sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Portas abertas



Risadas compartilhadas. Noite sem fim confabulando planos mirabolantes para o futuro. Videogame. Coreografias ensaiadas de dança. Cotidiano com pequenos atritos, detalhes da exposição diária mútua. Olhares trocados que são frases inteiras, e uma certeza apenas: a da ligação que existe ali, intrínseca à própria existência.
Entretanto, os anos passam, e a vida muda. Cabelos perdem a cor, rugas que surgem, alguns pequenos estalos na coluna ao se levantar. Compromissos, trabalho, responsabilidades. Tudo isso surge como um muro, que aos poucos vai se erguendo nesse mesmo cotidiano, antes tão simplificado em meros devaneios imaginativos.
Os quartos, antes vivos e cheios de mundos paralelos, se tornam recantos de individualidade, e cada um vive em seu próprio novo mundo, até que chega a hora de nadar em águas mais profundas. Seja na mesma casa, ou em outro lar. Outra cidade, outro país. Peças tragicômicas que o destino não cansa de pregar em todos nós.
Percebemos aquela pequena linha de distância se construindo, e nos adaptamos à nova realidade. Tentamos não sermos estranhos uns aos outros, e tentamos manter as mesmas risadas, os mesmos devaneios, aquela pura identidade que constitui o que se construiu juntos. Mas ainda assim, são dias sem se falar, semanas sem se ver, tudo por conta desse giro impresível que é a vida. 
O mais reconfortante, porém, é que, ao haver aquele lampejo de luz que é se encontrar de novo, percebemos que, naquele olhar envelhecido, se esconde a mesma infância perdida de anos agora distantes. Como um toque de mágica, as novas personalidade moldadas pelo tempo que se passou voltam a se abraçar, trazendo em si a vontade única de compartilhar tudo que se passou naquele meio tempo. 
Talvez a vida seja mesmo sobre caminhar e aprender. Sobre saber quando partir, quando enfrentar a estrada e os próprios medos perante os desafios que srugem ao longo do caminho. Encarar noites de chuva e temporais, e aprender a construir nossos próprios abrigos. Porém, nenhum desses momentos, por mais pomposo ou cheio de glória que seja, se compara ao amor contido em uma casa que está ali, de portas e braços abertos para te receber de volta. Pois nossos lares não são feitos de tijolos e pedras. Nossos lares são sem lugar e atemporais, porque eles se encontram naqueles que desde nosso nascimento aprendemos a amar. Porque eles têm aquilo que é o mais primordial para um lar: eles são e sempre serão onde realmente nos sentimos pertencer.

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