sábado, 13 de setembro de 2014

Propósito


Há aproximadamente dois mils anos, uma verdadeira revolução teve começo. Não destas dos livros de história, feitas com armas e discursos inflamados. Não destas que erguem algumas pessoas acima das outras, e que juram fazer uma justiça que nunca chega. Esta foi uma revolução que começou dentro das casas, correndo de coração para coração, espalhando-se como a luz de um novo alvorecer. 
Naquele dia fatídico, houve um sinal para todos. Pois, ao contrário do que se dizia sobre merecimento, atitudes abençoadas que condenavam ou não o indivíduo, surgiu a mensagem de que, independente do que se fosse, havia um amor maior no qual cabia isso tudo. No dia em que aqueles braços foram abertos, eles não abraçaram apenas uma parcela eleita: eles abraçaram o mundo inteiro. 
Desde então, em meio aos cantos escuros, ou nas praças públicas, ou dentro dos lares, surgiram aqueles que viram a luz, e se fizeram espelho dela. O que foi mostrado é que, independente de onde se nasceu, do que dizem a seu respeito, ou do que tentam fazer com que se seja, se pode ser mais. Se nasceu para ser mais. 
Então, entregues de alma e coração, continuaram sua jornada. Quase sempre sem entrar para a história, pois ela é feita de conquistadores, que nem sempre são realmente vencedores. E hoje ainda estão por aí, mostrando para aqueles à sua volta um novo motivo para viver. Sem admoestação, sem palavras gritadas de forma agressiva, mas com a calma do exemplo diário, pois as atitudes falam muito mais do que palavras, e alcançam muito mais que os limites até aonde o som pode ir. 
Então, aprendendo a ser menos para plantar mais, se vive dia após dia. Sabendo-se que, apesar de todas as imperfeições que se tem, e de todas as coisas pelas quais o mundo te apedrejaria, há alguém que não se importa com nada disso. Alguém que se fez luz e ao mesmo tempo caminho, alguém que se fez verdade e ao mesmo tempo compreensão. Alguém que entende melhor que todos nós sobre como o mundo pode ser injusto e perverso. 
Então, sem medo e sem vergonha, a porta está aberta. Passar por ela é se entregar de novo todos os dias, avançando um pouquinho a mais, e jamais se esquecendo de levantar também aqueles que se encontra no meio do caminho. Nenhuma vitória é de fato verdadeira quando conquistada sozinho, e nenhum verdadeiro vencedor usa de sua vitória para diminuir a capacidade dos outros. Ele a guarda em seu coração, e permite que ela inspire os que ainda não têm forças para seguir sozinhos. Isso é amar, isso é viver. Questionar-se todos os dias sobre aonde é que se pode chegar, sem deixar de respeitar aquilo que se é. Pois o que sabemos é que somos obras sagradas, daquelas que não foram feitas para serem tratadas como qualquer velharia por aí. Reconhecer no outro a bondade que ele lá dentro possui não é um dom especial, isso deve ser uma atitude constante. Pois se a vida fosse feita para encontrar condenados e jogá-los aos cães, nós mesmos seríamos os primeiros da fila.
Dessa forma, assim como há dois milênios atrás encontramos braços abertos para sermos amados, devemos também tentar manter os nossos braços abertos, sem medo nos expôr aos pregos e lanças com os quais quiserem nos perfurar. Não existe personificação mais perfeita da atitude de amar, que expôr o próprio coração diante daqueles que estão à nossa frente. Alguns podem até querer nos agredir, outros irão distorcer aquilo que dissemos, mas outros, outros irão entender cada palavra, e tornarão elas em vivência, levando ainda mais além aquilo que a nós mesmos deu vida verdadeira. E por estes qualquer sacrifício vale a pena, pois uma vida tirada das sombras é motivo de alegria por toda a eternidade.

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