domingo, 16 de março de 2014

Eterno



Cliques contínuos marcavam o silêncio. Nada mais fazia barulho, exceto o sussurro baixo da respiração, e o vento forte do lado de fora, como que querendo forçar a janela a acabar com a tranquilidade momentânea. Olhos fechados, enquanto a mente divagava além. Mente sonolenta, enquanto aquelas mãos passavam por seus cabelos, dando-lhe a tranquilidade de uma tarde em companhia.
Embora o relógio andasse, ela não dava atenção a isso. Já não havia mais manhã, tarde ou noite, sequer início ou fim. Só havia aquele momento, aquele exato instante, em que nada mais parecia ter relevância. Aquele sorriso de lado, maroto, quase que infantil, de uma criança que sabe que está fazendo traquinagens, e não tem medo nenhum de que os pais cheguem. 
Sem palavras, apenas olhares. Mentes que já falavam seu próprio idioma, e criavam seu próprio universo de possibilidades, enquanto o relógio insistia em tiquetaquear os segundos que corriam para serem apenas memória no futuro. Mas pouco importava, ele que rodasse o quanto quisesse. Era só uma voz chata e monótona, a clamar a mesma ladainha com a qual ninguém se importava.
Naquela tarde boba, sem grandes acontecimentos, ela aprendeu algo novo. Em meio às poucas palavras trocadas, mas cheias de significado, ela viu que em momento nenhum o tempo importava. Pouco importavam seus problemas, pensamentos duvidosos, a única coisa que havia era a certeza daquele momento. Do quanto ela se sentia bem, em paz, sendo honesta consigo mesma. Aquilo, com todas as suas pequenas conjunturas, era para muito mais além. Algo que não cabia na mera definição de momento e, por mais que tivesse a sua própria duração, era impossível de ser medida em horas. Se estendia continuamente, para dentro do infinito de revoluções que causara em seu espírito, perpetuando-se como propagação de ondas de calma e tranquilidade que por fim eram o que ela precisava para sarar aquelas feridas anteriores, que ela nem julgava ser capaz de serem curadas. Eterno é muito mais que para sempre. O eterno, ela aprendeu, pode e deve ser feito agora.

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