sábado, 7 de fevereiro de 2015

Jardins



Já ouvi muita coisa a respeito da vida. Ouvi pessoas alegres dizendo que ela é uma jornada eterna, na qual seremos sempre abençoados com novas chances todos os dias. Já ouvi também outros a dizer que ela não é nada além de um momento efêmero em toda a eternidade. Já vi aqueles que a medem em segundos, e aprendi que ela também pode ser contada em fatos, histórias e memórias. 
Crescemos ver o céu mudar de azul para cinza antes dos dias de chuva. Crescemos olhando com dó para aqueles pobres animais na rua, abandonados e sem dono. Crescemos vendo todos os dias a mesma moça no caixa da farmácia, o mesmo carregador no supermercado, a mesma professora que sempre dá aula apenas para a primeira série...
Até que chega aquele momento em que tudo começa a se transformar e, no meio de toda essa transformação, nos vemos sendo levados a outros lugares, com outras moças no caixa da padaria. E, ainda que no fundo saibamos que naquele novo cotidiano todas as coisas se encaixam como antigamente, quando éramos pequenos e os dias pareciam ter mais que 24 horas, nada é mais igual. 
Aos poucos nos assentamos, e vamos construindo nossas vidas. Uma nova escola, uma nova casa, um novo trabalho... Novos vizinhos, novos amigos, enquanto buscamos manter nossos laços com tudo que conhecemos do passado, e com o que sempre fomos. Ao nos entregarmos para as possibilidades de todas essas mudanças, vemos que, assim como os olhos inocentes de nossos tempos de infância ainda estão vivos e astutos como sempre foram, aquela mesma inocência e capacidade de amar também está ali, dentre tantos contratempos novos de um dia-a-dia diferente.
Mas então vem o destino nos lembrar que, assim como todo nosso passado, os dias de hoje também se tornarão memórias. E, mesmo aqueles que estão morando na casa do lado agora, um dia também se irão. Novos amigos também se tornam velhos, e com aquela tristeza dos que ficam na estação, vemos todos seguirem um novo rumo, talvez até mesmo sem perceber que nós mesmos estamos embarcando em um novo trem.
Nesses momentos, em que ficamos vendo fotos antigas, rindo de piadas passadas e histórias divertidas, percebemos que o real sentido da vida está nos detalhes. Porque a saudade que se tem de alguém vem sempre acompanhada de um quando e um onde. Um contexto especial que já não é mais. Se foi. Percebemos tudo o que vivemos, e também o que não vivemos. E, curiosamente, é isso que desperta novamente também os sonhos que temos, e a visão de onde queremos chegar. Não se trata apenas de despedidas, lágrimas e tristeza sobre tempos que não voltarão mais. Se trata dos jardins floridos que deixamos por aí, ao passar de casa em casa, oferendo as rosas que nossas almas são capazes de criar. E aí, ao voltar para casa, sentimos levemente a brisa cheia de paz dos dias que já se foram. Este, finalmente sentimos, é o perfume das mãos dos jardineiros que deixam rosas pelos quintais deste mundo. Algo sem cor, que mal podemos tocar, mas que, no fundo, nos mantém ligados a tudo aquilo que um dia aprendemos a amar.

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