domingo, 1 de novembro de 2015

Amanhã



Existem ao longo da vida inúmeros desafios aos quais vamos sendo expostos. Problemas pessoais, de ordem social, econômica, amorosa... Tudo envolto por situações problemáticas nas quais nos envolvemos, ou até mesmo as criamos sem perceber, e então passamos a desejar ardentemente pelo seu fim.
Buscamos ajuda, e muita vezes a encontramos. Em outras, porém, caímos em armadilhas atraentes oferecidas por promessas de auto-ajuda, nas quais somos naturalmente fadados a encontrar o sucesso, em algum dia amanhã. E é exatamente nessa promessa do amanhã melhor que mora um dos nossos maiores perigos: a conformidade. 
Esperança é um dos sentimentos mais puros e nobres que podemos sentir, mas quando ela é irracional, vivemos suspirando frases belas e bem-construídas de que tudo será provido, e de que basta apenas continuar agindo como se tem agido, para que tudo melhore. E assim os dias vão passando, e não percebemos que, justamente por nossa persistência em continuarmos iguais, os problemas não acabam. 
Caímos por fim num círculo vicioso, no qual passamos dias a fio esperando pela alegria do amanhã, sem perceber que todo novo dia que se torna o hoje, ainda estamos tristes. Tristes com a vida, com aqueles que amamos, com nós mesmos... Nossa fé e visão estão tão focadas numa possibilidade futura de alegria plena, que perdemos a noção de que felicidade não é uma recompensa ou destino final, mas sim o aprendizado de amar aquilo que se tem, onde se está e com quem se está. E isso faz com que, todos os dias quando o sol nasce, vejamos apenas a sombra eclipsando a luz que chega, sem perceber que ela na verdade é apenas a projeção pesada e imóvel dos nossos próprios pensamentos.
Seja no pântano ou na praia, há luz do sol que chega lá. Seja no sucesso ou no fracasso, há sempre um trecho a mais de caminho para percorrer. Talvez pudéssemos ser muito mais felizes, e alcançar muito mais obras gratificantes, se focássemos menos em anunciar para nós mesmos e o mundo nossas esperanças vindouras, e gastássemos esse tempo na mudança. Mudança de vida, de caráter, de hábitos. Porque somente com a construção e descontrução diária daquilo que somos, abrindo nossos corações para serem moldados pelas mãos do destino e da vida, é que começaremos a abrir os ouvidos do nosso espírito para saber se estamos no rumo certo, e encontrar a tão desejada alegria no coração. Nem amanhã nem depois, porque se deixamos tudo isso para o futuro, não é de se surpreender que o presente seja tão amargo e doloroso de se lidar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário