sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Ervas daninhas


Eles estão lá. Em seus lugares, em seus trajetos. São formas distintas no meio dos relevos pelos quais transitamos, e que muitas vezes por repulsa infundada queremos evitar. Criamos desculpas, mentimos pra nós mesmos, e fazemos de conta de que nenhum deles é digno de nossa presença.
Mas um dia, um dia apenas sequer, no qual abrimos o coração para ouvir e entender, sermos pacientes permitindo que nossos olhos vejam além da superfície espinhosa, veremos vasos de vida que levam pulso de verde por dentre aqueles seres. Veremos que aquela luz que tanto procuramos, que nos dá razão para existir e sermos felizes, está bem ali, tão perto, mas tão longe quando ignoramos a natureza bela da própria imperfeição humana. 
Muitas pedras são atiradas antes de sair uma bandeira de paz. Muitas vezes, tantas pedras já foram atiradas contra aquelas paredes hoje insensíveis, que é isso exatamente que as fez se tornarem assim. E portanto, são a única coisa que conhecem. Suas vidas foram simplesmente barro e rocha, enchente e seca, flechas ou fogo ardente. Não tiveram a chance de conhecer sequer a si mesmas, pois ouviram tanto sobre o que deviam ser, que ao olhar no espelho vêem apenas metas, normas quebradas e porções de decepção regadas por noites chorosas odiando a si mesmos.
E nesse mar de plantas urtiguentas, que aos olhos incautos só sabem exalar nada além de venenos e espinhos, vamos nos arranhando. Algumas vezes chega a doer estar em contato com elas, mas vamos ficando mais fortes, e aprendemos que ao nos machucarem, elas se machucam também. Ao querer tirá-las de perto, quebramos suas bases, as jogamos abaixo, desterrando no chão.
Mas estando quietos, fechando os olhos por um momento para aquilo que nos desagrada ver, e buscando chegar àquele caule verde de vida que sabemos estar ali dentro, pouco a pouco vamos ajudando-as a livrarem-se de suas folhas velhas, rotas, cujo peso puxa para o chão. Abrimos uma clareira amiga para ambos, onde podemos nos deslocar, e elas podem crescer. São palavras amigas no começo do dia, um diálogo onde elas podem deixar suas angústias vazarem de seus corações sobrecarregados. Nâo é preciso ser um super-herói para entrar nos prédios em chamas nos quais os outros vivem, ou chegar a uma estação de metrô onde alguém pode estar olhando para o trem não como o começo da próxima viagem, mas sim como o fim de toda esta a que está preso agora.
Regando dia após dia essas tão odiadas ervas daninhas, essas sarças queimadas pelo sol escaldante de tantos meio-dias, podemos até não poder nos servir de seus frutos quando eles estiverem maduros. Talvez o que precisemos aprender nesta vida é exatamente isso. Que nem todo nosso trabalho tem de resultar em ganha-pão no final do dia, que nem todo fruto é ruim apenas porque não serve a nós mesmos, e que estamos longe de saber quais destas ervas ditas daninhas realmente o são. Muitas vezes elas são apenas um amigo que precisa ouvir um "não está mesmo tudo bem, mas vou estar contigo até que fique". Nessas horas de paz que flui para onde ela se ausentou, é que cumprimos nossa tarefa mais sublime possível nessa existência: salvar vidas. E se em algum momento chegamos a ter um vislumbre do que pudemos fazer, toda aquela coceira e repulsa de antes se tornará apenas uma motivação e indicativo de que na verdade, finalmente tomamos o caminho certo.

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