita em todo lugar.


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