quinta-feira, 26 de março de 2015

Portas abertas



Aquela reta de luz que se destaca na parede escura. Se junta a outra, e mais outra, formando um retângulo de esperança em meio à mesmice dos tijolos gastos. E a meia altura, está ela, metálica, com sua forma redonda a se destacar em alto relevo do plano contínuo vertical. 
Chegamos perto, meio desconfiados. Não sabemos se devemos tocá-la ou não. Nos perguntamos o que deve haver do outro lado, e a imaginação toma conta do trabaho de criar as mil possibilidades. Vemos sonhos e pesadelos num flash de pensamento, enquanto outros transeuntes pelo corredor inventam também suas teorias e confabulam sobre a insanidade de abrir o desconhecido. 
Enquanto estamos a bolar mil conjecturas, mal percebemos que estamos apenas parados. Sem saber o que há atrás daquela fenda, e sem seguir adiante no corredor da vida na qual nos encontramos. Pessoas chegam, dão suas opiniões e passam, e nos deixam no mesmo lugar que estávamos antes. 
Até que, munidos de uma coragem repentina, estendemos o braço, para espanto daqueles que observam, e puxamos a maçaneta. Primeiro, um tanto quanto cegos pela luz que inunda o nosso redor, vamos nos acostumando à nova visão, aos novos ares, aos novos horizontes. E então, quando conseguimos contemplar além, e damos o primeiro passo porta adentro, encontramos, para nossa surpresa, outro corredor, com suas próprias novas portas, pelas quais também teremos de atravessar. Apesar de parecer simples, o que não percebemos é que, a cada porta que abrimos, e a cada vez que precisamos nos adaptar ao novo corredor adentrado, nós mudamos. Nosso olhar muda, nossa mente muda e, por fim, o nosso espírito muda. E aí percebemos que boa parte da vida é isso: aprender a não temer o que ainda não temos por certo, e confiar que cada passo que damos seguindo a luz que nos guia nos levará a destinos ainda melhores que aqueles que já alcançamos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário