domingo, 21 de agosto de 2011

Telescópio


 Em 1609, Galileu Galilei aperfeiçoava a luneta de Hanz Lipperhey, holandês que deu o primeiro passo para a exploração dos céus com instrumentos mais sofisticados. Mais que um avanço tecnológico, modificou a forma de ver o mundo, o Universo, e nossa própria condição como habitantes deste infinito que abriga todas as coisas que existem.

Ao apresentar sua nova invenção aos religiosos da época, Galileu vivenciou uma experiência extremamente interessante. Apegados às próprias verdades e dogmas, estas pessoas se recusaram a acreditar em Galileu, recusando-se inclusive a olhar pelo telescópio, para que não se confrontassem com a inegável verdade que se revelaria diante de seus olhos. Para não serem obrigados a rever suas ideias, crenças e dogmas, simplesmente condenaram a obra daqule homem, que teve, posteriormente, que retratar-se e viver sob prisão domiciliar. Hoje podemos ver o grande erro cometido naquela época, e como este erro foi grave, podendo eliminar as ideias de um dos maiores estudiosos da história.

A questão é que muitas pessoas daquela época concordavam que Galileu estava errado. Já havia dogmas instituídos, e qualquer ideia que fosse contra aquele sistema, era imediatamente eliminada. Pensamos que isto é errado, que estas pessoas eram atrasadas, e que precisavam ver coisas novas no mundo. Mas nós mesmos não agimos desta maneira?

Muitas vezes não aceitamos o que é a verdadeira realidade, nos recusando a ouvir quem fala, ver o que se desdobra diante de nossos olhos, e tocar as novas paredes que se erguem no lugar daquelas que se desfazem em ruínas de ideais demolidos. Pior que não saber é não querer ver, e persistir em um lugar quando se sabe que há a estrada inteira à frente.

Muitas vezes, consideramos que temos 100% de razão, e não aceitamos qualquer discussão daquilo que acreditamos ser certo. Isso é colocar-se no pretencioso lugar de dono da verdade, do qual estamos bem longe. 

E não só com relação ao que outras pessoas nos dizem, muitas vezes negligenciamos até mesmo nossas próprias realidades, sejam elas pertencentes ao mundo que nos rodeia, ou ao nosso próprio mundo interior. Por não aceitar que aquilo seja real, nos fechamos no cofre seguro da intolerância, para esquecer que existe, deixando os fantasmas presos lá dentro, até que eles escapem, atemorizando o nosso presente, por não termos lidado com eles no passado.

Não só o que existe dentro de nós, mas também o que há no mundo em nosso redor, nós precisamos aceitar as realidades que nos cercam. Não há como haver mudança quando não acredita que ela se faz necessária. Para agir e interagir com o meio, as pessoas ao redor, é preciso aceitar como elas são, aceitar como as coisas ocorrem e, então, agir em cima do que existe de fato.

Porque enquanto quisermos apenas enfrentar máscaras, que criarmos ou forem criadas para nós, não mudaremos nada. Todos os nossos esforços se esvairão em colunas de fumaça, enquanto o que inventamos queima no fogo da verdade, verdade esta que nos atingirá implacável um dia, quer queiramos ou não.

Assim, não cometamos o erro, o grande erro de não olhar pelo telescópio. Porque senão vamos deixar de ver o maravilhoso mundo que existe lá fora, e perderemos a noção do nosso verdadeiro lugar dentro desse grande universo que nos envolve. Este universo que é a nossa casa, o coração de quem nos ama, e sobretudo as grandes profundezas dos nossos corações...


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