terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O homem que olhava as estrelas



Vivia solitário, na sua casinha de madeira. Era um senhor pacato, muito quieto, e em seu rosto era visível que tinha uma mente que trabalhava em cada segundo de sua vida.Olhinhos aguçados, saía todos os dias de sua casa pela manhã, e dava uma volta pela pequena cidade. Olhava tudo com muita atenção, como quem quer absorver cada detalhe da vida que se passa em seu redor.
Sempre se detinha em frente à pequena escola, onde via pais e mães a levarem seus pequeninos para os primeiros passos do aprendizado. Ficava horas no parque, onde vez por outra encontrava alguém para conversar.Era uma pessoa agradável, não era um daqueles senhores rabugentos com quem se troca um cumprimento apenas por cordialidade. Era reservado, não se abria muito.
Sempre se detinha, também, nos restaurantes à noite. Observava os casais que se encontravam, e observava longamente o mundo colorido e pululado por estrelas onde eles viviam. Na verdade, era onde sua atenção mais se detinha. Depois, ia pra casa, lentamente no seu caminho solitário. Olhava para cima, e então via as estrelas a colorir o céu. 
Quando não saía, subia até o sótão da sua casa e pegava sua pequena luneta. Apontava na direção do céu e ficava horas observando. A idade já avançada o fazia dormir pouco, e passava noites a fio olhando para a imensidão do céu. As pessoas notavam aquilo, mas nunca diziam nada. Seguiam o rumo de suas vidas, apenas tendo consciência daquele homem que vivia em sua casa a observar o céu. E a única coisa que podiam afirmar com certeza a respeito dele, é que ele era um observador. Não apenas dos céus, mas da vida, do mundo, dos detalhes em seu redor, pois não raramente ele surpreendia por falar em detalhes que poucos notavam.
Havia, entretanto, um pequeno menino que gostava de ficar perto dele no parque. Sempre que se encontravam, eles conversavam por horas. Eram bons amigos, e o senhor gostava daquele pequeno garoto por sua curiosidade por tudo que via em seu redor. Um dia, esse menino, que também já tinha visto o senhor a observar tudo em sua volta, perguntou:
_"Senhor, por que observa tanto o céu?"
Ele, então, com seus olhinhos brilhantes e marejados pelas lágrimas que ele não queria que caíssem, respondeu:
_"Quando a noite é escura demais, aconselho que olhe para o céu. Lá você vai ver que existe muita luz por aí. Mesmo que por perto você veja apenas sombras, e não veja ninguém nas suas vizinhanças. Lá você encontra companhia, quando sente que não tem mais."
Sem entender completamente o menino se calou, e não quis perguntar mais nada. Apenas sentia um profundo carinho por aquele senhor que, mesmo não revelando uma palavra de si mesmo, o fazia sentir como se o compreendesse por completo. E pensando na única forma de demonstrar isso, deu um abraço nele. Daqueles que só quem vive a observar as estrelas sabe como são valiosos. E foi exatamente isso que o senhor sentiu, enquanto umas poucas lágrimas caíam de seus olhos, que agora brilhavam com uma vivacidade que há tempos ele não sentia.


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