domingo, 1 de junho de 2014

Inacabado



Tela sem pintura
Traços em preto e branco
Caderno com folhas vazias
Palavras que na mente jazem esquecidas

Sonho do qual se acorda na metade
Banho de água fria
De uma dura realidade
Tecido de lã com pontos sem nós
Que sozinhos se desfazem
Como um rio no oceano, ao chegar em sua foz

Encravado no meio do mar
Lá jaz o barco que antes estava a navegar
Pensamentos que se perdem sem se pronunciar
Cavalo selvagem ao qual
Já não é mais permitido cavalgar

Rabisco no final da frase
De uma palavra importante interrompida
Queda de luz no meio do filme
Desânimo em caminhar até onde ainda não estive

Livro pela metade guardado na estante
Caravana covarde
Que decide não seguir adiante
Braços cruzados a admirar
Casas belas que por ócio vêm a desmoronar

Hitória de avó interrompida
E cujo desfecho para sempre se perdeu
Mapa do tesouro queimado no fogo
Páginas de um diário que o tempo apodeceu

Como a partitura de uma música que não irá mais se finalizar
Notas soltas, sem fim,  que chegam ao ouvinte
E lhe permitem o resto apenas imaginar
Incômodo encravado no fundo do ser
Força atrativa para dois extremos
Que um inteiro só poderiam se fazer

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