segunda-feira, 27 de abril de 2015

Eterno enquanto durar



Passava pela rua. Distraído, a olhar seu celular. Olhava anúncios avulsos, buscando algo que pudesse o satisfazer. Escorregando os dedos para lá e para cá, ia escolhendo o que poderia querer, e o que não tinha interesse. Até que, em um dado momento, acerta num dado alvo. Interessante, instigante... "É, pode ser que seja legal", pensou.
Então, sem pensar duas vezes, compra aquela ideia, e já faz planos entusiastas. Aquela ideia do novo toma conta de sua mente, e até mesmo seu corpo responde aos estímulos do prazer de consumir algo que não antes conhecia. Produto novo no seu mercado, era preciso experimentar aquela nova mercadoria revolucionária.
O tempo passa, enquanto o entusiasmo só cresce. Até o momento esperado chega, e seu pedido está à porta. Hora de abrir a embalagem, ver o que há de novo ali dentro, enquanto se delicia com o prazer do consumismo aplicado a outras vertentes. Aquela mesma sensação de pegar um livro recém-comprado, com cheiro de páginas novas, sem marcas, sem manchas, sem nada.
Mas, a despeito das promessas das propagandas diárias, não há nada de extraordinário ali. Não para olhos tão superficiais, imediatistas, ávidos de algo que nem sabe o que é. E o tédio em ver aquela mesma imagem vem tão rápido como um motorista que avança um semáforo na rua. O cuidado anterior dá lugar ao mero desprezo e, tão fácil como veio a euforia, toma lugar a impaciência e, obviamente, a procura por mais um produto novo. Uma promessa que não seja falsa, que não seja embalagem, enquanto não percebe que ele mesmo já se tornou rótulo e código de barras. Então, no último estágio, numa decisão tão simples e fácil, descarta mais um objeto inútil, sem uso. O interesse acabou, e o ego não existe para perder tempo com algo que não o satisfaça. E assim, novamente nas mesmas ruas, volta à sua caçada inicial, num ciclo interminável que gera apenas destroços descartados por aí, que ficam a juntar seus próprios pedaços, enquanto buscam alguém que veja neles algo mais que mera utilidade transitória.

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