segunda-feira, 12 de março de 2012

Abrasador



Acordar e ver que o sonho acabou. Que jamais aconteceu, e que o que parecia palpável não passava de mero desejo agradável. Perceber que tudo não passou de uma viagem, um devaneio que jamais alcançou a dimensão da realidade. É, encarar algumas coisas não é fácil, principalmente quando elas são as que mais queremos, e nunca puderam ser ditas como reais.

O choque é doloroso. É impensável, é inacreditável. Olhamos atordoados, e é impossível deter as lágrimas. Elas brotam como a nascente de um rio caudaloso, manifestando toda a calamidade que se encontra em nosso ser. E tudo parece ser uma tempestade de ventos fortes que lança todo tipo de detritos ao nosso encontro, e na qual podemos ouvimos o zombar de mil vozes a caçoarem de tudo aquilo que sofremos. Caçoam de tudo aquilo que achamos que existia, e nos chamam de tolos, por fantasiar contos de fadas no duro e áspero horizonte que é a vida. 

E ali permanecemos, pensando em tudo que não passou. Em tudo que foi nada mais que uma promessa de primavera no fim de outono, mas jamais poderemos pular o cortante frio do inverno. Doce ilusão da felicidade, que é lavada de nosso ser pelas frias águas da chuva torrencial que se abate sobre nosso frágil templo chamado espírito.

E ali permanecemos calados, movidos apenas pela certeza de que continuamos existindo. Tal é o ardor da dor, da revolta, da confusão, que num último lamento de dor, soltamos o derradeiro grito da inconformidade. E naquele momento, vemos que as gotas de água abrasam nossos sonhos, lamentos e decepções. Porque naquele momento deixamos apenas que tudo seja queimado e se transforme em cinzas, assistindo o fogo consumir os nossos mais desejados sonhos, enquanto começamos a deixar crescer a ideia de que nunca aquilo nos pertenceu.



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