sábado, 6 de agosto de 2011

Quietude

"E aconteceu que, acabando Jesus de falar, a multidão se admirou da sua doutrina;
Porque os ensinava como tendo autoridade; e não como os escribas."
Mateus

O alcance da palavra é reflexo da maneira como a semeamos. Ela não deve ser jogada de qualquer modo, em solo infértil, ou sem o devido preparo, para que frutifique. Da mesma forma, deve receber todo o cuidado possível até que germine e possa crescer por si só. Do contrário, é tempo perdido, obra não consumada, vida não modificada.

Hoje vemos uma necessidade extrema de fenômenos, mudanças instantâneas, tudo palpável e perceptível aos nossos grosseiros sentidos. Porque essa é a base de nossa fé. Ela está no que podemos sentir. E, sem isso, não há verdade em nada que é dito, feito ou vivido. Somos a geração das sensações, sejam elas quais forem. Tudo deve ser vivido ao extremo, inclusive a presença de Deus. Ao contrário do que muitas vezes acreditamos, Deus não precisa ser invocado. Ele jamais se aparta de nenhum lugar. O que acontece é que nós é quem não queremos lhes dar ouvidos.

Onipresente, onisciente. Ele sabe de tudo, está em todo lugar, e nós é quem precisamos ver isso. Porque a todo momento Ele tenta nos alcançar, nos modificar, e nos levar para adiante. A proximidade que necessitamos estar Dele não é física, e sim espiritual. Mais que à Sua imagem, nós devemos nos tornar à Sua semelhança. Isso é um exercício diário, uma vida a ser dedicada no trabalho de construir algo melhor dentro de cada um de nós e, também, daqueles que estão perto de nós.

Desejar que isso aconteça de um hora para outra pode nos levar ao fatal erro de crer que tudo que estamos fazendo é correto, impassível de erro, guiado por Deus. Porque quando fazemos isso, imperceptivelmente estamos apenas criando uma nova maneira de sermos guiados pelo nosso próprio ego. Viver a palavra de Deus é trabalho árduo, que envolve muita abnegação, inclusive de nossas ideias pequenas e carregadas de nosso próprio orgulho, qual erva daninha a sufocar as videiras que surgem dentro de nossos corações.

Alcançar vidas não é tarefa fácil. Nem se faz isso à força. Apenas com a paciência, o amor e a sabedoria que Deus nos dá é possível vencer um coração envolto em uma máscara de pedra. Qualquer outro tipo de atitude pode acabar se revelando um atentado violento àquele indivíduo que se está a buscar. Cada um tem seu próprio tempo, e é necessário respeitá-lo. Este é o ensinamento de Jesus, que fôssemos pacientes, e tivéssemos mais amor uns com os outros.

Nenhuma conquista verdadeira se dá de forma fácil. E conseguir chegar ao coração de um irmão não é tarefa simples. É preciso entender, respeitar e, ao mesmo tempo iluminar as trevas que possam existir dentro daquela pessoa. Isso sem agredi-la, dando o devido tempo para que ela possa assimilar o que estamos querendo fazê-la ver.

Paciência? Bom, quando ela faltar, pode ser que ajude saber que há mais de 2000 anos existe alguém que pacientemente espera que entendamos as simples palavras que Ele disse. Não é muito esforço que tentemos esperar um pouco mais para que alguém que está preso em redes de escuridão possa se libertar. É apenas um favor que fazemos a nós mesmos. Porque nesse meio tempo, aprendemos muito mais do que teríamos conseguido sozinhos.

E essa é a perfeição dos planos de Deus.

Assim, quando houver aquela tremenda vontade de gritar, e dizer "umas poucas e boas", lembre-se que a quietude é a voz que soa mais alto, sem cansar o dono da mesma. Permanece viva, ecoa no interior dos corações, gera a dúvida que leva ao questionamento do porquê e, por fim, à verdade. E, quando algo é verdadeiro, não é necessário que haja exaltação.

Porque a verdade é quem exaltará aqueles que nela viverem com sinceridade...

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