domingo, 7 de setembro de 2014

Independência

 
Hoje fazem 192 anos que o Brasil se tornou independente de Portugal, caracterizando-se como um Império, não obedecendo mais às ordens da coroa portuguesa. "Independência". O que exatamente essa transformação segnificou e significa para o povo? Afinal de contas, nós cidadãos somos não só a maioria da população, como também aquilo que constitui e caracteriza o país.
A princípio, para o povo, o processo de independência não significou uma tomada de autonomia para si próprio. Ainda havia lá um imperador, a dar as regras de como tudo deveria funcionar. Apesar de todas as mudanças que obviamente se seguiram, e culminaram inclusive na própria Proclamação da República, o povo ainda continuava com uma mesma forma de pensar: havia um poder centralizado em uma pessoa, e esta pessoa deveria prezar pelo bem-estar de todos. E, caso as coisas andassem mal, a culpa seria unicamente do seu trabalho mal-feito.
Essa mentalidade um tanto quanto patriarcal, tendo a figura do chefe de estado como único responsável pela vida de todos, mesmo em 192 anos de nossa existência como território independente, e não mais como colônia, parece não haver saído da mentalidade geral. Com o advento da República do Café com Leite, o Período Vargas, seguido dos períodos populista e militar, não vieram para apagar essa imagem de que o presidente é o salvador ou o algoz da pátria. Ainda hoje se escolhem líderes, sem sequer se lembrar que o país é constituído por várias esferas de poder e, principalmente, que o presidente cuida apenas do Poder Executivo, enquanto que os poderes Legislativo e Judiciário soam como meros coadjuvantes do poder.
No jargão cotidiano de que "política, futebol e religião" não se discutem, acabamos por ver essas três coisas como algo parecido, e então não sabemos separá-las. A escolha e defesa de um candidato é feita com o mesmo caráter meramente passional que de um time de futebol, e a sua defesa é feita com o mesmo ardor e fé com o qual se defende a própria religião. E, ao se tentar debater visões diferentes, saem apenas rótulos vendidos pelas esquinas, palavrões de estádios de futebol, e o outro é visto com os mesmos olhos que se olha a um condenado ao inferno. E, por fim, quando as coisas vão mal, o dito salvador é rebaixado à segunda divisão da opinião pública, e "deposto", como que a um imperador que não cumpriu seu trabalho. Surge então um novo "messias" salvador, no qual se deposita toda a fé, num ciclo de ascenção e queda, enquanto a responsabilidade pela vida no país é terceirizada, pois assim é mais fácil se encarar à noite no espelho de casa: "Estou cercado por idiotas."
Acredito que hoje, apesar de ser sim uma data importante para o país, para o povo em geral ainda é apenas uma comemoração simbólica. Enquanto o presidente for visto com os mesmos olhos que se olha a um rei, viveremos no país da "República dos Pais e Mães da Nação", no qual a época eleitoral se resume a promessas tão vazias que ultrapassam os limites da infantilização do cidadão. Enquanto o indivíduo se considerar uma mera vítima do sistema, e jogar a responsabilidade de tudo nas mãos dos outros, bem como a culpa por tudo que acontece, não poderemos verdadeiramente comemorar o dia da independência. Mudar o nome de colono para cidadão é fácil, o desafio mesmo é pensar e agir todos os dias como um.

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