segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Sob a superfície

 
Fechando a porta, dobrando a esquina
A cada passo, uma floresta escondida
Gotas de água da chuva
Que sem parar molham máscaras de vida

Enquanto alguns seres caídos à margem da rua
Se juntam aos restos para sobreviver
E são ignorados por sua natureza
Maltratados por um insensível destino 
Que lhes deu nada mais que a incerteza

Em redor nas ruas em calamidade
Carros passam por toda a cidade
Vidros escuros, sem ver se fecham à tão saudável claridade
E no fundo a verdade é que mesmo tendo nascido ali
De um lugar pra chamar de lar todos eles sentem saudade

Em bares sentados
Ou nos boeiros jogados
Em chiques clubes festivos
Ou por policiais perseguidos

São os mesmos olhos
E dentro deles o mesmo mar
Que esconde nessa falsa fúria
Um interminável desejo
De que um dia em praias belas possam vir a se encontrar

E por mais que tentemos disfarçar
A todo custo a verdade a nós mesmos queiramos negar
Somos como notas musicais
Que um pianista solta em teclas angelicais

Entregar-se é ser levado pela harmonia
É perder-se em meio aos infinitos outros tons
Descobrindo que ali é que começa mesmo a vida
Encontrando a luz que no fundo nos habilita a sermos todos bons

Algo além do endurecido olhar do racional
Que entra pela pele ressoando e vibrando em tal intensidade
Muito além do que sabíamos ser capazes de sentir
Sem mais medo de nos entregar
Sem mais medo de se deixar encontrar
Pois a vida pode ser mesmo mais leve
Como o toque suave de mil flocos de neve

E ao se olhar para o lado
Não se verá mais um outro a quem ajudar
E sim um espelho divino
Cuja própria imagem se faz humana
Para que nós mesmos aos céus um dia possamos nos elevar

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